- Carlos, tenho que mudar…
- Oh… vais mudar de curso? Nunca estás satisfeita! Só eu é que não tenho essa sorte. Tenho que trabalhar e não me queixar…
- Não, não é isso…
- Então? Não me digas que vais mudar de casa, outra vez? Tu e as tuas colegas não convivem muito bem juntas mesmo. Há sempre problemas. Se vocês soubessem a sorte que têm. Só eu é que não me posso dar a esse luxo de mudar quando bem me quer e apetece. A vida é mesmo injusta com algumas pessoas.
- Pois, mas também não é isso… sabes aquela música do António Variações de que eu gosto muito e que diz: “Muda de vida se tu não vives satisfeito / Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar”? É assim que eu me sinto…
- Mas não gostas da tua vida? Quem me dera a mim… a tirar o curso de Assistente Social pago pelos papás…
- O meu curso não é de Assistente Social é de Educadora de Infância…
- Ou isso, é a mesma coisa. O destino é o mesmo: desemprego! A tua vida é um passeio no parque, Elisa. Não tens preocupações e o teu futuro está garantido. Não tens que lutar por nada. Sim, e aquela coisa do Karaté que fazes não conta!
- Não é Karaté… ando a aprender técnicas de defesa pessoal…
- Pois, é como eu digo. Isso não conta. Eu é que luto todos os dias para mudar a minha vida e não saio da cepa torta. É só trabalho e mais trabalho! Bom, olha, tenho que ir embora. Amanhã ligo-te e tomamos café à mesma hora, está bem?
- Não, Carlos, não vai ser possível. Nem amanhã, nem nunca mais…
- Mas, estás doida? Porque dizes isso? Eu amo-te e quero estar contigo.
- Como podes tu amar-me se nem me conheces? Não faz sentido estarmos juntos se me sinto cada vez mais só quando estou contigo. Tenho que mudar Carlos e começa já hoje. Não me telefones e não me procures. Já não faço parte da tua vida… Carlos, afinal, a tua vida também já está a mudar. Não precisas de agradecer.
Liliana Jesus