Portugal, após o período de crescimento e desenvolvimento económico e social, que poderá balizar-se como tendo tido início na data de adesão à CEE (denominação da época), em 1986, e que terá culminado no período que mediou entre a realização da Expo 98 e a organização do Euro de futebol em 2004, entrou em estagnação e, de há um par de anos a esta parte, está em estagnação.
É humano, por ser agradável, que os portugueses rapidamente se tivessem habituado a ter casa e com níveis de conforto acrescidos, automóvel de cilindrada cada vez maior, férias muitas vezes no estrangeiro. Se e quando o dinheiro não era suficiente, havia crédito. Fácil e barato.
Alguém (quase todos?) se foi esquecendo de produzir, pelo menos para equivaler este nível de consumo de “primeiro mundo”.
A certa altura uma ou outra voz, mais ou menos isolada, foi preconizando que em Portugal se estava a viver acima das possibilidades. Não, não era connosco, com cada um de nós, quanto muito seria com algum vizinho, vagamente conhecido.
Do estado de negação Portugal teve que assumir a realidade, não nos aguentávamos sozinhos no barco; precisávamos de pedir ajuda às instituições europeias e mundiais. De fora veio e instalou-se alguém para nos dizer objetivamente quando, como e o que podíamos fazer.
Traduzindo: perdeu-se o emprego, perderam-se empresas, foram-se regalias e “direitos inalienáveis”; para além das férias perdeu-se a casa ou, então, como se teve, abrupta e radicalmente, que abandonar os hábitos consumistas, se temos casa, ela serve para nos isolarmos, muitos de nós como que ficámos em prisão domiciliária, pois sair custa dinheiro.
O acesso ao Serviço Nacional de Saúde ficou muito menos fácil para muitos.
Estamos deprimidos, envergonhados, frustrados, revoltados, com a autoestima a níveis mínimos.
Haverá capacidade, meios humanos e financeiros, para avaliar em tempo útil, quão doente Portugal (os portugueses) está? E essa falta de saúde mental de que modo e com que profundidade afeta a saúde física dos portugueses?
Portugal, o estado e a sociedade civil, como vai fazer para se tratar, para recuperar?
Jorge Saraiva (articulista convidado)