29.5.17

Guitar - LorriLang.jpg

Foto: Guitar – Lorri Lang

 

“A natureza tem horror ao vazio”.

Conhecemos o dito, compreendêmo-lo, aceitamo-lo e conseguimos dar um par de exemplos, com relativa facilidade, comprovativos em abono da tese. No entanto a ciência vai afunilando o caminho e aponta cada vez mais firmemente para que afinal o vazio não existe. Vazio no sentido de vácuo, nada.

 

O silêncio é, assim, algo para além da ausência de som. Existe, tem conteúdo, significado próprio. É mesmo uma forma de expressão. É a possibilidade de dizer o indizível, acompanhado de um gesto, de um olhar, de sublinhar ou acentuar as palavras ditas. Também de as contrariar. De as aceitar, como quem cala.

Vazio, o silêncio? Pode ser a maneira inteligente de evitar uma discussão estéril, de dar sentido e importância ao que os outros, o mundo, nos diz.

O silêncio permite ouvir, pensar, escutar, perceber e compreender. É enriquecedor na exata medida em que nos permite ser recetores. [Sim, o silêncio como opção, ato de vontade, determinado. Não como recurso pusilânime, falso e cobarde.]

Por mais versáteis e ágeis que sejamos, como pensar, ponderar, meditar sem silêncio? E a música, a arte dos sons, como poderá ser ouvida, como sentir o ritmo, a melodia, a harmonia, a estridência, o sussurro e o grito, se não houver silêncio a envolver as notas?

O silêncio, tantas vezes, é medonho e compele-nos a afogá-lo. Refugiamo-nos no ruído e evitamos pensar nisso, naquilo que era mesmo importante.

 

Na verdade, sem silêncio, como ouvir, como ouvir-nos?

 

Jorge Saraiva

 

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26.5.17

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Foto: Person - Petra

 

Permanecemos lado a lado. Eu aqui e tu aí. Somos reais e concretos e renegamos os ecrãs que nos separam e as demais distrações. Este momento é nosso e decorre agora. Não o percamos com futilidades.

Inicia-se o diálogo e vão-se invertendo os papéis, de quem verbaliza e de quem cala. E é aqui que eu revejo em ti as vontades da humanidade, de quem ferve por conter palavras guardadas, à espera da sua libertação.

Que curiosa, inteira e amarga ironia desta evolução conseguida, onde nunca nos encontramos tão próximos e acessíveis, mas também tão sós e ocos!

E nós retomamos os traços simples que nos tornam pessoas ao acolher a quietude em nós e em nosso redor, deixando que ela se expresse por si mesma, ao abafar os demais ruídos.

É assim que nos ligamos, pela partilha de silêncios profundamente ricos e profundamente cruciais, porque muito se diz nesse vazio de sons que fomenta inesperadamente os elos!

Neste mundo onde se esconde o clamor por silêncio, é absolutamente necessário esse ato comunicacional que sustenta os laços essenciais à vida.

Por isso, deixemos o silêncio falar... Shiu...

 

Sara Silva

 

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24.5.17

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Foto: Church – Lukas Bieri

 

O silêncio pode ser um lugar de refúgio. E é certamente! Mas também é de recolhimento. Não falamos aqui do silêncio que é imposto, por qualquer circunstância da vida ou força exterior, o qual pode ser perturbador ou mesmo aterrador, mas do silêncio escolhido por vontade de alguém que nele se recolhe e deseja reencontrar-se, nele quer meditar, refletir e pesar as suas decisões; enfim, nele aspira encontrar a luz que alumie o seu caminho nesse espaço de meditação.

É nesse estado de espírito, de paz, de tranquilidade interior e serenidade que alguém busca encontrar a inspiração que tanto necessita. E no silêncio pode, seguramente, encontrar-se essas virtudes, escutando nele a voz da razão - o silêncio fala - o que muito poderá contribuir para a realização de muitas ações positivas da vida.

