Considerar que podemos ser outra pessoa num mesmo dia tem muito que se lhe diga. E conseguir distinguir os momentos desse dia em que a vivência é, mais ou menos virtual, também. Frequentemente, para entendermos do que se fala temos de pensar no seu exato oposto. Aceitemos a dicotomia “virtual – real”. Parece-me à primeira vista que poucos terão dificuldade em separar e delimitar estes opostos. E de uma forma geral, hoje em dia, associamos o “real” ao palpável, físico, material, e o “virtual” ao universo da informática ou da Internet.
Apesar de reconhecer esta visão contemporânea das coisas, tenho-a como insatisfatória. Como em parte acima referi, a linha que separa estes dois aparentes opostos é muito ténue. E refiro-me, evidentemente, ao que à vida (existência) diz respeito. Tal como alguém anteriormente disse, se eu penso, eu existo. A partir daqui permitam-me continuar; se eu existo, então eu sou. Se eu sou, então eu vivo. E se eu vivo, então eu sou real. Contudo, o pensar (que me permite em último caso ser real), não é palpável, físico ou material. O seu resultado final assim pode ser, mas o pensamento e a ideação em si, nunca o são. Então, o pensamento, que me permite ser (e ser real) é virtual? Se assim for, o “real – virtual” não é uma oposição, mas sim uma linha infindável de continuidade entre os dois. O virtual permite o real, que eventualmente será o instrumento para um outro virtual. E isto porquê? Porque o real leva-nos a pensar.
Ora bem. Pensando então nisto, chego à conclusão mais óbvia. Isto é tudo muito complicado... A minha existência diária é regulada pelo real e pelo virtual (considerando o real como algo que existe de facto e o virtual como algo que potencialmente existe). Simultaneamente. Devido a esse facto, quando é que eu posso considerar que o que sou é real, ou então virtual, em dado momento? Mais uma vez parece-me que não os podemos dissociar ou polarizar. Sou carne e pensamento. Ação e ideação. Existo de facto e tenho a potencialidade de ser o que ainda não sou. Por consequência, tudo o que faço e experimento é real e virtual. SOU eu quando aperto a mão a alguém na rua, e SOU o mesmo eu quando o meu avatar aperta a mão a outro no ciberespaço. Sendo assim, faz sentido falar em vida virtual e em vida real? Não. O que acontece atualmente é que ao contrário do que acontecia há bem pouco tempo, o que SOU pode exprimir-se (exprimir-me) em diferentes realidades. Reais e virtuais...
Rui Duarte