Os últimos dados apontam para 15,3% da população ativa portuguesa em situação de desemprego. São obviamente dados concretos e que fazem os títulos de qualquer matutino ou telejornal. Simpatizo também com a preocupação demonstrada pelo Sr. Presidente da República em relação aos valores de desemprego jovem que contribuem para o valor global acima referido. Mas o que esta estatística não expressa, é a eterna esperança e a falta dela, assim como a revolta que se vê nos rostos de quem desespera numa fila à porta de um qualquer centro de emprego deste país. Após duas horas de espera lá se consegue aceder à máquina e tirar o ticket para aguardar mais outro tanto! Estive lá, passei por isso no início deste ano… ouvi estórias de gente em situação bem complicada. Foram anos de malparado, com fatura bem pesada! Mas desde esse dia, atualizei e enviei CV e, dos cerca de vinte, recebi resposta de duas empresas, agradecendo pelo contacto e que contribui para a sua base de dados. Não é surpreendente tendo em conta o cenário atual. Apesar de licenciatura e, do garante que isso significava em finais dos anos 90 e inícios deste século, Portugal mudou, e curso superior em vez de facilitador, parece tornar-se cada vez mais num entrave para se voltar à vida profissional.
No momento em que escrevo este texto não consigo ainda comungar da mesma desesperança que constatei no centro de emprego onde estou inscrito, talvez porque, após sensivelmente seis anos da mesma empresa, precisava de mudar e, como não tinha força para o fazer apesar de sentir que o devia, tive de ser empurrado. Não foi um choque mas acredito que para muitos o seja. Acatei essa decisão e não a questionei – tomei-a como uma oportunidade! Para passar mais tempo em casa e poder ver o miúdo crescer, respirar outros ares; essencialmente, colocar as ideias sobre a mesa e objetivar… Devo acrescentar que tenho direito a um fundo de desemprego que ronda o salário mínimo e que ainda me permite fazer o que fiz nestes últimos meses: um curso de formação de formadores, e planos para um outro – assim como encetar contactos para dar formação.
A palavra que falta aqui mencionar é controlo! Do meu tempo, do tempo disponível para quem me está mais próximo e tempo para fazer o que gosto e que ficou tudo em pausa quando aceitei um emprego em que não tinha horas e que constantemente constituiu uma invasão de privacidade, pois estava primeiro do qualquer outra coisa; todo o resto ficou meio perdido, a vida pessoal, o facto de não poder combinar nada com amigos, que se foram naturalmente distanciando… - ora estava em trabalho, ora de prevenção. Se foi divertido num dado momento, deixou de o ser no entretanto e já nos últimos meses do ano passado tinha-se transformado num fardo.
Tendo em conta o que escrevi, vejo o desemprego, melhor, o meu desemprego como uma oportunidade única de voltar a pôr a vida nos eixos e aculturar-me, através de cursos e contacto com pessoas diferentes do meio onde exerci atividade nestes últimos anos, assim como reativar laços e poder passar tempo com família e amigos. Pelo menos, tenho tempo para tal. Portanto só positividade neste tópico. Falamos daqui por ano?
Manuel Fernandes (articulista convidado)