5.5.11

  

Não é muito valorizada a idade na nossa sociedade, pelo contrário, todos os dias cientistas e investigadores trabalham no sentido de encontrar uma “cura” para o envelhecimento, um retardador potente. Os nossos mais velhos são, demasiadas vezes, encostados a um canto e é desvalorizada a sua opinião, por se achar que não têm mais nada para oferecer.

Aprendi com esta sociedade que chegar a uma certa idade é desprestigiante e que, por muito conhecimento que tivermos para transmitir, não seremos levados a sério devido à nossa idade. Tantas vezes em jovem ouvi adultos a comentar, acerca de pessoas mais velhas, que se arrastavam pelas ruas, “olha para isto, que figura, para isso prefiro não chegar àquela idade”. E com este tipo de afirmações, estive na iminência de ter uma opinião semelhante e de viver para sempre assustada com o inevitável avançar da minha idade. Só não vivo assustada hoje, graças a todas as conversas que tive com a minha avó (que, com muita pena minha, já não se encontra entre nós).

 

Uma das histórias que a minha avó me contou e que passo a partilhar, aconteceu quando ela era muito nova, devia ter os seus 7 ou 8 anos. Nessa altura, ela costumava visitar, com as amiguitas, uma vizinha velhinha que estava acamada e que tinha ficado cega há já alguns anos. Todos os dias, as jovens faziam uma visita à velhinha que lhes contava as suas peripécias do passado, partilhava com elas as suas crenças e pontos de vista. E tanto a minha avó como as amigas tinham muita pena da velhinha pela sua condição limitada. Um dia, uma das amigas da minha avó decidiu partilhar a sua opinião com a velhinha dizendo-lhe com carinho: “coitadinha de si, viver nestas condições, só espero que Deus a leve depressa”. A velhinha não gostou nada de ouvir estas palavras e reagiu muito mal dizendo “que Deus te leve a ti, pois eu ainda não estou pronta! Ainda tenho muitos passarinhos para ouvir cantar à janela, muitas histórias para partilhar com as pessoas, muita cor e brilho para imaginar. Fala por ti que eu não quero ir já! Não venhas para aqui desejar-me a morte!”. As jovens ficaram muito admiradas com a resposta da velhinha, de tal forma que a minha avó nunca mais esqueceu aquelas palavras, mesmo passados muitos anos, quando ela chegou à mesma idade da velhinha.

Desta forma, a minha avó mostrou-me que, independentemente da idade e das limitações que nos podem surgir com a mesma, estamos sempre a tempo de aproveitar o que acontece à nossa volta, sempre a tempo de ser felizes com o pouco que temos. E aprendi também que as lições mais sábias não vêm só dos professores e dos estudiosos, mas também daqueles que reúnem muitos anos de vida.

 

Ana Gomes

 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 22:05  Comentar

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