Num pequeno instante transforma-se a incapacidade em capacidade, só porque foi possível virar mais uma página no calendário e passar a ter 18 gloriosos anos.
Se ontem não era capaz de conduzir um carro, pois hoje, milagrosamente, os tais 18 anos transmitiram a aptidão necessária para o guiar sem ir com ele contra uma parede; nada, mas mesmo nada, tem a ver com a experiência adquirida e muito menos com a prática.
A menoridade incapacita as pessoas em variadíssimas áreas e só nos tornamos capazes e competentes quando tivermos a oportunidade de soprar 18 velas e completar “aquilo” que legalmente chamamos de maioridade e, por consequência, responsabilidade, maturidade e sentido cívico.
São engraçadas as limitações que temos enquanto nos 17 anos e 364 dias porque, a lei o diz, estabelecendo que o ser humano só adquire capacidades para tomar decisões por si próprio no dia em que completar 6570 dias da sua existência.
Não! Não podemos votar, pois somos ainda incapazes para atribuir um sentido crítico a todas as diversificadas ofertas dadas pelos vários partidos políticos! Mais uma vez a maturidade e o sentido cívico nada têm a ver com a situação?!
Não! Não somos capazes de pura e simplesmente comprar um bilhete de avião e ausentarmo-nos dos pais! Seria uma situação catastrófica porque a responsabilidade ainda por adquirir, não nos iria acompanhar nessa viagem.
Não! Não temos a capacidade de alugar um filme pornográfico, imagens tão explícitas não podem ser visionadas por aqueles que ainda não se encontram naquela faixa etária perfeitamente capaz de assistir a um filme XXX.
Ficam de fora também as capacidades de preencher um cheque, contrair um empréstimo, casar e, pura e simplesmente, tomar decisões, sem que a assinatura dos pais não esteja a validar a escolha.
Não foi assim há tantos anos que este “salto” para as capacidades estava delegado para os fantásticos 21 anos. Mas entretanto, com o progresso, as incapacidades também sofreram as suas alterações e agora está fixado que terminam aos 18 anos.
Sim! É verdade que teremos de colocar uma barreira para não correr o risco de ver uma criança de 9 anos à frente de um volante, mas não deixa de haver alguma hipocrisia - as incapacidades não desaparecem aos 18 anos. Sem preparação, educação, experiência, prática e bom senso poderemos continuar a sofrer de profundas incapacidades que nos impedem, ou deveriam impedir, de sermos capazes de coisas tão “simples” como por exemplo conduzir, viajar, votar e mesmo, alugar um filme para maiores de idade.
Susana Cabral
Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 22:48  Comentar