29.6.18

Woman - PublicDomainPictures.jpg

Foto: Woman - PublicDomainPictures

 

Saíram de casa num dia de sol, mas ainda que chovesse não teriam ficado.

Eram um jovem casal e saíram, deixando tudo o que de material haviam conquistado naquela cidade. Deixaram para trás a casa que Hana herdara da tia-avó, e as mobílias escolhidas com detalhe na loja de móveis usados. Deixaram as molduras com fotografias da família, e os álbuns com tantas recordações felizes.

O despertar não foi difícil, já que a noite havia sido de sobressalto, como todas as anteriores em que ouviram disparos e bombas ao longe. Cada um deu-se a oportunidade de um duche demorado, com água bem quente, numa tentativa de garantir a alma aquecida para a viagem.

Naquela manhã rezaram juntos, como sempre, mas desta vez com uma noção mais real da total entrega à providência divina.

O pequeno-almoço foi simples e salgado pelas lágrimas que não puderam conter. A comida que sobrou do jantar foi colocada num saco, onde Hana juntou duas canecas de latão e dois garfos.

Reviram a lista das coisas que não podiam deixar esquecidas, e cada um confirmou a mochila do outro, para que se sentissem mais confiantes ao fechar a porta.

Abraçaram-se com a certeza de quem sabe que tem Deus, limparam as lágrimas que insistiam em cair, e saíram com as mãos dadas.

Não. Não saíram. Fugiram.

Fugiram da guerra e de uma morte certa em data incerta. Fugiram dos sonhos desfeitos, com a certeza de que novos nasceriam, numa qualquer terra onde existisse paz.

Foi uma fuga sincronizada em duas velocidades diferentes: por um lado o coração, que voava quilómetros a cada minuto, na ânsia de chegar a um porto seguro a cada final do dia; e por outro os passos físicos, dos pés doridos e cansados.

Ademir e Hana seguiram em filas intermináveis de homens e mulheres de olhos postos no chão, salpicadas por crianças que, na sua inocência, brincavam sem se importarem com a distância cada vez maior das suas casas. Ademir e Hana decidiram não se preocupar com a casa que deixaram arrumada e com a porta bem trancada, na esperança de ali regressarem mais cedo ou mais tarde. Prometeram um ao outro que a casa seria sempre onde estivessem juntos. E assim a cada noite, fosse debaixo de chuva, vento, ou um céu estrelado, sentiam o conforto do lar quando abriam a bíblia e rezavam – umas vezes com palavras, outras com o silêncio do olhar que se inundava.

A bíblia e o crucifixo encabeçaram a lista dos indispensáveis, mas foram as últimas coisas que Ademir colocara na mochila, no dia em que deixaram Alepo. E foi intencional, pois sabia que tê-los sempre à mão lhe dava a segurança necessária e um incentivo adicional, quando as forças físicas fraquejassem.

 

 

- Mãe, os teus amigos devem ter sofrido muito!

- É por isso que te digo tantas vezes que tens de relativizar os teus problemas, Mariana!

- Eles demoraram quanto tempo a conseguir chegar aqui? No artigo que estás a escrever para a revista também vais explicar essa parte?

- A Hana não acha importante falar sobre quanto tempo levaram, mas ela costuma dizer que foi um tempo pensado por Deus, enquanto pôde aconchegá-los a cada noite no Seu colo...

 

HTR

 

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25.6.18

Woman - StockSnap.jpg

Foto: Woman - StockSnap

 

“Meu amor”. São duas palavras pequeninas que têm um valor imensurável e um significado intenso.

“Meu”. Porque és minha sem aquele sentido de posse, mas com aquele sentido de pertença, de existência em comum. Porque fazes parte da minha vida de uma forma única e especial, sem ser cliché, e ocupas um lugar exclusivo, nunca antes ocupado. Minha namorada, minha mulher, minha alma gémea, minha companheira, minha cúmplice, minha pessoa, minha mais que tudo, minha coisa boa, meu tesouro… e poderia continuar.

