
Tememos o cancro, o enfarto de miocárdio, o acidente vascular cerebral, a escorregadela na casca de banana, os acidentes de viação, o atropelamento e fuga. Tememos pela segurança dos filhos, dos pais, dos amigos, pela exposição virtual, pela inevitabilidade da morte; tememos por antecipação e sofremos em réplicas sucessivas e massacrantes. Receamos uma série de inimigos. E como se já fossem poucos, juntamos-lhes mais um, com nome cínico e pomposo: desemprego (leia-se: desterro, dor, dúvida, desespero, drama).
Todos os dias ouvimos e lemos notícias a esse respeito. Todos os dias há alguém cuja vida se altera drasticamente pela perda do “ganha-pão”. Nos últimos tempos, em reuniões de amigos ou de família, tornou-se o assunto em cima da mesa. Há uma atração mórbida pelos temas nefastos. Há sempre alguém que conhece alguém, que conhece alguém, que está desempregado. Há sempre uma família que perde o seu chão em face do desemprego de um (ou mais) dos seus membros. Vive-se um estado de insegurança que aumentará exponencialmente. Não parece haver esperança suficiente que nos valha, o aconchego da mentira não existe em doses homeopatas.
O fantasma do desemprego materializa-se, entra pelas frestas da alma, e instala-se na vida de todos os dias, virando-a do avesso. Sofre o desempregado, a família do desempregado, os amigos do desempregado, os que temem vir a estar desempregados. Tememos todos o inimigo de colarinho negro e ar sisudo que ceifa qualquer um de nós, sem piedade. Uns matam-se, outros bebem, deprimem e/ou drogam-se, porém, outros ainda, veem nessa mudança imposta a oportunidade de começar de novo. De renascer das cinzas e descobrir novos caminhos.
No fim de tudo, da busca, do medo, da dúvida, emerge a ironia máxima das coisas: não interessa o que nos acontece na vida mas sim a forma como reagimos aos acontecimentos. Como os sentimos, pensamos, digerimos. É essa tríade – cognição, pensamento, ação – que pode mudar o dia de amanhã. Em doses suaves ou em golfadas repentinas.
Alexandra Vaz