Foto: Solidarity - Stefano Ferrario
A pessoa solidária é sempre conotada de forma positiva, boa pessoa, que exerce atos de bondade e compaixão, sensível, assim, ao sofrimento e às dificuldades do outro. As diferentes fases da vida que vivemos levam-nos, por vezes, a questionar tudo. Pois bem, neste momento, permitam-me que questione a solidariedade. Não questiono a pessoa que tem dentro de si esta “coisa” de ser solidário pois, essa, nunca me causaria questionamento. No caminho e na vontade de ser solidário há pessoas que se cruzam, vontades que se cruzam, objetivos que se cruzam e sentimentos que se cruzam. Nem sempre esse cruzamento é assente em princípios comuns às duas pessoas para que a solidariedade se desenvolva no sentido verdadeiro. A pessoa que precisa (ou não) de uma pessoa que lhe dê a mão, nem sempre é boa pessoa e, provavelmente, no lugar oposto nunca exerceria atos solidários. A pessoa que exerce atos solidários por convicção e por vontade intrínseca não se apercebe que, do outro lado, está uma pessoa que não merece o seu esforço, a sua dedicação e que lhe empreste a sua vida e, a dada altura, vê-se a percorrer caminhos que nunca desenhou. Estou, concretamente, a dirigir-me às pessoas que, de forma inadequada, se apoderam do lado solidário dos outros, manipulando toda a situação, extorquindo sem que, verdadeiramente, precisem que lhes deem a mão. Apenas é mais cómodo ter ao seu lado uma pessoa com “bom coração” pois, assim, a vida torna-se, de facto, mais facilitada. Não é justo que isto aconteça à pessoa que tem dentro de si esta “coisa” de ser solidário. A solidariedade deveria remeter sempre para uma responsabilidade recíproca e nunca deveria assumir estes contornos. Desculpem se desiludo.
Ermelinda Macedo