“Amor”. Não vou descrever esta palavra porque é o nome de um sentimento poderoso, de uma beleza singular, com um potencial incalculável. Por isso, vou apenas fechar os olhos e vou dizê-la para mim, vou repeti-la vezes sem conta e vou senti-la. Vou imaginar-te e vou só sentir aquilo que ela traduz para nós… e vou sorrir, certamente que vou sorrir, numa expressão facial e com o coração.

São duas palavras que utilizo neste nosso dia-a-dia de uma forma consciente, com sentido e com toda a emoção que elas traduzem. São bonitas e fazem-me todo o sentido. Gosto da forma como soam e gosto daquilo que provocam em ti.

 

Meu amor, isto é a introdução da nossa história. Uma história com muito mais do que 3 anos, uma história impossível de traduzir literalmente e na qual dificilmente conseguirei ser totalmente fiel. É uma história bonita que se continua a construir a cada dia e aqui ficarão essencialmente as experiências mais marcantes, os momentos mais emocionantes, os acontecimentos mais especiais e inesquecíveis que vivemos. Quero registar o que de melhor existe em nós, realçar o quão especial e únicas somos. Quero imortalizar o NÓS! Ambicioso? Talvez… mas, para além de gostar de desafios, também sou persistente!

Podia dar-lhe o título de livro porque é nos livros que se encontram as mais bonitas histórias de amor. Mas não quero, porque um livro é estanque e a história tem um fim. A nossa não tem e, por isso, não faria qualquer sentido. Quero que seja algo em constante crescimento e, assim, que seja o mais fiel possível. Cada uma com as suas particularidades, temos tanto de semelhanças como de diferenças. Lembro-me, desde cedo, de comentarmos o quão curioso era o facto de sermos tão parecidas mas tão diferentes.

Como é natural, fomo-nos conhecendo ao longo do tempo e fomo-nos descobrindo mutuamente. Porém, o mutuamente transcende-se, porque nos fomos igualmente conhecendo melhor a nós mesmas. Cada uma de nós conseguiu potenciar na outra as suas melhores caraterísticas. A vida faz-nos crescer, sem dúvida, mas o conhecimento que tenho de mim, hoje em dia, deve-se em grande parte àquilo que me foste mostrando sobre mim mesma. Sempre acreditaste em mim e nas minhas capacidades, muito mais do que eu, e isso fez-me vê-las como nunca as tinha visto.

No sentido oposto aconteceu o mesmo e as diferenças em cada uma de nós estão à vista, sentem-se. Essencialmente, somos pessoas mais otimistas, mais leves e confiantes, mais seguras, aventureiras, e mais felizes!

O “Nós” é difícil de definir. Consigo dizer que envolve sentimentos para além dos óbvios, caraterísticas específicas, pessoas em comum, paixões paralelas e objetivos semelhantes.

 

Foi assim que comecei por escrever uma história onde a confiança era inabalável. Eu sou uma pessoa desconfiada por natureza, nunca confio em ninguém até me provarem o contrário, porque as pessoas passam a vida a desiludir-nos. A minha quota de desilusão é tão imensa que foi assim que me tornei. Até tu apareceres!

Sempre otimista e crente nas pessoas, totalmente o oposto de mim, confias até que essa pessoa te dê razão para não o fazeres. Mostraste-me isso e convenceste-me a pouco e pouco. Mas acima de tudo confiei em ti, cegamente, sem quaisquer dúvidas de que estaríamos juntas para sempre. Porque foi isso em que me fizeste acreditar a cada dia que passei ao teu lado. Lutei para aceitar que era louca por ti e para revelar isso a todos os que nos rodeavam, que há muito já tinham percebido o nosso sentimento mútuo. As pessoas admiravam-nos e até certo ponto, invejavam-nos, de uma forma boa.

