- O Natal já não é o que era. - disse ele.
- Pois não... – disse ela.
E juntos olharam em frente para ver melhor o fim da estrada de paralelo que dava acesso à casa da avó. Estava escuro. E frio. O largo em frente à casa estava vazio. O poste velho ao fundo iluminava a rua.
- Não se vê ninguém. – disse ela.
Estacionaram o carro e saíram.
Era o fim de tarde de 24 de Dezembro. O céu estava limpo e ameaçava nevar. O largo continuava vazio. Era aqui que dantes se fazia o fogo de Natal. Os rapazes da aldeia carregavam a lenha durante o dia; à noite, depois da ceia, as famílias juntavam-se à volta do fogo, cantavam e dançavam até de manhã. Não havia prendas. O pai dizia que não havia melhor prenda que o farto jantar de Natal. Mas eles não iam dormir sem deixar o sapato na chaminé (não fosse o menino Jesus lembrar-se de passar por ali!). A verdade é que no dia seguinte havia sempre alguma coisa dentro do sapato: uns rebuçados, umas chicklets, um chocolate...
Agora era tudo diferente. O pai faleceu, a avó estava tão doente que já nem se lembrava do nome deles. Mas a casa, o largo, o poste, estavam na mesma, talvez mais velhos e gastos, um pouco despidos, mas iguais.
Treparam as escadas que davam acesso à casa e entraram na cozinha. Por momentos sentiram o calor do lume aceso com os potes com as batatas e o polvo a ferver, o cheiro das rabanadas acabadas de fritar e o pai a dizer: - Feliz Natal!
Joana Gonçalves
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