 

É no silêncio e com o silêncio, nele mergulhando profundamente, que se concebem as obras-primas do Universo. Ele tem força e poder, dotado, porém, de regras de conduta ao impor muito respeitinho quando está em causa o exercício da sua própria razão de ser. Saibamos, por isso, aproveitar os seus benefícios, que, diga-se, são muitos, suas potencialidades e, sobretudo, mais que tudo isso, porque é um espaço de abertura, uma porta aberta à comunicação e ao que nos rodeia, usar o poder que nele existe, quando as circunstâncias da própria vida assim o justifiquem. Como dizia Umberto Eco “um silêncio cauto e prudente é o cofre da sensatez.; in Ilha do Dia Antes).

 

José Azevedo

 

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22.5.17

Woman-Claudioscot.jpg

Foto: Woman - Claudioscot

 

Acordo quando os primeiros raios de sol espreitam pela janela. Dou por mim a pensar no que me espera para este dia. Seria para mim um privilégio que todas as manhãs chegasse um pequeno passarinho ao meu ouvido e me contasse o que iria acontecer de significante no dia de hoje, para que estivesse preparada para tudo e todos. Mas não vem. O que vem é o silêncio, às vezes confundido com incerteza do que se passa, do que se pensa, do que se faz na nossa ausência. Este silêncio é como uma arma. Contra ele ninguém discute sem perder.

 

Quem me dera conseguir ficar em silêncio sempre que tenho tanta e tanta coisa para dizer... Falar de mais cria pontas soltas que retornam sempre ao nosso caminho com más intenções. Mais vale nada saber, então, pois assim não falamos. No fundo, o silêncio do que não dizemos e não ouvimos é como um tesouro com o qual devemos saber lidar, devemos saber o que fazer com ele.

Estar em silêncio não é só estar calado. É não falar apenas quando não é preciso, gerir essas ocasiões. É saber escutar, enquanto a nossa mente por vezes grita. Se paramos para escutar, é também um tesouro conseguir respeitar o silêncio dos outros.

Deito-me, sedenta do silêncio da noite.

 

Sónia Abrantes

 

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19.5.17

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Foto: Drip - Peter

 

As gotículas de água, que pendiam dos nós do arame farpado, denunciavam o fim de mais um aguaceiro. Expostas aos raios de um sol pouco atrevido, tímido até, serviam de espelho à luz que se refletia como uma palete de cores variadas. Fascinada com o brilho colorido das gotas de água, lá se deixou ficar a uns passos da vedação que a separava do mundo e lhe roubava a liberdade. Sentia-se abençoada por usufruir daquela beleza num lugar assim.

Tudo lhes era proibido. Não podiam rir, nem tinham razões para o fazer. Não podiam ser felizes, nem tinham esperança de vir a sê-lo. Só a morte circulava livremente por ali. Condescendiam, porém, e deixavam-nos sobreviver a troco de trabalho duro e indigno.

Estática, encharcada e com os ossos amolecidos, tão pouco defendidos por roupas e carnes, apenas pele de envelhecimento temporão, em silêncio para não quebrar o condão, contemplava-as. A uma em especial. Enxergou-a por ser maior do que as outras e obstinada em resistir à queda que lhe acabaria com a existência quando se precipitasse no chão. A brisa que soprava abanava-a, mas não a desprendia. Admirava aquela minúscula formação da natureza e a força com que resistia a ser destruída. Viu-a crescer em tamanho e à medida do seu desejo de liberdade. A pequena gotícula cresceu e tornou-se grande, tão grande, capaz de a acolher dentro da sua enorme bolha, elevá-la à altura da vedação e levá-la pelos campos verdes até ao rio inatingível, apesar de tão perto. Banhar-se-ia nas águas limpas e descê-lo-ia até a um lugar seguro e calmo. Não mais precisaria de sonhar com a liberdade que é coisa que não deve ser sonhada, mas vivida como coisa real.

A gotícula começava a fraquejar, perdeu a forma arredondada e ganhou aparência de lágrima. Aproximava-se da rendição, estatelar-se-ia no chão. Não podia deixar que ela caísse, com ela levaria o seu sonho de liberdade. Deu um passo, pesado e lento, mas determinado. Arrastou a custo os pés na lama, ainda faltavam alguns metros, mas salvaria o seu sonho.