Demorei igualmente muito tempo a aceitar que algo estava mudar. Não queria ver algo que para mim era inimaginável, como era para ti sempre que falávamos no assunto. Falávamos sobre tudo abertamente. E deixaste de o fazer a determinada altura. Surpreendeste-me logo aí e a confiança abalou. Confrontei-te várias vezes e dei-te sempre uma nova oportunidade para mudares, porque eu confiava que tudo ia ficar bem. A confiança que tinha em ti era maior do que a confiança em mim mesma. Isto é tão verdade que, quando contei às nossas amigas que já não estávamos juntas, todas pensaram que tinha sido eu a desistir. Tu perdeste-te, deixaste-te deslumbrar pelo desconhecido e nem mesmo o amor que sentias (e que sei que ainda sentes) te fez parar. Nem os avisos, nem a desilusão que foste aumentando em mim. Um dia tudo desabou, não havia volta a dar porque a confiança acabou de vez. Apesar de toda a nossa história, aquela que introduzi aqui, não foi possível voltar atrás. A mágoa ainda existe, a dor permanece porque foste tu, a pessoa mais confiável que conheci, que me desiludiu.

Quiseste perdão, quiseste explicar-te, quiseste outra oportunidade mas não me foi possível porque a cada tentativa só me desiludias ainda mais. Ainda hoje desiludes e não te reconheço. Por ter perdido a confiança em ti, perdi para além do meu amor, a minha melhor amiga, a minha maior companheira, a minha melhor companhia, a minha pessoa, a minha maior cúmplice, o meu maior pilar… e poderia continuar.

 

Ainda te amo, morro de saudades tuas, nossas, mas sou incapaz de te olhar sequer!

E pergunto-me, como vou confiar de novo?

 

Marisa Fernandes

 

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22.6.18

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Foto: Girl - Bob Dmyt

 

As relações humanas, tal como todos sabemos e cedo aprendemos, são extremamente complexas. Elas regulam-se por diversos fatores, sendo talvez dos mais importantes os que se associam aos papéis sociais que assumimos. Da mesma forma, os conceitos associados aos diferentes contextos e papéis submetem-se a regras específicas, transformando-se em significações diferenciadas, querendo-se, contudo, objetivas na comunicação.

Assim, confiança entre um casal (dois elementos, dois papéis sociais, um contexto específico), não é a mesma coisa que a confiança entre um superior hierárquico e um subalterno (dois elementos, dois papéis sociais, um contexto específico). A palavra confiança mantém-se, verificando-se uma diferenciação quanto ao seu significado (extensão, profundidade e requisitos até – por exemplo legais).

Desde crianças somos empurrados para a ideia que a confiança é um “bem caro”, logo nunca deverá ser “dado” cedo demais e nunca a quem não “a merece”. Entende-se, desta forma, que a criança deverá cultivar um espírito crítico relativo aos que a rodeiam, assim como um juízo de valor das situações (e também das pessoas) em que se vê em jogo. E de um jogo por vezes se trata. As motivações implícitas ou explícitas, os seus desejos, amores e ódios poderão ser o objetivo final de uma relação de confiança falseada ou, em contrário, verdadeira. Evidentemente que o desenvolvimento normal irá afinar todas estas questões, ajudando assim na construção de uma personalidade que se revelará (ou não!) na plenitude da sua maioridade.

 

Será uma criança desconfiada, um adulto desconfiado em potência? Sinceramente, não faço ideia. Mas mais importante ainda: será uma criança desconfiada, um marido ou uma esposa desconfiado/a em potência? Será uma criança desconfiada, um mau líder ou gestor em potência? A ser “verdade” esta relação causa – efeito, a verdadeira “mossa” encontra-se aí. Enquanto “adulto” não nos identifica ou diferencia praticamente de forma alguma, “pai”, “psicólogo”, “chefe”, etc., categoriza-nos de forma muito específica, balizando muito do que de nós se espera, na cultura em que nos inserimos.

