O ambiente estava agitado naquela manhã. Durante a noite pareceu-lhe ouvir gente pela casa. A tia, apoiada no tio, saiu cedo. Parecia doente. Ouviu a mãe despedir-se:
- Vai correr bem! Quando nascer vamos ver-vos à maternidade.
- Mã, o que é a maternidade?
Tiago começava a aventurar-se na comunicação oral, um pouco tarde segundo diziam aqueles que pensam tudo saber e tudo resolver. Não faltaram os conselhos para levar o menino à Santa Clara, para que ela lhe desse fala. Mesmo sem a bendita visita, preguiçosamente e com cortes nas sílabas, lá começou a pronunciar as primeiras palavras. Mã, foi a primeira que disse, sendo a versão preguiçosa de Mamã. A mãe corrigia-o mas aos poucos foi-se rendendo à solitária, mas não menos poderosa, sílaba.
Não era palrador. Ou porque não sentisse necessidade, ou porque não visse interesse em falar com os adultos sempre tão ocupados e preocupados. Mas gostava de brincar e queria muito ter com quem brincar, já que em casa era único e gostaria de não o ser.
Se é na maternidade que nascem os bebés, se nós iremos lá, então iremos ver um bebé. Mas quem será esse bebé? Interrogou-se e, sem que tivesse tempo para perguntar, já a Mã revelava, com entusiasmo, que iria finalmente conhecer o priminho e que a partir de agora já teria com quem brincar.
A palavra brincar era mágica e logo ali tratou de criar condições para tão agradável tarefa. Silenciosamente começou a seleccionar e a meter no bolso os carrinhos de que mais gostava e que, de certeza, iriam agradar ao priminho. Ainda arranjou espaço para uma mota e um aviãozinho, não fosse o caso de o priminho não gostar de carrinhos.
A notícia do nascimento tardava. Sentado junto ao telefone aguardava. A impaciência ditava-lhe a pergunta: “Será que já nasceu?” Esperava que a Mã tivesse a resposta que o telefone teimava em não dar.
Quando por fim na maternidade, colocou discretamente os brinquedos perto do priminho e a jeito de este lhes pegar. Intrigou-se com a falta de reacção. Aproximou ainda mais os brinquedos, mas a minúscula criatura nem abriu os olhos para os ver. Será que ele não gosta de brincar? Pegou-lhe na mãozinha e levou-a a tocar nos brinquedos. O gemido quase inaudível fê-lo recuar.
Olhou a Mã, pedindo-lhe explicações. Recebeu dela a promessa de que o priminho iria crescer depressa e que rapidamente poderia brincar com ele.
Sonhara ter alguém com quem brincar. Ficou a sonhar com o cumprimento da promessa da Mã...
Cidália Carvalho