 

Os gritos dos brutos para que se afastasse da vedação não a interromperam, na verdade, nem os ouviu. Aprendeu a não os ouvir, o silêncio protegia-a daquelas vozes duras que tantas vezes a feriram.

Com um brilho chamativo a gota de água continuava lá a debater-se para se manter ligada ao arame e, ela cada vez mais próxima, mais um passo e poderia recolhê-la na mão e deslizar para longe. Mas, que dor era aquela? Queimavam-lhe as costas, faltavam-lhe as pernas. Tombou sem forças no solo enlameado cor de sangue. A vedação abanou e a gota de água desceu suavemente como uma carícia no rosto da infeliz sonhadora.

O grito dos brutos há muito que se calaram em Auschewitz, mas o gemido dos vencidos continua a ouvir-se no silêncio incomodativo do lugar. Nos campos de concentração, esses buracos negros da humanidade, não há vazio, envolve-os um silêncio repleto de medo, indiferença, indignidade e todos os demais adjetivos que nos possam envergonhar.

Um silêncio povoado de dor.

 

Cidália Carvalho

 

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17.5.17

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Foto: Silence – Alexandr Ivanov

 

O silêncio é, muitas vezes, o único argumento e um apontamento de liberdade; a liberdade do outro e a minha liberdade. Tenho momentos em que me apetece ouvir o silêncio: momentos em que preciso de estar sozinha; momentos em que visito os que me deixaram; momentos em que as palavras só iriam prejudicar o desenrolar do acontecimento. O silêncio vindo de mim são paragens de discurso e do pensamento centrado na minha vida e acontecem, ou deveriam acontecer, em diversas situações quotidianas, quer profissionais, quer pessoais. O silêncio na interação com os outros e na ajuda ao outro é uma ferramenta poderosa; ajuda a ajudar. É um sinal de respeito pelo outro que necessita de ser ouvido e que descodifica as suas dificuldades. Para isso, eu preciso de ter momentos de abertura e de colocar nesta interação o meu silêncio. Ouvir, ouvir e escutar implica o meu silêncio. Estas paragens nem sempre acontecem com facilidade, justamente nas pessoas que são treinadas para falar, para emitir opinião e para apontar soluções.

 

A formação ensinou-me estes princípios, mas a experiência de vida ajudou-me a sedimentar esta ideia. Temos diversos tipos de conhecimento; o conhecimento formal, que me indica que o silêncio é uma componente da comunicação necessária; o conhecimento pessoal vindo da minha experiência que me ajuda a desenvolver este pressuposto; e o conhecimento ético que me informa que tenho um dever: o dever de ouvir/escutar as pessoas e de as ajudar. O silêncio ajustado e trabalhado a cada situação nem sempre pode ser substituído por qualquer outro elemento da comunicação… porque, por vezes, só o silêncio ajuda!

 

Ermelinda Macedo

 

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15.5.17

 

Boardwalk-ArekSocha.jpg

Foto: Boardwalk – Arek Socha

 

"...

Più bella cosa non c'è

Più bella cosa di te

Unica come sei

Immensa quando vuoi

Grazie di esistere

..."

Più Bella Cosa; Eros Ramazzotti

 

Cada dia que chega traz-me a certeza que és tu, que és única. Por isso, agora, cada dia que passa deixa em mim um pouco mais do medo de te perder. Perder-te por um qualquer erro meu, por te desmerecer, por não conseguir revelar como és imensamente tudo para mim, por chegar a hora de eu partir, por seres tu a partir.

 

Como ficar com a falta de ti? Como acordar? Como sair? Como estar? Como respirar? Como voltar a olhar os lugares onde te vi? Como parar de pensar em ti? Como deixar de te desejar? Como parar de chamar por ti? Como parar de te tocar, de te cheirar, de te beijar?

Como partir sem ti? Para onde, sem ti? Porquê sem ti? Como esperar por ti? Como aguentar a dor de te ver sofrer, sem poder proteger-te? Quanto tempo terei de esperar por ti?

