29.7.16

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Foto: Mouth – Gianni Crestani

 

Diz-se que existem três coisas que, quando partem, nunca regressam, designadamente a palavra proferida, a pedra lançada e a oportunidade perdida. As caraterísticas materiais e formais destes objetos, em sentido restrito, conferem certa qualidade que adjetiva a ação, assim, dependendo do impacto causado, nada garante que haja uma segunda vez, a menos que o sujeito a crie para se retificar e seja entendido como tal.

Todavia, é inevitável que ocorram estes incidentes, quer seja por ignorância, desinteresse, ou falta de atenção, nalguns contextos mais propensos à aceitação do risco a prediposição para errar é, mais do que a assumpção da natureza humana, uma abertura para o aprendizado num processo de transformação da matéria de forma criativa. O caminho para a inovação ou desenvolvimento implica cometer erros através dos quais aprendemos a lição e melhoramos a nossa prestação nas ocasiões futuras até acertar, numa sequência de tentativas incertas.

Numa aldeia cada vez mais global, em que o espaço transcende a dimensão física, perdem-se as referências e conteúdos locais devido ao imperialismo de protótipos externos que ganham relevância devido ao descohecimento ou fraca consolidação dos modelos locais. Essa baixa compreensão e desinteresse pela cultura local é campo fértil para a aceitação de ideias rotuladas de ocidentais por alegadamente serem melhores que as locais.

Uma ideia deve ser tratada como tal, um ponto de partida, exigindo algum rigor, profundidade e cuidado, o que implica uma apreciação prévia antes de passar a fase de aceitação ou refutação. Pelo método científico o pesquisador, partindo de uma inquietação válida e conhecida, define pressupostos estruturalmente consistentes e com base em instrumentos robustos recorre ao campo para recolher dados imparciais com vista a sua validação face aos pressupostos previamente definidos, e assim poder emitir uma opinião materialmente relevante.

Para alguns a especulação alimenta a ânsia pela verdade, para muitos a especulação confunde-se com a verdade, pois não se permitem aprofundar as matérias muito menos despender um processo mental, nomeadamente de investigação, explorando a arte de pensar nas dimensões de perguntar e de duvidar, e daí formar uma opinião sólida e própria que resulta da consolidação do conhecimento gerado neste processo.

 

É interessante notar a força da especulação que ganha supremacia num ecossistema em que o conhecimento não é prioridade, à medida que for sendo repetida de forma ressonante ofusca a intuição humana, ganha contornos de verdade e levará algum tempo até que a verdade absoluta se sobreponha e recupere o seu lugar.

Não é de estranhar que vulgaridades encobertas pelo populismo tenham alguma preponderância relativamente à verdade, é o mundo de quem fala mais alto ou mais depressa. A franqueza com que é proferida uma verdade com algum nervosismo à mistura fragiliza a antítese, a menos que haja um juízo competente, independente e imparcial para neutralizar a subjetividade e focar-se no objeto avaliando não só as palavras, mas também o contexto em que se insere e a linguagem corporal. Com algum ceticismo diria que, enquanto houver espaço para a manipulação do processo, os meios podem justificar os fins no curto prazo, mas a verdade revelar-se-á.

 

António Sendi

 

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27.7.16

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Foto: Sunrise – Claus Heupel

 

Gostaria de pensar que no momento de partir, seja em que dia, hora, idade for, que a vida, no geral, valeu mesmo a pena ter sido vivida. Sentir que me cruzei com as pessoas certas, que estive nos lugares certos, que fiz as escolhas certas… enfim, gostaria de pensar assim. Na verdade, se partisse agora, sentiria que no geral, tive uma boa vida, mas para ser franca, cruelmente franca, há erros que cometi. Já houve decisões que foram um tremendo erro, já disse coisas que foram totalmente absurdas, já tive pensamentos negros, já estive nos lugares errados, já calei quando devia ter falado, não defendi quando devia ter defendido, não ajudei quando devia ter ajudado, já me ri quando devia ter sentido compaixão, já acreditei em palavras que eram ilusórias e já neguei o que podia ter recebido… tantos erros… e como o Tempo é Irreversível, não posso visitar o passado para remexer no que já foi. Mas posso mexer no Agora. E se o passado é irreversível, fico muito feliz por, a cada dia que acordo, poder mudar o Presente… e o Futuro. Que bênção que é cada dia! Que bom que é saber que Hoje posso ser bem diferente. Que posso, em situações idênticas às do passado, fazer toda a diferença. E é por isso que apesar de existirem situações que não posso mais mudar, há algo que é Reversível: posso não ter o poder sobre o que me acontece, mas tenho o Poder de reagir com mais sabedoria ao que me acontece! E o Irreversível pode, hoje, ser um trampolim para me tornar num Ser melhor.