 

Rui Duarte

 

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18.6.18

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Foto: Tree - Dimitris Vetsikas

 

Na selva do medo, pergunto a todos os sentidos que me habitam, a todas as pedrinhas que piso, a todos os ramos que estalam, à dor da minha passagem: “quantas vidas é preciso morrer para que se aprenda que a cautela é mais que instinto?” E só o vento que me atravessa ousa responder-me: “Tantas quantas mortes seja preciso viveres, para que confies nas clareiras – à luz, a verdade é memória de sangue, mesmo que eu dissipe o pó de todas as lutas, vividas e não vividas”.

Ah, as clareiras da Fé! – esse parente excelso da esperança. Não sei se no corpo que compõe a memória futura do pó que serei, ainda resta resquícios dela... pois que até ele me há de trair! Mas respeito a soberania do sangue. A verticalidade genética do caráter e o alcance transversal da experiência. A interdisciplinaridade dos saberes e a transcendência da coragem. Creio no vento.

 

Estudo o chão volátil da clareira à minha frente: há sinais de luta, riscos de arado, sulcos de águas rápidas, lamas de seca lenta. Sangue. Marcas que deixaram as presas arrastadas. Flores. Frutas esperando a sorte da fome, antes que o tempo lhes corroa a polpa. Sementes já sábias, ciosas e crentes no poder das chuvas. Vida. Despojos e oferendas. E o Sol passando alto, nomeando as cores, garantindo aos corpos a energia do calor, e a ambição do paraíso.

O vento abre-me passagem, eleva-se em alas de cicio leve, pousa nas copas altas das árvores expectantes. Respiro fundo - e abandono, enfim, a malha apertada da selva escura a que eu me agarrava por precaução e cegueira. Devagar, ofuscada pela luz, trémula mais por emoção que por medo, mas ainda cuidadosa, mas ainda ouvindo as vozes ancestrais de todas as minhas células perecíveis, liberto-me das sombras como réptil descartando a pele. Ou como crisálida eclodindo.

Vou. Voo. Mas a ousadia é um céu eletrificado, e eu um poço de água viva… – e caio à terra já macerada de outras quedas, de outros sonhos. Reergo-me e aprendo: a humildade é um veículo seguro e a coragem é o chão que me promete a eretilidade: já é tanto quanto baste à minha sobrevivência. E, apesar do meu corpo vulnerável a todas as coisas sob o sol, a minha sombra reconforta-me, garante-me que há norte ao largo da minha capacidade inata de sentir. Serei capaz de tudo, se respeitar os tempos, os espaços, as memórias, as razões, os ciclos, as pedras, todos os seres. E o instinto.

Confio.

 

Teresa Teixeira

 

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15.6.18

Supergirl - Thomas Abdella.jpg

Foto: Supergirl - Thomas Abdella

 

A autoconfiança é como uma bola de pingue-pongue: às vezes lá no alto; outras vezes no chão (ou mais abaixo ainda).

Recordo com amargura o período em que estive desempregada. Dois longos anos que juntaram uma licença de maternidade, uma empresa em decadência e um mercado de trabalho em franca contração.

Ser mãe a tempo inteiro nunca foi uma ideia que me atraísse, porque afinal, de que serve ser uma (super) mulher se não puder desempenhar diariamente dezenas de papéis e tarefas?

O arrastar dos dias, a ausência de resposta a candidaturas e entrevistas, a falta de contacto com a profissão, foram minando a crença nas minhas capacidades, e tornando cada vez mais ténues as esperanças de um dia voltar a trabalhar na minha área.

 

Mas o pior... foram as pessoas (algumas). Porque é quando estamos mais em baixo que descobrimos o pior das pessoas. A forma como ainda nos fazem sentir pior. Há pessoas que se superlativam diminuindo os outros. Período negro, esse...

Ficou para trás, felizmente. Mas ficou também gravado um ensinamento. Ou vários, até:

Perseverança, perseverança.

Tapetes e uvas podem ser pisados; as pessoas não.

Desistir? Nunca.

Confiança? Em mim. Todo o resto é de desconfiar.

