"Dói-me a alma..."
Desde miúda que ouvia o meu avô dizer esta expressão. Mais velha, lembro-me de ouvir a minha mãe. E nunca entendi.
Hoje entendo. Hoje consigo perceber o que eles queriam dizer com aquilo. Hoje posso dizer que sei, porque já senti.
É aquela dor que vem lá do fundo, que se sente com todas as partículas do corpo. Aquela dor não física mas tão real, que chega mesmo a doer.
As palavras faltam, a vontade falta, a disposição deixa de existir. É um misto de tristeza com depressão. É não estar bem em lado nenhum, não haver nada que nos faça mexer, andar, sorrir, querer. É não deixar de respirar porque é uma função inata... porque se não o fosse, acredito que muitas vezes iria deixar de o fazer.
É o não saber o que se quer, ou pior, não se querer nada. É as lágrimas viverem, durante horas, ou dias, no limbo... prestes a saltarem. É o querer dormir até mais não, mas com a consciência de que o sono vai ser horrível.
É desejar, às 8h da manhã, que sejam depressa 19h. É começar um conversa e lá no fundo desejar que a pessoa se cale o mais depressa possível. É o querer fugir de todo o lado. É o não estar bem nem com nós mesmos. É o querer fazer reset à vida, querer morrer e acordar outra vez.
É tudo o que se ouve que não chega. Tudo o que se diz não é suficiente. Não há carinho que nos acalme, não há abraço que nos tranquilize. Não há nada. Só nós. E isso não é suficiente.
É sentir dor física em algo que não existe... a alma.
Filipa Pouzada
Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 23:04  Comentar