Vamos considerar aqui a realidade como sendo uma construção individual, subjetiva, da imagem de uma coisa ou ato que se transforma numa ideia. Isto é, à imagem do objeto é dada uma interpretação, um sentido.
Nesta lógica, a realidade é virtual, é uma ideia. O passado e o presente vividos não são senão um filme adulterado pelos preconceitos, crenças e valores individuais incutidos. As lembranças são vivências imaginadas e em nadas reais, e no entanto, muito reais para o sujeito que as sente. Vivemos virtualmente num mundo concreto, intangível, uma realidade fenomenológica.
É habitualmente referido que as patologias da personalidade identificam-se através de padrões persistentes e duradouros de comportamento. Sinalizadas por reações inflexíveis a situações pessoais e sociais. Representam desvios extremos ou significativos das perceções, dos pensamentos, das sensações. Os vários tipos de patologias implicam padrões estáveis e que englobam múltiplos domínios do comportamento e do funcionamento psicológico. Habitualmente estão associados a grande sofrimento subjetivo e a comprometimento do desempenho social de forma severa.
Karl Jaspers (1883-1969) refere que o indivíduo psicopatológico não se distingue na sua essência das outras pessoas. Isto é, ontologicamente, não há qualquer diferença entre os sujeitos. Ambos os tipos existem e são produto do mundo e coexistem com a sua consciência individual.
Onde está a linha que separa o normal do patológico? Porque que é que uns têm o direito de condicionar, limitar e redefinir a vida de outros apenas porque não encaixam na sua verdade? Não seremos todos nós psicóticos em vários níveis e estádios. Não confundir com psicopatas, embora muitos dos nossos políticos e gestores de topo apresentem traços de psicopatia.
Claro que toda esta psicopatologia convencional explica-se porque quem avalia “acha” que determinado indivíduo não encaixa nos padrões estabelecidos. Não concorda o leitor comigo que, em última instância, se trata de formas de violência e exclusão?
Refere-se que se verificam desvios significativos da perceção, dos pensamentos e das sensações. E, diria eu, qual é o problema? Temos todo o mesmo nível de perceção? Como sei eu qual é o tipo de perceção que tem o meu amigo?
Por outro lado, estas alterações parecem causar grande sofrimento para o próprio e para os outros. Com certeza! A sociedade não está preparada para aceitar a diferença nessa dimensão e muito menos tem os recursos que possibilite a coexistência entre indivíduos diferentes. Começamos agora a viver numa sociedade multicultural e multirracial. Quando teremos uma que considere todas as dimensões do ser diferente? Precisamos urgentemente de novos modelos de saúde mental.
Assim, finjamos todos que a nossa realidade ainda se encaixa no padrão, e se for difícil e se sentirmo-nos diferentes, então convém fingir ainda mais e mentir com mais afinco porque podemos “acordar” numa ala de psiquiatria. Afinal a nossa realidade não existe, é apenas produto da nossa consciência, é apena virtual.
Ana Teixeira