 

Sandrapep

 

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11.6.18

 

Mafalda - Quino.jpg

Foto: Mafalda - Quino

 

Eu confio

Tu confias

Ele confia

Nós confiamos

Vós confiais

Eles confiam.

Que bando de ingénuos, não é?

Mafalda a Contestatária; Quino

 

Será? É de ingenuidade que se trata quando falamos em confiança?

Aparentemente sim, confiança e ingenuidade são duas palavras juntas e casam bem. Mas, sendo a confiança um sentimento de quem acredita, em algo ou alguém, e a ingenuidade uma qualidade ligada à falta de conhecimento, como é que este sentimento e esta caraterística caminham de mãos dadas? Acreditar cegamente que todas as pessoas têm um bom carater e confiarmo-nos a elas, é ser ingénuo. E, no entanto, que outra forma existe de ganharmos confiança, a nossa e a dos outros, se não falarmos uma linguagem de bondade, uma linguagem de ingenuidade?

Às vezes, muitas vezes, falarmos a linguagem do coração faz de nós ingénuos, se calhar sem impacto no outro, ou existindo, sem o efeito esperado e desejado porque não é garantido que quem ouve, ouve também com o coração, mas torna-nos confiáveis.

A ingenuidade é uma virtude que não dura mas, em nós, ela está em estado permanente porque, se descobrimos num momento o que desconhecíamos até então, estamos simultaneamente a ser ingénuos relativamente a outras novas e futuras situações. E continuamos confiando no Outro, no desconhecido, em nós e no nosso saber. Ingenuamente, acreditamos que o amanhã se não for melhor há de ser igual a hoje, e continuamos confiando.

Assim emparelhadas, confiança e ingenuidade, não nos deixarão demasiados permeáveis, desprotegidos e à mercê de forças alheias que nem sempre são de boa vontade? Para nossa defesa, não sejamos ingénuos, nada nem ninguém merece uma confiança ilimitada. É da sabedoria popular que todos temos um preço; encontrado esse preço a tentação é grande e destrói-se a confiança. Confiança perdida dificilmente é recuperada e, de tantas vezes se perder, passamos a conjugar o verbo pela negativa:

Eu não confio

Tu não confias

Ele não confia…

 

Cidália Carvalho

 

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8.6.18

Waterfall - Gerhard Bögner.jpg

Foto: Waterfall - Gerhard Bögner

 

Assim no imediato é como se fosse um delta de um rio a espraiar-se por terrenos quase absolutamente planos, com um caudal grande, pujante, tranquilo, entregando as águas no oceano final, imenso, depositando a aluvião nas margens, assim contribuindo para a sua continuada fertilidade.

Nada aqui nos fará pensar que estas mesmas águas serenas, dóceis, espelhando as margens e as cores e as nuvens do céu, já foram, pelo menos, buliçosas, convulsas, rasgaram saída através de encostas, precipícios, buscando caminho, indómitas, para se juntarem a um curso de água maior, mais caudaloso, mais pacífico, que, por sua vez, segue o seu caminho e termina noutro rio maior, mais largo, mais profundo, mais influente.

 

Nos tempos imemoriais em que as águas pensavam, muito, muito tempo antes desses tempos perdidos em que os animais falavam, nesses tempos as águas sabiam, desde que eram uma gota de orvalho, um pingo de chuva ou um floco de neve, confiavam que iriam, no final, tranquilamente chegar ao mar. Essa confiança, uma crença plena, enchia-as da vontade, meninas agora já em forma de regato, que as fazia escolher o melhor percurso, por mais escolhos, obstáculos que encontrassem. Essa confiança dava-lhes o atrevimento para continuar, mesmo que empoçassem quase estagnando e, com a familiaridade de tanta água junta, haviam de ir mais longe, sempre mais longe, até cumprirem o seu destino.

Sim, a água é fundamental para a vida como a conhecemos, é de lá que vimos e temos avançado, caído, voltado a levantar, porque temos curiosidade, atrevimento, vontade, sonhos, objetivos.

