Era uma vez a mesma lengalenga de sempre! “Isto está mau! É a crise!”. Expressões atrás de expressões, de um povo que nunca se endireita! E chegamos agora a níveis de desemprego escandalosos.
Para uns, o desemprego pode ser uma rampa de lançamento para o risco de sonhar com novas fronteiras, quebrando barreiras existentes até então e criando novas oportunidades. Para outros um submergir na nuvem do subsídio, que “do mal o menos” vai entrando, “por direito, claro está(!)”, mas que em vez de ser ponte, é subterfúgio. Outros há, e tantos, que não têm a mesma sorte, e só imagino o desespero das vozes internas perante as faturas que se atropelam na caixa do correio, as bocas sentadas à volta da mesa que de inocência clamam o comer, tantas vezes presos a doenças, e o silêncio de lágrimas escondidas, num “oh meu Deus que vai ser da nossa vida?”, que tantas vezes tumultuam a alma com pensamentos tenebrosos, viciantes e fraturantes do Ser.
O desemprego tem muitas caras, a pior será sempre a do desespero. Desespero, muitas vezes, partilhado no emprego. No “emprego” de quem trabalha, amarrado à obrigação e à falta de opção. Num emprego mal empregue, povoado de exigências absurdas, exploradoras, sufocantes. Empregados assediados, cansados, esgotados e desesperados com tanto stress, e sem alternativa à vista, que sucumbem, também por vezes, aos gritos do desespero.
Aflige-me que nesta coisa do empregado e do desempregado, a distribuição seja como a riqueza. Tanta competência por empregar, quando tantos postos estão empregues, e mal empregues, a muitos que não querem laborar e lá estão a usufruir da cadeira, que o pobre do competente pedincha de porta em porta. Empregados abandonados à frustração de fazer o que a vocação não lhes pede, deslocados para trabalhos da pseudo-salvação. Aflige-me que tantos se resignem a esta condição, e tantos outros dessem tudo por essa própria condição. Aflige-me a voz de um país com tanto emprego mal empregue e tanto bem feitor por empregar!
Cecília Pinto