15.2.10


 


Sinceramente, na vida, quem não gostaria que todos à sua volta fossem sinceros? Todos, ou alguns, têm esse desejo de saber a verdade a qualquer custo, nem que seja para sentir que têm tudo sob controlo… que nada lhes escapa... que nada os derruba de antemão.

A sinceridade não é um valor dos nossos dias, talvez nunca tenha sido... a sinceridade é uma aspiração... é uma aspiração por nós próprios, porque queremos ser sinceros, honestos e nos identificamos como tal... mas, por mais adoradores da verdade que sejamos, nem sempre correspondemos à nossa aspiração. Porque por vezes temos medo, medo do que os outros vão pensar sobre uma acção nossa, um sentimento, ou um pensamento… medo que o outro nos deixe porque lhe fomos infiéis, medo de que nos despeçam porque não concordamos com as ideias e escrúpulos do chefe, medo que nos olhem de lado porque temos uma certa doença. Tantos medos... e por causa destes nos enrolamos num nó de mentiras... e depois é tão difícil sair. Aí olhámo-nos ao espelho e não reconhecemos aquela pessoa honesta que pensávamos ser, só vemos uma mentira e pensamos que toda a nossa vida é uma mentira, pensamos até que mentir a esta ou àquela pessoa é estar a poupá-la de um sofrimento maior... e a mentira sufoca-nos, tira-nos o riso da alma, alimenta a culpa, afasta-nos dos outros, mas sobretudo afasta-nos de nós próprios... por vezes, sermos sinceros connosco próprios é o mais difícil. Alguém disse que a verdade nos liberta… e é bem verdade... quem não sentiu já um alívio depois de contar uma verdade escondida? O peso esvai-se, a coragem de olhar nos olhos aparece e a alma fica mais leve… é preciso dar um passo gigante de coragem, quando a mentira já é maior do que nós, mas vale a pena! Apesar deste alívio, acarreta sempre dor, dela não escapamos, mas talvez seja mais fácil de lidar com essa dor na verdade do que na mentira... houve também alguém que disse que a verdade dói, mas não deixa ferida… Talvez por isso e com o tempo que vai passando, a sinceridade venha a ser um melhor aliado nas nossas vidas… e apesar do medo que por vezes a sinceridade pura acarrete, de certeza que seremos mais felizes e menos sós se nos fizermos acompanhar desta…

 

Cecília Pinto


 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 23:05  Comentar

De Joel a 18 de Fevereiro de 2010 às 18:42
Eis um tema que dá que pensar. As suas questões em torno da sinceridade, da honestidade, da verdade, dos valores da sociedade são muito pertinentes... Na minha opinião, tais virtudes são difíceis de definir, dado que se se fala de sinceridade importa definiir quanta sinceridade; se se fala de verdade, quando é que a omissão de uma parte da verdade se confunde com mentira? E por aí adiante. Acho que o cultivo destes valores é essencial para formar as pessoas em princípios nobres, para regular toda uma sociedade ou uma cultura sob a batuta de uma suposta convivênvia civilizada. No entanto, e dado que desempenhamos diversos papéis e detemos diversos estatutos por inerência de existirmos colectivamente, não vejo na sinceridade, na honestidade e na verdade senão estratégias de adaptação da pessoa ao meio (e por vezes a si mesma). Gostei muito do seu texto porque me fez pensar nestas coisas que teimam em extinguir-se. Obrigado.

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