 

Sara Almeida

 

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25.7.16

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Foto: Logo – Gerd Altmann

 

Descobri a dificuldade em encontrar algo na vida, ou no mundo, que seja irreversível, e não encontrei. Num primeiro olhar achamos que a morte e o tempo são irreversíveis. Tudo me surge como sendo reversível em algum momento ou circunstância, o que me proporciona uma sensação de tranquilidade na existência.

Quantos já ultrapassaram o limbo que separa a vida da morte e foram resgatados desse túnel luminoso que dizem conduzir a uma paz eterna! Os fusos horários apresentam-se como uma forma divertida de viajarmos no tempo. Podemos avançar ou recuar no tempo, pelas 24 fatias da Terra, tendo como referência o meridiano de Greenwich. É-nos oferecida a oportunidade de repetir minutos ou horas já vividas, ou a possibilidade de saltar no tempo sem desfrutar desse tempo residente de um qualquer fuso horário do nosso passado.

Quantas vezes no percurso da nossa própria vida, reconhecemos períodos ou fases que nos transmitem a sensação de estarmos a reviver algo que já tínhamos experienciado anteriormente. Como se de uma espiral se tratasse, parece que a vida nos desafia a reexperienciar a mesma situação com uma nova roupagem, talvez com a intenção de nos fazer aprender e evoluir para um patamar acima. Tal como a cadência de noite e dia, a sequência das estações do ano, primavera, verão, outono, inverno, primavera… em que cada instante parece idêntico ao anterior, deixando-nos atordoados nestes movimentos de rotação e translação.

 

Prefiro encarar a irreversibilidade como sendo uma convenção utópica, castradora de sonhos e de aprendizagens, inibidora do desenvolvimento e da evolução. Porque a vida é feita de avanços e recuos, aprendizagens e repetições, de segundas oportunidades!

 

Tayhta Visinho

 

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22.7.16

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Foto: Apple – Public Domain Pictures

 

Certas coisas na vida são mesmo irreversíveis. Simplesmente não podemos voltar no tempo e apagar palavras que foram ditas (ou dizer as que não foram), não podemos voltar atrás em caminhos que percorremos, o passado não se muda. O que foi feito assim permanecerá. Mas certamente podemos optar por refletir sobre quem fomos no passado, sobre as coisas que gostaríamos que fossem diferentes, sobre tudo que deixamos para traz, inacabado. Há tantas coisas que simplesmente abandonamos pelo caminho. Tantos sonhos que ficam esquecidos, mas quase tudo na vida é passível de mudar. Depende de nós, acima de tudo, querer mudar de verdade, ao invés de se lamentar pelo que já não podemos reverter. Perdemos imenso tempo a reviver aquilo que não podemos mudar e muito pouco a trabalhar nos nossos sonhos, a nos empenhar em sermos pessoas melhores, a nos dedicar a construir um futuro pelo qual sintamos orgulho. São as escolhas que fazemos hoje que irão sustentar o nosso caminho amanhã. Alguns hábitos são mesmo difíceis de mudar.

 

Acho que fazer dieta (por experiência própria) é um grande desafio. No mundo em que vivemos, as ofertas de comidas pouco saudáveis e tentadoras são proporcionais aos alertas de doenças que os maus hábitos podem nos trazer. Mas em algum momento, realmente precisamos ter claro qual caminho queremos escolher: o da saúde ou o da doença. Essa escolha não depende dos anúncios de TV, é uma escolha nossa, escolha essa que se confirma a cada refeição que fazemos. E isso se aplica a muitas escolhas da vida, acho que a todas. Pensar em quem queremos ser em poucos anos e insistir nisso, afinal o tempo passa e o passado não se muda...

