Se vivo a vida conforme a entendo, sem ligar ao que os outros pensam ou dizem? Claro que sim!
A resposta é rápida, fica bem por ser convencional, mas é mentirosa. Na verdade, dia a dia, a minha vida é maltratada. Imponho-lhe orientações concordatas com o senso comum. Ainda que a resposta verdadeira seja: Claro que não! A minha vida é condicionada por tudo e por todos, limito-me à resposta convencional e, outra que não esta, só é possível se complementada com uma explicação que convença de que não sou uma Maria-vai-com-as-outras. Levanto-lhe barreiras. Barreiras que me impedem de atravessar zonas desconhecidas, protegendo-me do medo de viver novas experiências. Crio-lhe expetativas. Expetativas que me angustiam se são defraudadas, ou exaltando-me se são superadas. E os maus tratos continuam com medos e receios, falta de vontade ou má vontade, e tantos e muitos outros males.
Sonhar é dar à minha vida a qualidade que lhe vou roubando.
Se o que tenho não é suficiente, ou não é bom, construo em sonhos um fato à medida das minhas necessidades. Nunca nos meus sonhos me faltou a coragem para dizer o que realmente quero e penso. Nunca aí deixei de ser ambiciosa, desmesuradamente ambiciosa. Paro no ponto em que a imaginação já não alcança mais, mas, ainda assim, muito para lá do que me permito na realidade. Em sonhos, vivo em liberdade, a minha liberdade, que acolho sem condicionalismos e com carinho.
O sonho funciona como um mediador que me ajuda a viver calma e tranquilamente, tranquilidade de quem sabe que tudo é possível nem que mais não seja, em sonhos.
Cidália Carvalho