Na noite de 25 para 26 de Outubro de 2009, durante a madrugada, um menino de 4 anos fugiu da casa dos pais, em Comines, pequena cidade Belga, depois de os ouvir discutir violentamente. Younes Jratlou, assim se chamava o menino, apareceu duas semanas depois, morto, no rio Lys, a 12 Km de casa, descalço e com pouca roupa, conforme informações dadas pelos pais quando se aperceberam que o filho tinha fugido.
As causas da morte não estão ainda apuradas, mas parece não existirem dúvidas quanto às razões que levaram o menino a sair para o escuro da noite, tantas vezes motivo de medos e pesadelos naquela idade, e a enfrentar, quase desnudado, o frio que já se faz sentir nas noites de Outono: acabar com o sofrimento de mais uma discussão entre os pais!
Procuro esvaziar-me de outros interesses e atenções, e concentrar-me no pequeno Younes, dar-lhe a atenção que não teve, precisava e, sobretudo, merecia. Este exercício de nada lhe vale e só a mim serve, para me ajudar a aceitar a situação.
Mas como poderei aceitar que alguém tão frágil tenha sido tão desprotegido e descuidado, justamente por aqueles que deveriam ser o garante da sua segurança?
Perante a dor, como foi possível que a criança não tivesse procurado alguém que a confortasse e, desesperada, tenha posto a sua própria vida em risco?
Embora raro, o suicídio infantil existe e situações de stress com as quais a criança não sabe lidar, são factores de risco. O facto de as crianças não sentirem a morte como uma situação irreversível e criarem fantasias, achando que a vida é melhor depois da morte, é também um factor de risco. Por uma ou outra razão, objectivamente, não me parece haver dúvidas quanto à intenção do menino ao fazer-se à noite e ao aproximar-se do rio.
Estou em processo de luto!
Não sei como os pais do Younes estão a enfrentar a perda do filho, não sei nem quero ainda pensar nisso, este ainda é o momento de pensar no menino morto.
Cidália Carvalho
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