1.4.10

  


 


A Sr.ª Escrita convidou as outras artes para um lanche. Chegou cedo para fazer as honras, escolheu uma bonita esplanada em frente ao mar e uma mesa onde pudessem banhar-se de sol naquele final de tarde luminoso como há muito não havia, naquele Inverno que parecia não querer acabar.


Enquanto aguardava foi olhando à sua volta e cada pormenor lhe agradava mais do que o outro. O mar, de tonalidade enganadora, ora azul ora verde, salpicava de espuma branca a areia da praia que hoje estava ainda mais dourada. As gaivotas, em grupo ou isoladas, completavam este quadro de perfeita harmonia.

A Sr.ª Escrita experimentou uma suave tranquilidade e logo se encheu de vaidade por se sentir o meio preferido dos Humanos para descrever um momento assim. Com sorte, se a pessoa que a usar o fizer bem feito, provoca reacções, descobre emoções, mexe com a natureza humana. Ela, Escrita, quando usada com regras, forma uma língua que, por sua vez, pode ser identidade de uma Nação. Sentiu-se muito importante e desta conclusão deu nota à Sr.ª Música que entretanto tinha chegado.

 

A Sr.ª Música não quis ser desagradável com a amiga, mas logo ali deixou claro que a Sr.ª Escrita não tem o exclusivo de mexer com a natureza humana; ela também o faz e há muito mais tempo. Tem vindo a acompanhar o homem desde o seu início e reforçou o seu argumento:

- O som que ouve, das ondas a desmaiarem na praia, repare, ouça com atenção, não contém uma melodia? Estou em toda a parte - basta que me queiram ouvir. Tenho várias filhas, a que os humanos chamam correntes musicais; elas também são identidades dos lugares onde nasceram. Quem como eu enche estádios e movimenta massas com o único objectivo de ser ouvido? 

 

A chegada da Sr.ª Pintura e da Sr.ª Fotografia interromperam a divagação da Sr.ª Música, não sem algum desagrado desta, a qual, não querendo ser incorrecta, incentivou a Sr.ª Pintura a falar do seu papel. E ela falou. A sua principal preocupação é realçar o que há de belo nas pessoas, nas coisas, nas paisagens nas acções, etc.. E sente-se muitas vezes injustiçada por não ser verdadeiramente compreendida. Facilmente chamam horrível ao belo, tendo como único argumento o não gostarem. Mas até no horrível se pode encontrar uma parte bela.

- Reparem - chama ela a atenção – os fuzilamentos de Góia parecem horríveis, não é? Na realidade as práticas foram muito piores. Eu pego na realidade e torno-a menos agressiva.

 

A Sr.ª Fotografia, sempre tão parca em palavras, não quis terminar o lanche sem defender a sua causa:

- Pois a mim custa-me aceitar ser tão ignorada no mundo das artes. Não fosse eu e como poderiam os humanos registar cenários de guerra, acontecimentos importantes como os casamentos, os baptizados, isto para não falar da imprensa, revistas e jornais. Saiba a Sr.ª Escrita que muitas das revistas não são lidas, mas apenas vistas pelas suas fotografias. Eu, como a Sr.ª Pintura, também reproduzo uma realidade, mas ao mesmo tempo fixo o momento.

A Sr.ª Fotografia acaba a lamentar-se por já não serem os mesmos tempos, os tempos em que as famílias se engalanavam para ir ao fotógrafo e, depois de lhes chamarem a atenção para o passarinho que nunca existia, tiravam uma fotografia para a posteridade.

 

O Sr. Cinema, que nasceu mudo mas rapidamente evoluiu, pese embora ainda não ter passado de 7.ª Arte, é um verdadeiro cavalheiro. Não quis interromper as Senhoras quando chegou, mas logo que pôde entrou no diálogo e, bebericando uma bebida cor de chá mas com cheiro duvidoso, disse:

- Eu até aceito a deselegância de me pagarem o lanche se alguma das Senhoras me revelar um método mais simples de aprendizagem e indicar indústria mais rentável do que a minha. Vejam por exemplo o que acontece nos E.U.A. e na Índia! Não houve de facto argumentos e as contas acabaram à moda do Porto - cada um pagou o seu e cada um foi para seu lado cumprir a agenda.

