- Hoje sonhei que estava no Céu… - disse ele - …e senti bem-estar… senti paz…- continuou - Se o Céu for assim já não tenho medo de morrer!
- E vai ser assim… não vai? Vamos estar em paz… – disse ela.
- Sabe… hoje a minha Mulher faz anos…
Conheci o Sr. Armando e a esposa em meados de Junho. Ele tinha 44 anos, ela perto dos 50, estavam juntos há 10, ambos no segundo casamento. Ele tinha um cancro em estado avançado e encontrava-se em fase terminal. (- Foram 5 anos de luta! Sabemos que o fim está próximo…) Após o diagnóstico ela deixou de trabalhar para o acompanhar, para poder estar sempre por perto. (- Ele é o mais importante… quero estar sempre ao lado dele, quero fazer o que estiver ao meu alcance para que ele esteja bem… esteja feliz… até ao fim.)
Tinham tudo preparado. A pedido dele, ela comprou um pedaço de terreno no cemitério da aldeia, escolheu a lápide que ele mais gostava, arranjou o fato que ele vestiu no casamento e que ele gostava de poder usar no dia do funeral. Conseguiu também proporcionar o reencontro com o filho, com quem ele já não falava há alguns anos.
Quando o Sr. Armando foi internado, já mais debilitado, a sua preocupação era o aniversário da esposa (- Sei que é o último… gostávamos de poder passá-lo juntos…). Nesse dia o Sr. Armando acordou bem disposto, disse que se sentia muito melhor, o seu olhar estava atento e tinha um brilho especial. Quando a esposa chegou conversaram, riram, brincaram, choraram, beijaram-se… Ele ofereceu-lhe a prenda que religiosamente guardava na gaveta da mesinha de cabeceira.
Ainda nessa noite o Sr. Armando faleceu… em paz.
Este relato é baseado em factos reais, na história de um dos doentes que tive o PRIVILÉGIO de conhecer. Foram feitas algumas adaptações e o nome da personagem é fictício; todos os diálogos são reais.
Joana Gonçalves