16.7.09

 


 


“A admiração é uma súbita surpresa da alma, que a leva a considerar com atenção os objectos que lhe parecem raros e extraordinários. Assim, é causada primeiramente pela impressão que se tem no cérebro, que representa o objecto como raro e, por conseguinte, digno de ser muito considerado; em seguida, pelo movimento dos espíritos, que são dispostos por essa impressão a tender com grande força ao lugar do cérebro onde ela se encontra, a fim de fortalecê-la e conservá-la aí (…).”

 

Embora a admiração não produza efeitos em outros órgãos além do cérebro, isso não a impede de ter muita força.

 

No que consiste a força da admiração.

O que não a impede de ter muita força por causa da surpresa, isto é, da súbita e inopinada ocorrência da impressão que modifica o movimento dos espíritos, surpresa que é própria e articular a esta paixão; de sorte que, quando se encontra em outras, como costuma encontrar-se em quase todas e aumentá-las, é porque a admiração está unida a elas. E a sua força depende de duas coisas, a saber, da novidade e do facto de o movimento que a causa possuir, desde o começo, toda a sua força (…).”

 

A surpresa é assim um elemento psicológico essencial na admiração, mas esse elemento pode levar a excessos, como no caso do espanto:

 

O que é o espanto.

(…) e o espanto é um excesso de admiração que só pode ser mau.”

 

Para que serve particularmente a admiração.

E pode-se dizer particularmente da admiração que ela é útil porque nos leva a aprender e a reter em nossa memória coisas que dantes ignorávamos; pois só admiramos o que nos parece raro e extraordinário. (…)”

 

No que ela pode prejudicar e como se pode suprir sua falta e corrigir seu excesso.

Mas acontece muito mais admirarmos em demasia e nos espantarmos ao perceber coisas que merecem pouca ou nenhuma consideração, do que admirarmos demasiado pouco. E isso pode subtrair inteiramente ou perverter o uso da razão.”

 

Zita Sousa

 
Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 22:28  Comentar

De Anónimo a 9 de Setembro de 2018 às 18:29
Entendi a exposição, conforme foi abordada mas, creio que; há muito de emoção na admiração. Não sou profunda conhecedora dos filósofos em geral mas, por experiencia vivida, quero acrescentar que, por duas vezes "sofri" de imensa admiração, por, minha professora de matemática ( disciplina a qual nunca gostei) e, uma outra vez; por meu professor de português ( disciplina que aprecio muito). Porém, ao confessar essa admiração ao meu professor; isto causou um afastamento muito grande entre nós; o que antes era o oposto. Trocávamos muitas idéias enriquecedoras. Creio que houve um choque pela diferença de gênero mas, até hoje, não sei entender claramente.

De Aníbal V a 21 de Julho de 2009 às 10:39
Espanto-me por o Descartes achar que o espanto, como excesso de admiração, seja mau.
Eu gosto de ficar espantado; é bom ficar espantado.
Espero encontrar sempre coisas que me espantem: desarrumam o arquivo, obrigam-me a pensar, a arrumar o arquivo mas já de outra forma.

De Augusto Küttner de Magalhães a 21 de Julho de 2009 às 04:30
O espanto nunca é prejudicial, bem pelo contrário. depois temos é que passar, aquem e além desse espanto!!!!

De Augusto Küttner de Magalhães a 21 de Julho de 2009 às 04:28
Obrigado pela simpatia da resposta!

Acredito que a abordagem destes temas, não possa ser feita de animo leve, logo a não possibilidde de ultrapassar os 3 post semana! Em “rece” e dentro das possibilidade de todos e de cada um, e do tempo, vamos – “sem compromissos” – dando todos um contributo, para todos os blogs, qie merecem estar “bem vivos” o possam estar!!!!!!!!!!!!

Augusto Küttner de Magalhães

De MiL RAZõES... a 20 de Julho de 2009 às 17:56
Caro Augusto Küttner de Magalhães:
A sua vontade de querer mais movimento neste Blog é certamente um sinal do agrado com que nos lê, o que nos dá enorme satisfação.
O nosso objectivo actual é o da publicação de um a três artigos por semana; dadas as múltiplas actividades que desenvolvemos, mais não seria realista. Com o seu estímulo, talvez em breve possamos rever o nosso objectivo, juntando-lhe um pouco mais de ambição.
Contamos com o seu olhar atento e com os seus comentários.

MiL RAZõES...

De Zilda Cardoso a 20 de Julho de 2009 às 14:19
É vulgar dizer-se que do espanto nasceu a filosofia. Pode o espanto ser alguma vez demasiado e prejudicial ? Ou é questão de conteúdo de palavras?

De Augusto Küttner de Magalhães a 20 de Julho de 2009 às 04:34
Muito parado este Blog!!! Férias?????

De ©Marcolino Duarte Osorio a 17 de Julho de 2009 às 05:51
Escolástico!

De Augusto Küttner de Magalhães a 16 de Julho de 2009 às 23:00
Não estou certo, mas pareceu-me que a Sua análise ao basear-se muito em Descartes, foge – não intencionalmente – à emoção, ou seja fica-se pela razão que é e bem elaborada pelo cérebro, mas deixa talvez escapar a emoção, que está “também” no nosso cérebo, que está lá localizada, tanto como a razão, em áreas bem distintas.

Todos os estudos de António Damásio vão nesse sentido, e as emoções penso que terão cada vez que mais serem estudadas para além da razão e tudo “materializável” no nosso cérebro.

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