 

Quando a Sr.ª Escrita entrou na sala de exposições foi recebida pela Sr.ª Música Ambiente. As Sr.as Fotografia e Pintura já estavam expostas nas paredes e, num lugar mais reservado da sala, já estava o Sr. Cinema - um filme sobre o autor do livro que ia ser lançado aquela noite.

Os personagens, já nossos conhecidos, entreolharam-se e respeitaram-se mutuamente. O Sr. Cinema quis divertir as Damas e piscou um olho, a imagem desapareceu do ecrã. Logo um técnico veio repô-la - pensa ele, porque o que aconteceu foi que o nosso amigo voltou a abrir o olho.

As Senhoras das artes riram muito e muito baixinho, tão baixinho que ninguém as ouviu...

 

Cidália Carvalho


 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 22:05  Comentar

De ninguém a 6 de Abril de 2010 às 12:07
mas também é bom lembrar...algumas
VERDADES!!!

A ARTE DE NÃO ADOECER

Se não quiser adoecer - "Fale de seus sentimentos"
Emoções e sentimentos que são escondidos, reprimidos, acabam em doenças como: gastrite, úlcera, dores lombares, dor na coluna. Com o tempo a repressão dos sentimentos degenera até em câncer. Então vamos desabafar, confidenciar, partilhar nossa intimidade, nossos segredos, nossos pecados. O diálogo, a fala, a palavra, é um poderoso remédio e excelente terapia.

Se não quiser adoecer - "Tome decisão"
A pessoa indecisa permanece na dúvida, na ansiedade, na angústia. A indecisão acumula problemas, preocupações, agressões. A história humana é feita de decisões. Para decidir é preciso saber renunciar, saber perder vantagem e valores para poder ganhar outros. As pessoas indecisas são vítimas de doenças nervosas, gástricas e problemas de pele.

Se não quiser adoecer - "Busque soluções"
Pessoas negativas não enxergam soluções e aumentam os problemas. Preferem a lamentação, a murmuração, o pessimismo. Melhor é acender o fósforo que lamentar a escuridão. Pequena é a abelha, mas produz o que de mais doce existe. Somos o que pensamos. O pensamento negativo gera energia negativa que se transforma em doença.

Se não quiser adoecer - "Não viva de aparências"
Quem esconde a realidade finge, faz pose, quer sempre dar a impressão que está bem, quer mostrar-se perfeito, bonzinho etc., está acumulando toneladas de peso... uma estátua de bronze, mas com pés de barro. Nada pior para a saúde que viver de aparências e fachadas. São pessoas com muito verniz e pouca raiz. Seu destino é a farmácia, o hospital, a dor.


Se não quiser adoecer - "Aceite-se"
A rejeição de si próprio, a ausência de auto-estima, faz com que sejamos algozes de nós mesmos. Ser eu mesmo é o núcleo de uma vida saudável. Os que não se aceitam são invejosos, ciumentos, imitadores, competitivos, destruidores. Aceitar-se, aceitar ser aceito, aceitar as críticas, é sabedoria, bom senso e terapia.

Se não quiser adoecer - "Confie"
Quem não confia, não se comunica, não se abre, não se relaciona, não cria liames profundos, não sabe fazer amizades verdadeiras. Sem confiança, não há relacionamento. A desconfiança é falta de fé em si, nos outros e em Deus.

Se não quiser adoecer - "Não viva sempre triste"
O bom humor, a risada, o lazer, a alegria, recuperam a saúde e trazem vida longa. A pessoa alegre tem o dom de alegrar o ambiente em que vive.



"O bom humor nos salva das mãos do doutor".



De Joel a 2 de Abril de 2010 às 14:01
Muito original, Cidália. De facto precisamos de todas. E tal como o mundo artístico é mais rico à custa da variedade, o mundo humano também enriquece à custa das diferenças costrutivas.
Um texto fabuloso, no seu sentido original, ao jeito de Jean de La Fontaine.

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