7.12.09


 


Logo no início de Novembro todos contavam, de forma decrescente, a chegada do Natal e ela, sem saber, começava, de uma forma crescente, a contar o início do fim. Nenhum Natal poderá apagar, ou fazer esquecer, as feridas que se abriram no seu coração e que esconde na sua alma.

Estranhamente, não havia qualquer alusão ao Natal que se aproximava; a ausência por completo de ornamentações augurava um mau presságio. Era uma casa que se esmerava por requintadamente anunciar a chegada do Natal, com a sua colossal árvore decorada com Pais Natal de peluche, anjos, bonecos de neve, peúgas e peuguinhas, o presépio e as velas típicas da época. Nesse ano havia apenas o silêncio a enfeitar cada corredor e a rechear sítios que, em anos anteriores, eram preenchidos com arranjos vermelhos, verdes e dourados.

Sair à rua e ver as luzes, as montras decoradas, prendas para uns, presentes para outros, prioridades absolutas na vida de muitos, ouvir o Jingle Bells que ecoava por todo o lado, feria violentamente o seu espírito.

 

Foi-se aproximando o Natal e com ele a preparação, para que nada faltasse no momento prenunciado e previsto. Na última noite preparou o desfecho, indo de loja em loja comprar os seus últimos presentes… aqueles que lhe tinham sido antecipadamente pedidos: a camisa de noite quentinha, o robe, não esquecer os seus amigos de todos os momentos, os carapins, a manta para se aquecer e assim poder fingir um estado de um sono perpétuo e repousante.

Sem saber como, sorria, agradecia os simpáticos embrulhos que faziam, afinal era Natal…

 

No dia 24 desembrulhou prenda a prenda, peça a peça e foi-lhe descrevendo as cores, os modelos, os locais onde as tinha adquirido… Quando terminou, mesmo sabendo que já não era ouvida, disse-lhe: “- Estás linda! Sempre consegui dar-te mais estas prendas de Natal.”.

No dia 25 via-se por todas as ruas, papel de embrulho rasgado, fitas a esvoaçar com o vento, a levantar voo. As crianças brincavam e deliciavam-se, com os seus desejos satisfeitos, com a generosidade do Pai Natal. Pequenos aglomerados de pessoas reuniam-se à porta de alguém para iniciarem os festejos próprios da época. Naquele Natal não teve almoço… apenas um rasgão na sua alma que a impediu de, durante muitos anos, entender o significado e a importância do Natal.

Naquele Natal despediu-se, disse adeus, a uma das pessoas que mais amou… Naquele Natal enterrou o corpo daquela que lhe deu vida e a ensinou a amar. Naquele Natal disse-lhe, pela última vez na sua presença: “- Amo-te mamã.”.

Ainda hoje as luzes de Natal a agridem, a mania das prendas enlouquece-a, os falsos votos manifestados numa solidariedade fictícia enraivecem-na.

 

Mas dois “duendes” fizeram magia com o seu coração e com a sua alma. Para ela, o Natal é agora o sorriso e a euforia daqueles a quem deu vida. Espera que eles nunca deixem de dizer-lhe: “- Amo-te mamã, feliz Natal para ti.”, com um brilho nos olhos.

 

Susana Cabral

 
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Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 23:14  Comentar

De Alexandre a 8 de Dezembro de 2009 às 21:50
Gosto de pensar que depois de pensar que depois de passarmos por esta vida deixamos uma marca neste mundo, por mais pequena que ela seja.
Qualquer pai ficaria contente por saber que a marca que deixou cá é uma pessoa faz toda a diferença em tudo o que faça, e que é impossivel de esquecer.

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