 

Ninguém entende. Ninguém imagina como só somos livres, plenamente livres, um com o outro, um ligado ao outro, um preso ao outro. A minha liberdade traz-me inevitavelmente até ti e fico pleno. Quero viver preso para ser livre. Quero viver contigo cada segundo, pois não sei quando nos perderemos. Quero sentir, saborear, deixar-me envolver, sempre, daqui, deste instante, até onde e até quando for possível, e para além.

 

Contigo! Muito obrigado por existires.

 

Fernando Couto

 

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12.5.17

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Foto: Dance – Public Domain Pictures

 

Pensando em todas as cenas de amor que tive o privilégio de vivenciar e presenciar até aos dias de hoje, lembrei-me que uma coisa que sempre me comoveu foi ver a adoração do meu marido pela Mãe, os seus olhos cor de oceano como que se liquefaziam de deslumbre ao olhá-la; “Minha riqueza”, chamava-lhe. Muitas vezes pensei que se um dia um filho me olhasse assim com tamanha ternura e desvelo, nada me faltaria.

Na verdade, não existe amor mais exaltado do que o amor de Mãe. Às vezes em exagero, convenhamos. Diariamente, nas redes sociais vemos verdadeiras declarações de mulheres que dizem que ser Mãe é a melhor profissão do mundo, de filhos que fazem verdadeiras declarações à Mãe, não faltam blogues e sítios da “especialidade” e coachs, todos a quererem ajudar, a opinar, a criar teorias e estratagemas para que nada falte às crianças, e que ainda assim, a mãe consiga arranjar um “tempinho” para si... Esqueçam. Deixem que vos diga: ser Mãe é muito difícil e por vezes uma tarefa muito ingrata. Não muito raro, digo “não” ao meu filho, questionando-me se afinal não poderia ceder. Ser Mãe faz-me questionar a toda a hora se estou a fazer o que realmente é melhor para o meu filho, ou então, faz-me cobrar a mim própria que deveria fazer melhor. Ser Mãe também é ingrato, porque às vezes gostava de não ter que ser tão “generala” e ser apenas amiga do meu filho, gostava de agarrar nele e dançar à chuva. É uma dúvida constante entre o que se fez e o que deveria ter-se feito.

 

No entanto, creio que o meu filho, de certa forma, me aquietou o coração durante a minha festa de aniversário quando, quase no final, me arrastou para a pista de dança e foi a correr segredar qualquer coisa ao DJ. “Mamã, pedi esta música para ta dedicar; aceitas dançar comigo?”. E eis que começa aquela kizomba mais que conhecida “Essa miúda é linda”. Então, aquele pequeno ser de 9 anos, que só pensa em Legos e futebol, olhou-me com aquele olhar azul cristalino. “Amo-te Mamã! Eu pedi esta música ao senhor porque para mim és a miúda mais linda do mundo!”, e foi então que vi aquele olhar que me era tão familiar, só que ainda mais especial, porque este olhar era para mim!! Como que a dizer-me que não está a correr mal esta coisa de ser Mãe. E o meu cálice transbordou.

 

Se pensar bem, de uma forma geral, há vários tipos de amor, que vão entrando e saindo da nossa vida sem nunca perderem o valor da eternidade, que inevitavelmente nos definem como pessoa e, como tal, também o amor que fui vivendo pela vida fora, o amor pela minha família, pelos meus amigos, por todas as coisas de que gosto verdadeiramente e mesmo o meu sempre-em-construção amor-próprio me definem. E eu nada seria se me faltasse um destes alicerces. Mas aquele amor que realmente me move é sem dúvida o amor que tenho pelo meu filho, porque a minha família ama-me da maneira que sou, tal como os meus amigos e portanto posso ser eu própria e, mesmo cometendo erros, sou absolvida porque me amam. Já para o meu filho tenho que ser exemplo, tenho que viver naquele exercício de equilíbrio entre ser educadora e compincha, tenho que dar o máximo de mim e, sobretudo, continuar a ser aquela miúda linda, para receber o olhar que me impulsiona para a frente, no sentido da vida. E um dia hei de dizer-lhe: “Aceitas dançar comigo à chuva?”.

