Foto: Guitar – Lorri Lang
“A natureza tem horror ao vazio”.
Conhecemos o dito, compreendêmo-lo, aceitamo-lo e conseguimos dar um par de exemplos, com relativa facilidade, comprovativos em abono da tese. No entanto a ciência vai afunilando o caminho e aponta cada vez mais firmemente para que afinal o vazio não existe. Vazio no sentido de vácuo, nada.
O silêncio é, assim, algo para além da ausência de som. Existe, tem conteúdo, significado próprio. É mesmo uma forma de expressão. É a possibilidade de dizer o indizível, acompanhado de um gesto, de um olhar, de sublinhar ou acentuar as palavras ditas. Também de as contrariar. De as aceitar, como quem cala.
Vazio, o silêncio? Pode ser a maneira inteligente de evitar uma discussão estéril, de dar sentido e importância ao que os outros, o mundo, nos diz.
O silêncio permite ouvir, pensar, escutar, perceber e compreender. É enriquecedor na exata medida em que nos permite ser recetores. [Sim, o silêncio como opção, ato de vontade, determinado. Não como recurso pusilânime, falso e cobarde.]
Por mais versáteis e ágeis que sejamos, como pensar, ponderar, meditar sem silêncio? E a música, a arte dos sons, como poderá ser ouvida, como sentir o ritmo, a melodia, a harmonia, a estridência, o sussurro e o grito, se não houver silêncio a envolver as notas?
O silêncio, tantas vezes, é medonho e compele-nos a afogá-lo. Refugiamo-nos no ruído e evitamos pensar nisso, naquilo que era mesmo importante.
Na verdade, sem silêncio, como ouvir, como ouvir-nos?
Jorge Saraiva