Lembremo-nos de um homem com vontade de ser Super-homem, vontade de poder e de autotranscendência. No dia 25 de Agosto fará 112 anos que morreu.
Apologista de viver uma vida sem jugo. Saberá o leitor de que falo. Uma vida sem sujeições, sem canga (usada nos bois) nos nossos pescoços, sem condicionamentos.
No sábado passado, por volta das 19 horas, enquanto conduzia em direção a Viana do Castelo, a Zirinha, sentada ao meu lado, desabafa sobre as preocupações por que tem passado com o filho mais novo de 10 anos. O Gonçalo não gosta de se juntar aos colegas da turma, não gosta de almoçar com eles. Prefere almoçar sozinho. Perguntei-lhe se o Gonçalo se sentia triste, infeliz? Não, foi a resposta. Ele diz que não gosta dos temas das conversas dos colegas, só falam de certas partes do corpo das raparigas. Bem, perceberá o leitor que não terão sido estas as palavras que ele usou.
A acrescentar a este fato, parece ser que o menino não tem bons resultados às disciplinas que não aprecia e tem melhores às que tem interesse. É claro que a atenção de todos está centrada nos fracos resultados. Um dia foi parar à direção da escola. Contou aos ditos colegas que ia incendiar a casa e matar toda a gente. Grande celeuma! Juntaram-se elementos da direção, a psicóloga da escola, os colegas, todos a tentarem perceber o que estaria por detrás de tal conto. Perante a mãe, ao jantar, referiu que os colegas da turma são todos uns totós porque acreditam em tudo o que lhes é dito, por exemplo na história do incêndio que vira na televisão. Fora um teste. É claro que falhara aqui algo que não vamos dissecar.
Depois de várias visitas, durante meses, a duas psicólogas e uma pedopsiquiatra chegaram à conclusão que está tudo bem com o menino, com capacidades de raciocínio acima da média e com algumas dificuldades ao nível da gestão das próprias emoções e das relações sociais. Tem interesses muito particulares e muitos desinteresses. Talvez fosse bom tentar desenvolver no Gonçalo outros gostos, aconselharam. O Gonçalo depois de muitas perguntas ainda percebeu porque teve de ir tantas vezes ao médico. Ele sente-se muito bem. Está feliz! Agora os outros, esses parecem preocupados com a vida e com o comportamento do Gonçalo.
Como estará a saúde mental do Gonçalo? Talvez a pergunta devesse ser: como está a saúde mental do Gonçalo na ótica do conselho pedagógico da escola do Gonçalo?
Voltemos agora ao nosso polémico pensador. Em jeito provocatório, coloco a questão: poderemos deixar de lado as convenções sociais e as convicções e a moral?
Sabemos que precisamos da ciência e que, felizmente, tem ajudado imensas pessoas, tornando-as funcionais e mais felizes. Sabemos que precisamos de um ponto de partida, uma linha condutora, regras, mas têm de ser rígidas, tem de haver rótulos e verdades absolutas? Faria sentido reavaliar os atuais ideais ou criar novos? Há que compreender e aceitar a diferença e integrar, integrar, e criar novos modelos de, por exemplo, educação, não rotular e forçar a inclusão. Porque tem de ser o Gonçalo a adaptar-se ao modelo? Porque não providenciar um modelo que se adapte à individualidade, à singularidade do menino? Imagine o que sofrerá para terminar o ensino obrigatório.
Que opinião teria Friedrich Wilhelm Nietzsche (15.10.1844 – 25.08.1900) da Saúde Mental em Portugal em 2012?
Ana Teixeira