 

Ana Bessa Martins

 

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10.5.17

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Foto: Fatigued – Sasin Tipchai

 

Por alguma razão, quem melhor escreve sobre o Amor são os poetas. Porque só as mais belas palavras, metáforas e seres sensíveis originam a melhor mistura para se descrever o indescritível. Como nascer num país de poetas não faz de mim uma poetisa, apenas vou escrever o que eu sinto que é o Amor. E aqui refiro-me ao amor entre dois seres, não necessariamente Amor de casal.

 

- Amor é equilibrar o conceito de espaço. É permitir estar-se perto o suficiente para estar e longe o suficiente para ver o outro na sua totalidade, sem apego, sem forçar.

- Amor é liberdade. É permitir que o outro seja, e não quem nós queiramos que o outro se torne.

- Amor é confiança. É aceitar que o medo de perder, de ser trocado, é apenas posse pelo outro. O amor não se tem. Sente-se.

- Amor é aceitar. Aceitar o que se recebe, sem querer nada em troca, sem comparar, sem exigir. Quem ama, recebe.

- Amar é mudar. A partir do momento em que se ama alguém, não se é mais igual, pois sente-se mais amor.

 

Amar não é perder a si mesmo. Mas sim encontrar-se.

Como disse um poeta “o Amor é o encontro de duas liberdades”!

 

Sara Almeida

 

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8.5.17

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Foto: Couple – Dimitris Vetsikas

 

“A maior solidão é a do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana. A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo, o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.”

Vinícius de Moraes; “Para Viver um Grande Amor” (Companhia das Letras)

 

Não há uma definição única do que é o amor. Acho que cada um ama à sua maneira. Posso dizer o que é o amor para mim e ainda assim, tenho certeza que essa conceção foi mudando com o tempo e com as experiências da vida.

Na adolescência somos tomados abruptamente e arrebatados pelo amor romântico (quando não platônico) e acreditamos que jamais seremos capazes de amar alguém com a intensidade que amamos o primeiro amor, ainda que nem saibamos bem quem aquela pessoa era de verdade. À medida que vamos nos relacionando com as pessoas e com o mundo, podemos experimentar diferentes formas de amor (e de amar) e como esse sentimento se manifesta na vida de cada um. Acho muito comum dizer que não existe amor maior que amor de mãe, mas não é todo mundo que tem a sorte de experimentá-lo.

Hoje, para mim, amar é estar presente. É acolher, cuidar e compartilhar o que se tem. É fazer parte da vida de quem se ama por escolha e não por obrigação. É gostar de estar junto, simplesmente por estar e poder lembrar como esse momento compartilhado é precioso. Independente se for um amor entre amigos, entre amantes, entre pais e filhos, entre humanos e seus bichos. Independente dos rótulos sociais todos e das fotos publicadas em Facebook. O mais importante é realmente compartilhar a vida com quem se ama.

 

Leticia Silva

 

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5.5.17

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Foto: Man – Manfred Antranias Zimmer

 

Uma vez o destino decidiu emendar o erro que o tempo vinha cometendo. A tua ausência da minha presença disso fazia prova. Gravosa era a falha, até porque o tempo me tinha ouvido clamar teu nome, apesar de ainda não o conhecer. Em sua defesa, pedia o tempo, que decidisse afinal se eras loira ou morena, mais doce ou mais rebelde, mais tudo ou menos nada… E à medida que ouvia esta lamúria, eu pedia mais tempo ao tempo, apenas para decidir como serias. E assim o destino, cansado de ouvir falar de culpa e indecisão, tantas vezes terrível e cruel, decidiu ser bondoso. De tão bem-disposto que andava, chegou mesmo a ser cómico ao mostrar que, ao contrário do que se acredita, às vezes, mas só mesmo às vezes, quanto maior for a procura, menor é a recompensa.

