
Mundo para lá do mundo. Mundo onde ninguém se toca mas onde, ainda assim, se estabelecem relações e afetos. Mundo onde se é o que se quiser ser. E onde facilmente se esquece que o mesmo se pode passar do outro lado do fio. Onde ser é apenas um conjunto de caracteres no teclado e, olhar para dentro, nem sempre significa profundidade. Às vezes, é só o mergulho no vazio. A fuga à vida, ao calor, ao sorriso que chega acompanhado de uma voz, de um olhar, de uma mão que se entrelaça na nossa.
No mundo virtual vive gente como nós. Gente que ama. Gente que está só. Gente que tem medo de ser gente. Gente destemida, eufórica, com dúvidas. Gente que se camufla de outras gentes. Gente que hipoteca a vida na roleta russa da cibernética. O mundo virtual tornou tudo ao alcance de uma mão: o bom e o menos bom. Há quem encontre o equilíbrio entre o real e o virtual; mas também há quem abdique da vida de todos os dias e se transfira, por inteiro, para uma segunda existência feita de nada. Os dias deixam de fazer sentido, as pessoas querem-se longe, vive-se apenas aquele momento, com dedos no teclado e a alma aos pulos. Desliga-se o fio-de-terra.
Do mundo virtual transfere-se gente muito boa para a vida a sério. Gente que se torna amiga, que passa a caminhar connosco; é tão boa essa caminhada que esquecemos a origem da estrada. Sentimos que são pessoas que vieram para ficar. De onde viemos, já não interessa. Só interessa tudo o que ainda temos para viver juntos. E, tal como na vida real, também se cruzam connosco almas de que fugimos a sete pés: neuróticos e/ou psicóticos militantes, mesquinhos e pequeninos, vulcões facilmente atiçados e carregadinhos de más disposições como lema de vida. Há de tudo.
A vida virtual pode ser carrasco ou ferramenta. Meio de comunicação, de conhecimento ou de isolamento. Um complemento ou o elixir vital. Pode ser o que quisermos que seja.
E tu, que vida vives, afinal?
Alexandra Vaz