4.6.12

 

A vida de cada um é um mistério para os demais. Por mais próximos que sejamos de alguém, há todo o resto do icebergue que se esconde por debaixo da ponta visível.

Cada um de nós é um mecanismo extremamente complexo e secreto que até nos conseguimos surpreender a nós mesmos em determinadas situações.

O rumo que cada um dá à sua vida é o resultado de uma série de condições, algumas herdadas outras fabricadas, que remetem o livre arbítrio para um recôndito lugar do imaginário: ninguém é realmente livre de escolher seja o que for.

Limitamo-nos a ondular ao ritmo de uma maré que se rege por regras muito próprias e que governa tudo aquilo a que designamos de existência.

Como se fosse essa a verdade única e incompreensível.

E passamos a vida a tentar compreender essa verdade, como se fizesse alguma diferença sermos algo mais que ondulantes criaturas, felizes com a nossa ignorância.

Se a vida é um conjunto dinâmico de acontecimentos que se sucedem uns aos outros, num determinismo vedado ao conhecimento dos seres, por que razão quereria o Homem ser diferente dos restante animais, vegetais e minerais? Para quê querer compreender o todo se, de tão pequenos que somos, apenas funcionamos numa ínfima parte desse todo? Para quê julgarmo-nos importantes se apenas pertencemos à engrenagem?

Percebo que a compreensão de algo funcione no sentido de controlar ou dominar esse algo. No entanto há que reconhecer certos limites, nomeadamente aqueles para os quais a natureza não forneceu ferramentas de compreensão.

Mesmo que encontrássemos uma explicação credível para a existência, nunca a poderíamos chamar de real ou verdadeira. Não só porque não seria real nem verdadeira para todos os seres enquanto conceito, como tão-pouco o seria no mesmo tempo e espaço.

E então tomamos a parte pelo todo, num logro coletivamente consentido, convencidos de que compreendemos e dominamos a existência, que decidimos tudo dela e que somos donos da nossa governação, do rumo da nossa vida.

E então damos importância vital a aspetos vitais, tão inúteis e ridículos.

E então gastamos a nossa tão pequena existência em tão pequenas existências, algumas mais importantes que a própria vida.

Mas então apercebemo-nos que de tão nada que somos, fazemos toda a diferença nos "nadas" mais próximos e nos "nadas" seguintes aos próximos… como uma equação de base exponencial que multiplica "nadas" por outros "nadas", resultando num "todo", num real imaginário do qual não conhecemos nada.

Somos compostos de matéria viciada em permanente fermentação. Deixamo-nos levedar na esperança de fazermos alguma diferença nessa verdade coletiva. Fomos nela colocados para que dela saiamos mais tarde sem dela levar nada, para lhe entregarmos os nossos "nadas".

 

Joel Cunha

 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 22:05  Comentar

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