 

Rui Duarte

 

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3.5.17

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Foto: Family - rmt

 

Todos desejamos amor uns aos outros, uma ou outra vez, numa ou noutra ocasião. Desejamos ainda que haja no Mundo e entre todos. Falamos tanto dele mas quando surge a pergunta “o que é o amor?”, a boca fica muda, os olhos perdem-se em pensamentos longos que são rompidos de forma algo corajosa e por vezes certeira, dada a sensibilidade do tema, por explicações do amor que lhes foi ensinado, que sentem em si, o amor que lhes pertence.

Existem várias caraterísticas que são associadas por todos, de forma inequívoca ao amor, mas será esse o amor de todos nós? Poderá este ser definido? Como explicar e falar de algo tão profundo, complexo e necessário que nasce e morre de forma inexplicável dentro de cada um de nós? De um sentimento que possui as mais variadas formas de manifestação? Pelos amigos, pela família, por aquela pessoa que desejamos ter ao nosso lado pelo resto dos nossos dias e, sobretudo, aquele que a vida me tem ensinado ser o mais importante e o pilar de todos os outras formas de amar – o amor por nós mesmos.

São estas as perguntas que me enchem a alma quando os meus olhos se perdem em pensamentos logos, em busca da resposta à “tal” pergunta.

Quando se interrompe o meu silêncio, relato que este é, aos olhos do meu ser, o sentimento mais nobre que se pode experimentar, o conjunto perfeito e harmonioso de tudo que existe de bom dentro do ser humano. Creio, de mim para mim, que o amor é a cura do Mundo. A sociedade que nele habita vive sedenta de manifestações deste sentimento que se perde entre rotinas cruéis que nos consomem, compensando a escravidão invisível a que nos conduz, sob a forma de bens materiais dos quais acabamos por sequer ter tempo de usufruir, perdendo-nos assim entre a ida e a volta, sem viver realmente nem uma nem outra.

 

Pare. Reflita.

Qual o papel que o amor tem representado na sua vida? Qual o lugar real que ele tem tido no seu dia-a-dia? Qual o tempo que lhe dedica? Tem-se amado?

 

Landa Cortez

 

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1.5.17

Sad-MorrisSneor.jpg

Foto: Sad – Morris Sneor

 

Amanhã fazes anos. Olho para trás e em retrospetiva vejo que errei tanto! Porque não sabia; porque foste o primeiro.

Não te dei colo suficiente e agora mal consigo sentar-te ao colo, porque já estás tão crescido! Não te dei beijos suficientes, e agora beijo-te todos os dias, em todos os momentos possíveis. Mas nunca chega para mim nem para ti. Não te abracei o suficiente e agora os meus braços começam a ser curtos para te abraçar. Mas abraço-te na mesma, com todo o sentimento (imenso) que tenho por ti.

 

Dizem que não há amor como o primeiro; e é mesmo assim. Foste o primeiro, e és tão especial por isso! Vivemos experiências irrepetíveis, brincámos, sorrimos. Conversámos – tanto! Quero agarrar-me ao tempo, porque te vejo a crescer e tenho medo de te perder: para os outros, para a vida. Orgulho-me de te ver crescer, mas ao mesmo tempo desejo que o tempo pare. Queria continuar a proteger-te; sobretudo, dos teus medos.

 

Mudaste de ano, de escola. Um 1º período que iniciou estranhamente bem, mas depois descambou. O novo, o diferente, as regras, os desafios, tudo junto foi às vezes demasiado para ti. Apesar disso venceste esse caminho e o 2º período está a ser melhor. Aos poucos, vais-te habituando. Mas custa não te ver feliz, entusiasmado com alguma coisa! És inteligente, sonhador, bom. Tinhas tudo para ser bem-sucedido no jogo social, porém há qualquer coisa que te impede de te deixares ir. Mas uma coisa é certa: és como és; tenho que te aceitar assim, empurrar-te às vezes, contudo, deixar-te viver a vida de acordo com a tua perspetiva.

E estar sempre aqui. Para o caso de ser preciso.

 

Sandrapep

 

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