Primeiro ponto: este é um tema já gasto. Assim mesmo.
Segundo ponto: nunca é demais falarmos nele.
E digo isto porque trabalho precisamente com pessoas que “sofrem” destes dois “males” de forma conjunta e é dessas pessoas que quero falar… Trabalho com pessoas com atraso mental (vulgo deficiência). Acho que ninguém discordará que são diferentes e muito menos que sejam uma minoria. São diferentes por um universo de motivos e vou-vos poupar aos mais evidentes. Esqueçam os QI e tretas afins. Para o caso não interessam… São diferentes porque somos diferentes e não estou a segmentar duas facções opostas – com e sem atraso mental. São diferentes porque somos todos. Claro que também não vou apregoar aqui uma corrente humanista que coloque a ênfase da beleza Humana na multiplicidade e paradoxal unicidade da espécie. Uns são mais diferentes e outros são mais iguais. É evidente que pessoas com trissomia 21 são mais iguais entre elas do que um grupo de portugueses, católicos, caucasianos ou portistas (acho que consegui abranger quase todas as classes para classificar minorias: nacionalidade / origem étnica, religião, adeptos do FCP). Contudo, aqui tem de se parar um pouco para reflectir.
Na frase anterior, comecei por falar da diferença e propositadamente acabei na minoria. Sendo fácil cair no erro de julgar que os dois conceitos são similares ou sempre coincidentes (o que não são), nesta população específica são mesmo. Como vimos, são diferentes entre si como somos todos, mesmo que algumas características de alguns sindromas os aproximem (físicas, mentais, comportamentais, etc.), e são também uma minoria porque constituem (mais ou menos) 3,5% da população portuguesa. Ora, podíamos agora aqui incluir a questão da discriminação, porque estão reunidas as condições ideais para tal. Mas não vamos fazê-lo. Não porque tal não suceda (é evidente que sim) mas porque como português / psicólogo acho que devo dar o exemplo e tentar demonstrar que é possível agir no sentido da intervenção social pela positiva ao invés do “método telejornal”.
As pessoas com atraso mental são tão felizes como qualquer outra pessoa (e vou escrever a partir daqui de forma generalista, admitindo sem reservas de cada situação é digna da sua diferenciação e especificidade). Regra geral não sofrem por serem diferentes e se sofrem é porque os fazem sentir assim. Não questionam se são minoria. Se se sentem assim é porque verificam que não têm o mesmo apoio que outros (em contexto institucional é meu dever também referir o apoio deficitário – deficiente, porque não? – que o Governo presta a estas pessoas. Seja ele de forma directa ou indirecta). E aqui reside, talvez, a face mais triste desta situação: o sentimento de diferença e minoria tem origem em causas externas, logo fora do locus de controlo do indivíduo. Ele é vítima do mesmo sentimento que as outras pessoas diferentes e/ou pertencentes a uma minoria. Mas, ao contrário destes não têm um lobby, uma associação, um partido, ou mesmo a sua própria voz que advogue, com um grito social digno de registo, os seus direitos à não exclusão. Que tal sermos diferentes e, deixando a minoria, começarmos a gritar com eles?
Rui Duarte
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