- Tu és meu amigo? Diz lá! És ou não és meu amigo?
- Sou, claro que sou. Sabes bem que sim.
- E há quanto tempo somos amigos?
- Há muito, acho eu. Há tanto tempo que não sei contar.
- E o que é para ti ser amigo?
- É estar contigo. É brincar contigo. É fazer-te festinhas quando estás triste e quando choras. É conversar contigo… E para ti? O que é ser amigo?
- É como tu disseste.
Ficaram os dois em silêncio durante uns minutos, de cabeças encostadas uma à outra, a olharem os sapatos.
- Quando eu for para a escola, tu também irás?
- Acho que sim.
- A tua mãe, já te comprou a mochila e os cadernos?
- Já.
- Queres ir para a escola?
- Não sei…
- Eu também não sei se quero. Nunca estive lá. O meu pai diz que me vai fazer bem, que tem lá muitos meninos para eu brincar, mas eu nunca os vi, não os conheço. Acho que prefiro brincar contigo.
As cabeças continuavam coladas uma na outra. Os olhares agora fixavam-se nos joelhos. A escola seria mesmo uma coisa boa, como o pai dizia?
- Tenho fome. Apetecia-me comer um hambúrguer.
- Eu também comia um. Ou dois. Ou três.
- Se comeres muitos depois ficas gordo. Se ficares gordo, não sei se gosto de ti.
- Se eu ficar gordo, tu também ficas. Ficamos ambos gordos.
- Mas eu não quero ser gordo! E também não quero que sejas gordo. Depois não podemos fazer corridas. Se eu for gordo nunca mais te ganho nas corridas.
- Se comermos só um hambúrguer, não ficamos gordos.
- Então está bem, comemos só um, cada um.
Abraçaram-se. Suspiraram. Será que a mãe faria um hambúrguer?
A porta abriu-se. A luz entrou. A voz da mãe, também entrou.
- Pedro, que fazes aqui fechado, às escuras, a falar sozinho? Estás bem?
- Estou, mãe.
- Anda filho, sai daí e vem comigo.
Sentia-se bem ali, mas rendeu-se à ordem da mãe.
- Mãe, dás-me um hambúrguer?
- O menino Pedro está com fominha. Saia-se um hambúrguer!
Sorriram um para o outro. E o Pedro foi a pensar se a mãe do Nino também lhe faria hambúrgueres. A mãe é que podia fazer hambúrgueres para os dois, mas ela não conhece o Nino.
Fernando Couto