Quando pensamos na distância logo vem à mente o espaço físico, às vezes um mar que separa, uma terra que atravessa o caminho e nos afasta.
Lembramos de muitos que por nossa vida passaram e a distância, amiga do tempo, os levou embora.
Se penso do que estou longe, logo penso no mar. O cheiro do mar, a temperatura da água, os amigos na areia.
Infelizmente não estou só longe do mar. Com o tempo descobri que decisões na minha vida me afastaram de quem eu sou. Estou longe sim, mas de mim mesma, do que um dia pensei que seria, do que um dia quis para mim.
Me afastei dos meus sonhos porque era a única maneira de continuar viva. Ignorei aqueles conselhos que são jogados em nossa vida, que ao abandonar os sonhos o que realmente fazemos é nos abandonar.
Sonhos têm uma distância e às vezes é intolerável estar tão longe deles. Parecem guardados em uma montanha, tão distante que a caminhada para chegar a eles parece impossível.
Fácil é estar longe do mar. Difícil é estar tão longe de mim. Sem saber, ao renunciar ao que mais amava me perdi no meio do caminho, transformando minha trilha em uma passagem confusa e diferente.
Alguém me diz, tudo tem seus motivos, um dia você vai saber. Mas os dias passam e esse motivo não aparece, pelo contrário, a distância só aumenta.
Do tempo podemos estar longe, das paisagens também. Até de um grande amor nosso coração aguenta a separação. Mas quando sem perceber nos afastamos de nós mesmos abrimos um abismo aos nossos pés. A distância tem um frio no ar, apesar do sol que queima.
Estar longe de si mesmo é como morrer lentamente. É melhor tentar correr e acabar com essa distância, se reencontrar e ter de volta os sonhos.
De tantas coisas podemos estar longe! Mas ao soltar nossa própria mão da corda que nos liga ao coração, o chão se abre.
Ao me distanciar de mim, me afastei do mundo e ele de mim. A única ponte que posso construir está em alguma parte de minha alma. Mas ainda não achei.
Iara De Dupont (articulista convidada)