 

Letícia Silva

 

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20.7.16

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Foto: Person - Petra

 

Podemos até saber o que queremos da vida, mas nunca o que esperar dela, tal como daquele colega de carteira meio incerto, que nunca percebemos se é mesmo nosso companheiro, ou se pela calada faz queixinhas de nós à professora, o mesmo que nunca sabemos se nas brigas nos vai defender ou ajudar a bater.

Deixa-me ser a miúda das tranças que te sorri com ternura, e cúmplice, te pisca o olho enquanto levas a reprimenda da professora, que te ajuda a tratar as feridas depois do pugilato com o Gudas do 9.º ano e ainda diz que da próxima vez é que vai ser! Ah, pois vai! Da próxima vez vamos fazer a folha ao Gudinhas!... Ideias que acalentamos naquele espaço do nosso coração em que a nossa criança interior ainda tem voz. Porque às vezes me fazes sentir assim: leve e sorridente, como uma miúda.

Seria bom se a vida se fizesse apenas de dança, sorrisos e afetos… Mas não, às vezes parece que faz até questão de nos atormentar e de não deixar que nos sintamos tranquilos. Nem felizes. Como se ser feliz não fosse vencer na vida, mas sim vencer à vida.

No entanto, essa mesma vida castrante que tão má sabe ser, acaba por nos trazer um punhado de coisas boas, que ficam, que amaciam e adoçam o caminho… Mas não as dá de mão beijada: há que saber segurá-las de mão firme para nada se esvaia entre os dedos. É onde te seguro: na palma, de encontro ao peito.

 

Ana Bessa Martins

 

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18.7.16

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Foto: Girl - Adina Voicu

 

No tempo e no espaço em que nos situamos, a nossa vida percorre o seu caminho num sentido irreversível. Para uns, é mais longa; para outros, é mais curta. Para todos, porém, atingindo o seu limite que lhes é imposto pela própria “Natureza” não volta para trás. É assim a essência da vida! Já diz a sabedoria do povo que “a primavera volta sempre, mas a mocidade não volta mais”, refletindo-se neste pequeno aforismo popular o caráter irreversível da vida. O relógio do tempo - se assim podemos considerar - que marca as várias fases da nossa vida, não para até atingir o seu limite. O presente sai do passado, o futuro sairá do presente. É a razão de viver no espaço que chamamos Terra, num tempo que é sempre o mesmo, por onde passa a nossa vida. Nele, passamos e vivemos com tudo o que nos é inerente, nesse tempo que é infinito, mas limitado temporalmente para todos nós. Todas as coisas naturais da vida, consideradas como naturais, ocorrem sempre num só sentido, numa direção irreversível, sendo por isso fácil reconhecer a ordem temporal com que acontecem. As ações irreversíveis são muito comuns na “Natureza”, pelo que devemos saber compreendê-las e aceitá-las, pois só assim estaremos no caminho certo da vida. Em contraposição, as atitudes de todos nós, enquanto dependentes do nosso arbítrio ou da nossa vontade, poderão, na maioria das vezes, ser revertidas quando assim se justifique e contribua para a afirmação da dignidade humana. É com base neste princípio e quando estão em causa os valores fundamentais da sociedade, que, sendo possível, devemos saber recuar, voltar ao princípio para corrigir as nossas atitudes e as nossas ações.

 

José Azevedo

 

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15.7.16

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Foto: Seagull - Unsplash

 

Sabes, um destes dias – daqueles dias perfeitamente normais em que nada de interessante mereceria registá-lo - olhei para mim.

Não me olhei ao espelho (até porque raramente me olho ao espelho; não consigo encarar-me, percebes?). Olhei para dentro de mim, para a minha essência, para o meu ser. E não gostei do que vi.

Aconteceu de repente, sem que voluntariamente eu o desejasse. Eu estava apenas ali, na varanda, a olhar para a tarde que terminava sem pressas, enquanto uma gaivota espreguiçava as asas na pequena piscina em que se banhava.

E pelo seu caráter inesperado, este momento atingiu-me como um raio.

 

Primeiro, vi um vazio. Não um vazio emocional (Ah! as emoções! Poderia vendê-las aos molhos!), mas um vácuo intelectual, cultural, social.

Senti-me roubada, compreendes?!

Quem me retirou as convicções, pensamentos, os argumentos bem defendidos?

Quem me arrancou as minhas preferências, hobbies, vícios e manias?

Quem apagou aquilo que eu era e aquilo que eu projetava ser?

Um vidro lavado de uma janela é mais interessante. Sou transparente. Desapareci. (Conseguirás ainda ver-me?)

E pergunto-me se este será um caminho sem volta, se poderei ainda resgatar-me.

Todavia, neste momento, as únicas respostas que me surgem são aquelas que aparecem nos questionários para evitar um beco sem saída:

Nada. Não sei. Não respondo. Não aplicável.

 

Sandrapep

 

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13.7.16

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Foto: Girl – Alexandr Ivanov

 

Costumava pensar que irreversível era a morte. E depois estive tão perto dela e percebi que sei lá se é irreversível ou não, porque na verdade não morri. Sei lá se é o fim, ou uma transformação, ou um passo para outra dimensão, ou o nada total. Não sei mesmo se é irreversível.

 

Irreversível é viver. Cada escolha que fazemos, cada decisão que tomamos, o modo como vamos moldando o nosso destino. Os passos que damos, os cursos que escolhemos tirar ou não, os empregos. O modo como cuidamos da nossa saúde e do nosso bem estar físico ou psicológico, se somos ativos ou passivos. E os imponderáveis, como um acidente de viação que nos incapacita para a vida e nos rouba anos de qualidade de vida. Irreversível é tudo o que fazemos porque tudo define a nossa história e o nosso percurso, quer queiramos quer não. Se tivéssemos noção disso muito cedo, acho que não nos mexíamos.

 

Mais importante ainda, irreversível é como amamos, quem amamos, o que fazemos com os nossos amores e afetos. Se os regamos e alimentamos ou se os levamos a definhar, a morrer. É o modo como acabamos por ser felizes ou infelizes porque menosprezamos amores, demos coisas por garantidas, fomos levianos, fúteis. Irreversível e perigoso é optarmos por ser egocêntricos e egoístas. Magoarmos aqueles que nos amam, isso sim, não tem volta.

Por isso é que a espontaneidade tem que ser programada; somos tão dados a cometer erros graves que é preciso pensar. E, sobretudo, acreditar. Acreditar cegamente no amor, no companheirismo, na honestidade total.

Há riscos que podemos e devemos correr. Normalmente têm a ver com pessoas. Tudo o resto é secundário.

 

É por isso que dedico esta crónica à pessoa mais importante da minha vida, o meu amor. E ao nosso filhote. Porque aquilo que mais desejo é que, apesar dos tropeções e das dificuldades, o nosso amor seja para sempre irreversível.

 

Laura Palmer

 

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11.7.16

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Foto: Old People – Claudia Peters

 

Passou tudo tão rápido: as folhas no calendário, a vida, as sensações, as decisões que, hoje, nem sei se foram realmente minhas. Vivi no escrutínio divino sem sentir a humanidade em mim. Zanguei-me tantas vezes com o mundo, exigi a perfeição de quem sempre me rodeou – e eu nunca fui perfeito. Fui amado enquanto vociferava coisas sem sentido, fui amparado, mesmo quando caía sozinho. Tudo o que tive foi fácil demais, foi como soprar uma vela de aniversário num bocejo descuidado. Fiz planos, sim, muitos planos, para mim e para os outros, e vivi sempre na antecipação do momento seguinte - alguém tinha de se preocupar com isso, num mundo insano em que tudo andava à deriva. Havia de chegar o dia do descanso, o dia do lazer absoluto, o dia em que os filhos estariam arrumados, empregados e, se possível, felizes; o dia em que a Antonieta estaria também reformada e poderíamos fazer todas as viagens com que me atormentou, durante anos, até ao mais ínfimo detalhe. Mas agora, agora não era tempo para lamechices ou diversão, agora não. Agora era preciso ser racional, ter a cabeça no lugar, fazer dinheiro, garantir o sustento da família. Mais do que isso: era preciso assegurar o sucesso da família, o bom nome, o respeito de todos.

 

Os filhos queixaram-se sempre: nunca fui presente o suficiente, amoroso o suficiente, interessado o suficiente. Assim que perceberam que o “agora” seria sempre um “depois”, que o amor do pai podia significar um novo gagdet ou aquele par de calças super fashion, deixaram de se queixar. Passaram a viver felizes com o que tinham mas, aos poucos, fui deixando de saber quem eles eram. A Antonieta também vivia insatisfeita, queixou-se anos a fio. Chorou e fez cenas dignas de qualquer tragédia grega, felizmente, dentro da privacidade do nosso lar; só não a deixei porque me poupou dessas vergonhas em público. Sempre a amei, mesmo quando não o percebia, mas irritava-me ela não ser capaz de entender que só um homem que realmente a amava, podia trabalhar como um louco para garantir que nada lhe faltava. Como era possível ouvi-la dizer que lhe faltava o mais importante, sem me sentir irado? Como explicar o amor e a dedicação a quem vive de eufemismos românticos? Felizmente, três décadas depois de termos casado, deixou de me atormentar. Nunca mais chorou - nem baixinho, não voltou a falar em viagens, jantares a dois ou idas ao cinema. Achei que tinha, finalmente, aprendido a ser feliz. Eu sentia-me, sem margem para dúvidas, muito mais feliz.

Da longa lista de insatisfeitos e queixosos da minha vida, fazem também parte os amigos. Sim, tive uma boa dúzia de verdadeiros amigos ao longo dos anos que, tal como a Antonieta, tornaram a minha existência um inferno, sempre com solicitações, telefonemas e apelos a “gozar a vida”. Cambada de imaturos, pensava eu. Enquanto eu cumpria todas as minhas obrigações e pensava no futuro, eles encontravam-se amiúde para eventos de família, férias, exposições e abraços sem sentido nenhum. Cheguei a perguntar-lhes se aquela utopia toda os ia alimentar, vestir e, provavelmente, sedar quando a velhice se instalasse. De que se iam rir depois quando tivessem uma reforma miserável – ou, pior, nenhuma reforma, quando os filhos andassem por aí a mendigar esmolas ou quando um cancro os levasse, como castigo, claro, por todas as asneiras que faziam. Apesar de tudo o que lhes disse, mantiveram-se a meu lado, de pedra e cal, até a vida lhes minar a capacidade de amar um presunçoso moralista, que nunca faria o mesmo por eles. Cada telefonema deles que deixei de receber, trouxe-me alívio, devo dizer. A minha vida começava, lentamente, a entrar nos eixos. Todos à minha volta pareciam aprender a respeitar-me e a deixar de exigir de mim coisas sem nexo. Como vivia ludibriado o incauto. Que parvo fui.

 

Muito cedo na minha carreira, o trabalho deixou de ter segredos. Aprendi a fazer dinheiro antes de falar – para confirmação deste facto, muito contribui a memória dos parentes ainda vivos. Contam, a quem está disposto a ouvi-lo, o episódio na casa da Granja, era eu um gaiato ladino e, aparentemente, envergonhado. É preciso acrescentar que, por altura deste acontecimento que marcou para sempre a história da minha vida, eu mal falava. Repetia, como um papagaio, o nome do cão, Max, e Tixa que, queriam as gentes crer, seria um diminutivo amoroso para a minha irmã Patrícia; para tristeza dos meus pais que não me arrancavam um “mamã, papá, mã, pã”, nem com todos os truques do mundo. Essa ideia prosaica caiu por terra, no dia em que me encontraram a gritar “Tixa” como um disco riscado, enquanto uma pequena lagartixa se escondia debaixo da minha cama. Mas, de volta ao episódio do dinheiro que a família sempre adorou e que, claramente, resgatou a fé de todos aqueles que duvidavam das minhas capacidades. Quando o meu léxico se resumia a duas palavras apenas, tivemos uma festa enorme na freguesia e todos os vizinhos saíram à rua, com bancas, música, bebida, comida e muita animação. Pelas três da tarde, a família estava oficialmente em estado de sítio: ninguém sabia de mim, havia horas, e já circulavam rumores de uma série de raptos nas redondezas. Sim, eu estaria morto, trucidado para todo o sempre, ouvia-se por todo o lado. Não vale a pena ficarem aflitos, claramente não morri nem fui raptado, tão pouco esta é uma história com um final triste. Quando me encontraram, eu estava junto da banca de um vizinho que, esse sim, havia sucumbido com um ataque cardíaco fulminante, numa “fugidinha” ao quarto de banho. Não só eu não estava assustado como, na ausência do vizinho, havia vendido tudo o que ele tinha em cima daquela banca. Sem dizer uma palavra e por um valor superior ao pedido pelo vizinho. Nesse dia, aprendi a ganhar dinheiro, a multiplicá-lo. Fi-lo a vida inteira, com a mesma facilidade: era excitante mas nunca foi, verdadeiramente, desafiante. Aceitei este “dom” como parte da missão da minha vida: tinha nascido para multiplicar dinheiro.

Não vou dizer que percebi tudo o que vivi, que aceitei sempre, sem questionar. Todavia, dentro de mim, alimentava secretamente a esperança de um momento de epifania que esclarecesse todas as coisas que não encaixavam. Durante os meus primeiros cinquenta anos, acreditei piamente que tudo faria sentido quando completasse meio século de vida. Quando cheguei aos cinquenta, bom, nada mudou. Apenas morreu em mim a esperança de que isso pudesse vir a acontecer.

Aprendi muito, envelheci rapidamente, mas não amadureci com sapiência. Tudo o que sei da vida não chega, nunca vai chegar. Sem me dar conta, hoje completo setenta e cinco anos. Celebro rodeado de gente que nada espera de mim, que me sabem calado e um pouco avesso a celebrações ou a grandes discursos. Mas hoje descubro em mim uma chama inesperada, não sei explicar. Olho para todos em êxtase e com curiosidade, como se os visse pela primeira vez. Cresce-me esta excitação dentro do peito, sinto-me melancólico e emocional. E tenho tanto para lhes dizer.

 

A ti, Antonieta, quero dizer-te que te amei a vida toda. Que hoje lamento não ter vivido contigo cada momento a dois que imaginaste para nós. Que hoje percebo que abdicaste da tua felicidade para ficar a meu lado. Agradeço-te por me teres amado tanto. Perdoa-me por ter sido tão cego. Nunca te mereci. Nunca te valorizei mas hoje, sim, hoje vou dizê-lo aqui, em frente de toda a gente, para que o oiças da minha boca, uma vez que seja na vida. De hoje em diante, minha amada, sou eu que te vou convidar para o cinema, sou eu que te vou roubar um beijo pela manhã. De hoje em diante, quero passar o meu tempo a levar-te a todos os lugares onde sempre sonhaste estar, mas onde nunca foste sem mim. Quero namorar-te e honrar-te. Continuas tão bela, Antonieta! De entre todos os homens do mundo, como me foste escolher a mim, este inculto que nunca soube ler-te com sensibilidade, tu que és pura poesia?

 

Meus filhos, hoje não vos reduzo a coisa nenhuma. Hoje quero, pela primeira vez na vida, dizer que vos amo. Que tenho orgulho em todos vós. Também quero pedir-vos perdão: algumas das vossas escolhas talvez tenham sido, afinal, uma validação das minhas próprias decisões. Sei que não vou apagar uma vida inteira de ausências e de críticas, mas talvez seja bom saberem que o vosso pai, afinal, vos ama tanto.

Meus amigos aqui presentes, estou surpreso e profundamente grato em vos ver: claramente, nunca fiz por merecer a vossa lealdade. Hoje, quero abraçar-vos, sem pressa em vos largar. Quero agradecer a dádiva da amizade que resistiu às investidas do tempo e, sobretudo, ao meu feitio execrável. Sabeis que não presto culto a gurus mas hoje deixai-me baixar a cabeça perante vós, com humildade: não sou digno de vos olhar nos olhos, recebi tão mais do que alguma vez vos dei. Perdoai-me, meus amigos, precisei de ficar velho para conseguir decifrar o código das emoções.

 

Cantam-me os parabéns em uníssono. Sinto a voz embargada, um reboliço bom dentro da alma. Delicio-me: sou um privilegiado. Como é que esta gente me aturou todos estes anos? Fecho os olhos, ainda oiço os parabéns, e sinto-me feliz. Quero muito partilhar com eles tudo o que sinto, tudo aquilo que nunca souberam. Quero dar-lhes aquilo que nunca lhes dei.

Quando as palmas inundam a sala, é tempo de soprar as velas e deixar falar o coração. Quero agradecer, sobretudo, as dádivas preciosas que me foram dadas. Preparo-me para me levantar mas não sinto as pernas. Por qualquer razão, o meu corpo não me obedece. Embora não me doa nada, quero pedir ajuda, dizer que alguma coisa não está bem. Oiço as palavras na minha cabeça mas a minha boca não se abre. É só quando as gargalhadas dos outros dão lugar a um choro profundo e aflitivo, que percebo a ironia do momento. Não, agora não. Por favor, Deus, universo, alguém, ainda não.

Hoje, quando finalmente entendo o Amor e o Tempo, extingue-se a vida em mim.

Ainda agora cheguei e já estou de saída.

 

Alexandra Vaz

 

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8.7.16

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Foto: Cutter-Man - Melanie

 

“Oh tempo, volta p’ra trás,

traz-me tudo o que eu perdi.

Tem pena e dá-me a vida,

a vida que eu já vivi.”

 

Tenho para mim que tudo na vida é como as moedas, com cara e coroa, verso e reverso. Tenho para mim, também, que o tudo e o nada, nos extremos, se tocam, se podem confundir, assim como o sempre e o nunca... Mal comparado, será quase que como o conceito chinês do yin e do yang.

Portanto, nem tudo na vida é recuperável, reparável. A morte, para irmos ao limite, põe fim à vida, não tem retorno. É irreversível.

É como se fizesse, para aquela vida, parar a contagem do tempo. Inexoravelmente.

O que está feito, está feito. O que não se fez, ou fez, o que não se disse, ou disse, já não se vai a tempo de corrigir, sequer de tentá-lo.

Assim, quando nas nossas vidas atingimos a maturidade, diria que será quando tomamos consciência, que é quando percebemos realmente que a vida tem um fim, um término, que o mundo não é nosso, a partir daí será a altura para aplicarmos o conceito de vida “um dia de cada vez” ou, dito de outro modo, viver cada dia, cada momento, como se fossem o último.

 

Postas assim as coisas, o conceito de irreversível toma outros contornos. As nossas atitudes serão com certeza diferentes, talvez sejamos mais exigentes connosco próprios, respeitemos mais os outros, ao sabermos que o que fazemos, o que adiamos fazer, o que dizemos ou o que deixamos de dizer, pode não ter tempo para ser corrigido, pode não haver amanhã.

Pois, na realidade, o tempo não volta para trás. Há coisas que são definitivas. Qualquer coisa o pode ser.

 

Jorge Saraiva

 

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6.7.16

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Foto: Norway – Henning Sørby

 

Uma após outra vai pisando as traves que servem de escada, monte abaixo, em direção ao rio. Estão velhas e gastas as traves que alguém, há muito tempo, colocou em pequenos socalcos de terra e pregou a pequenos pilares, também estes de madeira gasta como as traves que amparam. O rio da Sabedoria, assim se chamam as águas que correm lá no fundo, no lugar onde um monte acaba e outro começa, fascina-o. Mesmo à distância as suas águas exibem uma transparência e uma frescura irresistível. Anseia por se banhar nessa beleza e beber da sua sabedoria. Caminha há muito tempo mas está longe de chegar, a distância que o separa parece aumentar a cada passada e abana-lhe a certeza de o conseguir. Olha para trás na tentativa de se confortar com o caminho já percorrido mas parece que não saiu do lugar, o cimo do monte continua ali, um pouco acima da sua cabeça.

Estuga o passo e desce os degraus dois a dois. Tem que chegar ao rio antes que anoiteça, e o sol já parece esconder-se no monte do outro lado do vale.

 

Começou por ser um vulto indecifrável o que viu lá longe, mas foi crescendo e ganhando forma à medida que ficava mais perto. A criatura à sua frente caminhava devagar, primeiro, um pé tateante, depois, quando o lugar lhe parecia seguro, pousava-o para avançar com o outro. Quando se apercebeu de que não estava só, perguntou:

- Quem se aproxima?

- Um ser como tu. Desço o monte até ao rio onde me vou refrescar e saciar a minha sede de saber.

- Sou cego e também vou para o rio, sê bondoso e deixa-me apoiar em ti, caminharemos juntos e juntos entraremos no rio da Sabedoria.

- Desculpa homem cego, caminho há muito tempo, estou cansado e tenho pressa de entrar no rio, se te acompanhar atrasarei a minha viagem. Vem no teu passo que acabarás por chegar.

Acelerou ainda mais.

 

Tinha decidido levar esta viagem até ao fim e as suas decisões eram irreversíveis.

- Viajante! Oh viajante! Ajuda-me!

- Quem pede ajuda e onde está?

- Aqui, nesta trave. Olha para baixo e ver-me-ás. Sou um pobre coelho que ficou preso neste buraco, tem misericórdia e solta-me.

- Não posso soltar-te coelhinho, demoraria muito tempo e eu tenho pressa de chegar ao rio da Sabedoria, terás que te libertar sozinho, vai tentando, de tanto tentares hás de conseguir.

O viajante continuou a caminhada.

 

Os degraus estendem-se à sua frente a perder de vista e o sol, ainda que baixo no horizonte, queima e dá ao lugar uma aridez que mais lhe aumenta o desejo de atingir as águas refrescantes da Sabedoria. Só, encosta abaixo, uma espécie de angústia apodera-se dele e atormenta-o. Sabe que desce o monte para entrar no rio da Sabedoria que corre lá em baixo, mas esqueceu-se de onde vem, não se lembra da sua casa e a memória libertou o registo do rosto de familiares e amigos. Apela para todos os sentidos mas não obtém resposta. Perdeu o passado nesta viagem irreversível.

- Viajante! Oh Viajante! Onde vais com tanta pressa?

- E quem tem curiosidade em saber?

- Sou eu, esta árvore aqui mesmo ao teu lado. - disse a árvore abanando os ramos para se fazer notar. E, continuou:

- Tenho sede e se me deres um pouco da água que está naquele poço, eu compensar-te-ei com a sombra dos meus ramos e com fruta suculenta.

- Não posso perder tempo contigo, a noite aproxima-se e eu tenho que chegar com luz ao rio para me poder banhar nas águas da Sabedoria. Espera que chova e a tua sede será saciada.

Exausto, continuou a caminhada.

 

O cansaço apoderou-se dele. Assaltaram-no dúvidas. Dúvidas sobre a existência do rio que corre lá em baixo. Mas não era razoável duvidar, ele bem o via com as suas águas transparentes e de onde estava sentia a aragem fresca e o aroma a juncos que por certo cresciam nas suas margens. Dúvidas sobre as razões desta sua empreitada para atingir as águas da Sabedoria, de que nunca antes tinha ouvido falar. Dúvidas de que o rio fosse o fim da caminhada e que a Sabedoria estivesse no lugar de chegada e não no caminho que percorria. E se interrompesse a viagem para a repensar? Não, não podia voltar atrás, os degraus que desceu, inexplicavelmente desapareceram e ele não vislumbrava outro caminho de regresso. Esta viagem era irreversível. 

 

De repente, ali mesmo à distância de um passo, viu-se à beira de um precipício. Olhou para baixo e lá no fundo corria o rio alimentado pela catarata que brotava em força do meio da escarpa. As águas jorravam belas e ameaçadoras da tranquilidade e do silêncio do lugar. A luz que refletiam encandeava-o. Quis abrir os olhos que instintivamente se fecharam mas não conseguiu. A luz intensa, demasiado intensa, impediu-o de ver. As pálpebras não cederam à vontade de manter os olhos abertos. Quis recuar, afastar-se do precipício, mas perdeu o equilíbrio, faltava-lhe o chão, sentiu-se afundar. