A mudança é um processo, por vezes curto e libertador, longo e penoso noutras, que ocorre depois de um ou de uma série de gatilhos. Em tempos de incertezas, numa era de ruturas, de fragmentação social e de flutuação de valores, as pessoas andam assustadas, desconfortáveis, titubeantes.
Eu sei que não resolve problema algum, mas tive uma ideia que pode ser um bom gatilho para operar algumas mudanças.
Em 2004, um tal de "Juan Mann", de Sydney, Austrália, movido por uma questão pessoal mas querendo servir uma causa maior, decidiu passear-se pela rua com um cartaz oferecendo abraços de borla (free hugs) a toda a gente. A ideia rapidamente tomou proporções mundiais, replicando-se um pouco por todo o lado com variantes nem sempre concordantes com a versão original. O objetivo foi, entre outros, o de colocar um sorriso no rosto das pessoas.
Mas, para a maioria dos abraçados, a causa esgotava a sua função pouco depois do abraço. Mais, um abraço tem subcategorias: há abraços e abraços; uns para isto, outros para aquilo. Há que respeitar o fim a que cada um se destina. E mais ainda, um abraço isolado pode não ser combustível suficiente.
Assim sendo, na busca de um gatilho para operar mudanças, apresento uma ideia clonada da do "Juan" e amplamente discutida com uma boa amiga minha: Abraços por medida. Continuam a ser de borla mas agora passam a ser regulados.
À imagem dos fatos, o objetivo é o de criar um movimento que contenha uma bolsa de voluntários disponíveis para abraçar à medida de cada pessoa, de cada momento, de cada necessidade. A atuação do movimento será em campanhas de rua, em eventos ou (ainda a rever este ponto mas possivelmente) por marcação. Nas campanhas de rua e nos eventos, os voluntários far-se-ão anunciar com o uso de uma t-shirt com a inscrição "Abraços por Medida" (com mais uma ou outra informação pertinente) ou com recurso a outros instrumentos de comunicação. Nos agendamentos será necessário receber e processar os pedidos através de um e-mail (abracos.por.medida@gmail.com). Os voluntários oferecerão o seu entendimento, sensibilidade, disponibilidade e sinceridade sob a forma de um ou mais abraços dados à medida do desejo, necessidade ou sufoco de quem os solicita.
O papel dos voluntários é sempre passivo: serão sempre as pessoas a dirigirem-se aos voluntários, nunca o contrário. Todos os voluntários do movimento terão formação na área do diagnóstico de necessidades, comunicação e administração de abraços.
Mais informações no blogue http://abracospormedida.blogspot.com.
Um abraço, mais do que um símbolo de fraternidade, é um momento no qual o mundo pára por uns instantes para depois recomeçar a rodopiar de forma diferente. Promove um turbilhão emocional que agita ideias sedimentadas e das quais não nos libertamos facilmente. Um abraço por medida, que assente bem, quebra espirais descontroladas de conflito interior.
Basicamente é quentinho e sabe bem.
Joel Cunha