Sampaio (1991), ao falar da adolescência afirma que esta é “uma fonte inesgotável de criatividade individual e familiar, um cenário de trocas afectivas intensas e onde a vida e a morte surgem constantemente. É neste quadro complexo que tantas vezes surge a tentativa de suicídio”.
O suicídio é uma questão muito complexa, que desperta uma grande onda de angústia, na medida em que levanta a questão do nosso poder sobre a morte. Quando o suicídio surge na adolescência, a inquietação é ainda maior, levantando a questão de como é possível numa fase de descoberta e de encontro com o mundo, acontecer um tal desencontro, que leve a que a única alternativa perante o sofrimento, seja a procura da morte (Santos e Sampaio, 1997).
Tal como refere Shneidman, coexistem no gesto auto-destrutivo vários factores: uma pressão (interna ou externa) sobre o adolescente; uma dor psicológica insuportável (para a qual urge encontrar uma solução); e uma perturbação que pode assumir diversas formas psicopatológicas. Neste contexto, o gesto suicida surge como uma estratégia desesperada para pôr fim a uma tensão difícil de controlar, num individuo vulnerável devido a factores predisponentes, com dificuldades na evolução biográfica (abandonos, perdas, etc.) e perante o qual surgiram factores precipitantes que desencadearam o gesto suicida (conflitos, rupturas, insucessos, entre outros). A experiência clínica nos jovens mostra-nos que os comportamentos suicidários correspondem não só a momentos de crise individual, uma espécie de falência nas tarefas de desenvolvimento, mas também são uma forma de comunicação poderosa; um processo ambivalente e paradoxal de procurar uma mudança no contexto de vida. Existem inúmeros significados e motivações, e qualquer que seja o grau de intenção, ele exprime sempre dois desejos poderosos: acabar com aquilo que faz sofrer e restaurar a identidade (SPS, 2006).
Para Sampaio (1991), a tentativa de suicídio na adolescência surge então numa perspectiva tripartida, por um lado individual, relacionando-se com as vivências do adolescente; por outro lado familiar, no sentido de uma visão longitudinal da história natural da família, considerada na dimensão mais alargada; mas também numa perspectiva social, referente ao enquadramento social do jovem. A tentativa constitui-se como um triplo fracasso nestas vertentes, na sequência da falência de outras formas de resolução da crise. Para este autor, a tentativa de suicídio adolescente surge “após uma impossibilidade de reorganização estrutural, isto é, o processo de desenvolvimento não avança e há um bloqueio, uma situação de instabilidade a partir da qual se torna necessária a intervenção terapêutica”.
De facto, verifica-se que, de forma geral, as famílias de adolescentes suicidas revelam elevados padrões de rigidez, de hostilidade conflitualidade marcada, bem como de intolerância à crise.
Neste sentido, a intervenção terapêutica deverá passar, não só por uma abordagem individual com o jovem, como também uma intervenção junto da família ou rede de suporte do adolescente em questão. É pertinente salientar o papel da família, pois fornece o suporte afectivo que os adolescentes necessitam, quer para superar este período de tristeza, quer para os incentivar no processo terapêutico necessário.
Diana de Morais Ribeiro
(Articulista convidada)