Provavelmente já tiveram daqueles momentos em que sentiram que vos faltava alguma coisa, sem saber muito bem o quê, ou como apareceram... uma espécie de desconsolo e desalento.
Muitas são as vezes em que procuramos preencher essa "falta" com algo que nos dê prazer ao palato. Infeliz e normalmente o que conseguimos é ingerir uma quantidade extra de açúcar, tendo apenas como consequência o aumento do nosso volume e a inevitabilidade de continuarmos com a mesma sensação de insipidez.
O cartão de crédito, nestes momentos, consegue assumir o papel de melhor amigo, enquanto procuramos aquela peça, ou objecto, que nos faça sentir finalmente completos, consolados, satisfeitos e mais tranquilos. E “pumba”… o que conseguimos é diminuir o seu plafond e aumentar as nossas contas. O que fazemos, na realidade, é trazer para casa uma peça de roupa que escondemos no fundo do armário para nunca, mas nunca mais a voltarmos a ver, para evitar sentir a vergonha de termos cedido à tentação de comprar um vestido típico de uma jovem de 18 anos, ainda não afectada pela lei da gravidade, ou da maternidade.
De tentativa em tentativa, diligenciamos soluções e resoluções do problema que parece não querer abandonar-nos e se vai tornando mais e mais doloroso, assemelhando-se a um buraco negro.
Esperançados que desta vez - sim desta vez, iremos sossegar a nossa inquietação e desalento, entramos no cabeleireiro com a convicção de que o que necessitamos é uma mudança de visual. E sem saber muito bem o que pretendemos, colocamo-nos nas mãos experientes daquele, ou daquela, que nos vai milagrosamente metamorfosear. Prometem o tal milagre e quietinhos permanecemos até ver o resultado final. De lágrimas nos olhos e um nó na garganta, concluímos que o novo aspecto de caniche tresloucado não nos vai sossegar nem acabar com o infindável desalento.
Nada, mas mesmo nada, parece trazer de volta a tranquilidade, o sossego, e apagar a malfadada sensação de desconsolo e de vazio. Mas o quê? O que é que nos pode faltar? Parece que quanto mais pensamos e tentamos contrariar o desalento, mais nos sepultamos e perdidos quedamos.
Sentimo-nos tristinhos e arriscamos uma derradeira tentativa para eliminar os sintomas de uma doença que desconhecemos. E, sem pensar duas vezes, atravessamos a cidade para nos encontrar com aquela pessoa que sempre nos fazia sorrir, de uma maneira ou de outra conseguia preencher espaços vazios e fazer-nos sentir especiais. Mas a insipidez da conversa de nada resulta e mais uma vez a frustração instala-se, o desconforto e o desânimo reinam.
Somos invadidos pela tentação de desistir de procurar, de entender ou de obter uma resposta e começamos a mentalizar-nos que o melhor a fazer é conformar-nos e seguir em frente, mesmo que isso se manifeste na coexistência com o incessante e desconfortável desconsolo.
Não! Nem pensar! Não se pode baixar os braços e viver resignado? Não!!! Temos de reclamar o direito a uma vida completa e preenchida com todos os sabores e sensações.
A resposta, a cura, provavelmente estará apenas em descobrir e aceitar o valor que temos, reconhecer as nossas qualidades e admitir os nossos defeitos. Não deixar que a opinião alheia tenha o poder de desanimar, derrubar, desorientar e criar vazios sobre os quais nunca teremos explicações ou soluções.
Não é, com certeza, nas calorias de um bolo, num vestido mais ousado e ridículo, num cabelo semelhante ao pêlo de cão, que encontraremos a segurança e a confiança de que necessitamos para sermos mais firmes e vivermos segundo as nossas convicções.
O facto de aceitarmos que somos como somos e deixarmos de procurar ser outra pessoa, ou encaixar no perfil que os outros nos projectaram, fará com que o tal desconsolo, desalento e desânimo não dêem lugar a impressões incómodas que nos fazem viver desunidos daquilo que verdadeiramente somos.
Susana Cabral
Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 10:16  Comentar