4.12.08


 


Apesar do tema ser idêntico ao do Bowlby, não é meu intuito vir aqui discorrer sobre psicanálise, nem tão pouco abordar o luto e a perda permanentes, derivados da morte de um ente querido, pelo menos não neste momento.


 


O luto e a perda que me traz aqui hoje, refere-se ao provocado pelas pessoas que em determinado momento se atravessam na nossa vida e que depois, por um ou outro motivo, tão depressa como entraram na nossa vida, saem. É indubitável que esta passagem e este contacto nos enriquece, nos traz alegrias, por vezes tristezas partilhadas e memórias de tempo "gasto" a conhecermo-nos. No entanto, quando termina, não conseguimos deixar de nos sentir egoístas. Egoístas, no sentido de ficarmos tristes por deixarmos de estar com essas pessoas, apesar de, racionalmente, sabermos que a nossa perda ocorre, não por nossa causa, mas por motivos de força maior que, em muitos casos, resulta em situações melhores e mais satisfatórias para as pessoas que "perdemos".


 


É por causa desse misto de emoções que muitas vezes desejamos boa sorte e as maiores felicidades, quando, na realidade, pensamos "não vás, fica aqui comigo", apesar de sabermos que não é o melhor para a pessoa que agora parte. E lá ficamos nós entregues a nós próprios, obrigados a fazer um luto sem querermos, a uma perda que não sendo definitiva, não deixa de nos magoar e de nos deixar tristes.


 


Acresce a este sofrimento um outro, provocado pela sociedade de consumo imediato, que não nos dá tempo para fazermos o luto ao nosso ritmo e que quase nos obriga a "esquecer" e substituir esta amizade, com a mesma rapidez e simplicidade com que se estrela um ovo.


 


Pode ser de mim, mas questiono-me se esta rapidez toda e esta rotatividade forçada de amizades, será saudável. Não deveriamos ter mais tempo para fazermos o nosso luto tranquilamente e sem pressões...?


 


Alexandre Teixeira


 

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Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 11:45  Comentar

De Ana Lua a 10 de Dezembro de 2008 às 10:13
Como eu compreendo este texto... e como ele é verdade!!
Por vezes a vida parece um turbilhão de novos acontecimentos e emoções que nem nos deixamos sentir... sofrer...
Porque sofrer é mau... mas sofrer faz parte de um crescimento sustentado...
Nem sempre fácil...

De Susana Cabral a 4 de Dezembro de 2008 às 22:36
Alexandre


Acredita que concordo contigo, por um lado a rotatividade de amizades não é de todo saudável, vai deixando feridas, cicatrizes e histórias mal contadas. Por outro lado deveríamos ter tempo para fazer o nosso luto, de forma a minimizar os estragos que uma amizade "terminada" deixa em cada um de nós.
Ter o tempo necessário para aceitar a desilusão que é capaz de mastigar e engolir memórias coloridas.
O luto aparece como um bálsamo , um antibiótico capaz de limpar a sensação de tristeza deixando-nos apenas com a memória do arco-iris.
As amizades que nos vestem de preto nunca deveria acabar, nunca deveríamos ter de dizer "adeus" mas um "até logo" ou "um dia destes vemo-nos" e assim saberíamos sempre que aquela pessoa ou pessoas que em determinado momento com quem partilhamos o nosso coração iriam ficar "perto" de nós. O tal egoísmo de que falavas ou apenas o querer perpetuar uma ilusão. Dói muito perder uma amizade, mas ainda dói mais quando vemos que essa amizade nunca existiu porque a facilidade com que terminou
foi brutal.
Recordo com muita ternura os olhos verdes de um grande amigo , nunca lhe fiz o luto porque nunca o perdi. Fomos separados pelos tais motivos de força maior, o tempo, a distancia afastou-nos mas a nossa amizade continua e continuará até ao dia que um de nós deixar de existir.
Os sentimentos verdadeiros, mesmo os mais superficiais , quando somos obrigados a abdicar deles provocam sempre dor! É engraçado como criei um carinho enorme por um sorriso que via todos os dias através de uma janela, no dia em que a janela se fechou senti que tinha perdido um bocadinho de mim. O relacionamento que mantive com aquele sorriso era sem duvida a validação da minha presença diária naquele local. O luto apareceu quando perdi um sorriso, apenas um sorriso, que me fazia feliz.
Infelizmente ao longo da nossa existência , a vida versus luto caminham lado a lado, quase de mãos dada, sem duvida uns cúmplices prefeitos.
Vamos perdendo a inocência e temos de fazer o luto porque a realidade deixa muita pouca margem para a fantasia. Acreditamos que o mundo está repleto de D. Quixotes e quando os olhos se abrem e vemos os Sanchos Pança enlutamos as nossas almas.
Vestimos o preto quando em escassos segundo amamos aquele que nos deu a conhecer a mentira.
Precisamos do luto para aceitar as perdas e para que possamos viver com tranquilidade todas as emoções, sensações e sentimentos que cada dia novo nos trás.
Precisamos de enterrar as tais perdas, as tais desilusões fazermos um luto "completo" para melhor podermos sentir o sabor dos sentimentos responsáveis pela nossa felicidade. Precisamos de tempo para fazer o luto sem dúvida mas precisamos muito mais tempo para "cultivar" as amizades para que o luto não seja uma constante na nossa vida.

Susana Cabral

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