 

Sem confiança não chegamos lá, não vale a pena, sem confiança não acreditamos nos que nos rodeiam. À falta de confiança vivemos e convivemos tão mais dificilmente.

A confiança torna o impossível realizável. Mais do que as águas que têm um destino a cumprir, proporciona-nos construir novos, e no início impossíveis, destinos.

 

Jorge Saraiva

 

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4.6.18

Achievement - Rawpixel.jpg

Foto: Achievement - Rawpixel

 

Acreditar em si próprio e, se possível, nos outros com quem se convive, deverá ser o lema da vida de cada um de nós. Acreditar significa ter confiança em si e nos outros, significa ter confiança naquilo em que se acredita, significa saber lidar com o melhor e o pior, significa ter força mental para vencer as barreiras e dificuldades que se nos colocam no dia-a-dia. É no acreditar que está a raiz da confiança, tão necessária para se conseguir o que se deseja. Quanto mais se acreditar, mais confiança se ganha, mais a esperança será robustecida como força inspiradora e motivadora para se confiar no futuro.

Óbvio que a confiança deve ser mútua, deve ser um elo de fortalecimento entre nós e os outros, para se poder construir qualquer tipo de boa relação entre as pessoas.

Por isso, não basta confiar e acreditar só em si próprio, devemos acreditar e ter confiança nos outros, para deles podermos ganhar a sua confiança. Quem não tem confiança nos outros, deles não pode esperar confiança.

Segundo François La Rochefoucaul, na sua obra “Reflexo”: “a confiança que temos em nós mesmos, reflete-se, em grande parte, na confiança que temos nos outros”.

A confiança mútua, para além de se exprimir num dar e receber de afetos é, acima de tudo, um sentimento que nos traz paz e serenidade, tão necessária nos tempos atuais.

Citando ainda Thomas Atkinson, extraído da sua obra “Crer em si mesmo”: “O mais importante para o homem é crer em si mesmo. Sem esta confiança nos seus recursos, na sua inteligência, na sua energia, ninguém alcança o triunfo a que aspira”.

 

José Azevedo

 

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1.6.18

Girl - Alteredego.jpg

Foto: Girl - Alteredego

 

Tudo começou quando nasceste. Quando nasceste, algo em mim nasceu também, um novo sentimento, ou vários ao mesmo tempo. Desconhecia alguns deles, mas eram todos tão bons de sentir.

Foste crescendo e eu fui crescendo contigo, ensinei-te tudo o que sabia e desde a tua nascença que nos tornámos inseparáveis, ríamos vezes sem conta quando as nossas primas se zangavam uma com a outra, quando lutavam porque queriam a mesma coisa, mas nós… Nós não, nunca fomos de guerrear por nada, partilhávamos uma com a outra, nunca quis ter mais do que tu, queria sempre que tivesses mais e melhor, queria que estivesses sempre feliz; era a irmã mais velha, tinha que olhar por ti.

Lembro-me, tão bem, da primeira vez que fomos ao parque – estavas com medo de subir as escadas e com medo de descer pelo tubo do escorrega; apesar da enorme curiosidade o medo era superior. Lembro-me, tão bem, de te dar a mão e a apertares – olhaste para mim e sorriste. E foi aí, foi nesse exato momento que soube o que era a palavra CONFIANÇA, quando confiaste em mim e me agarraste na mão para subir as escadas, quando esperei por ti no fim do escorrega e te vi descer tão confiante depois de dizer que conseguias. Foi daqueles momentos indescritíveis que nos ficam na memória para sempre.

E foi a partir daí que juntas fomos ganhando forças, fomos ganhando coragem para enfrentar cada obstáculo da vida, enfrentando o medo e ganhando confiança a cada experiência vivida. Prometi estar ao teu lado, prometi ajudar-te, ensinei-te a importância de teres confiança em ti mesma para conseguires olhar em frente e seguires os teus sonhos, acreditando que consegues.

A confiança é a luz que vês ao fundo do túnel, é o alento e a força de que precisas.

 

Inês Ramos

 

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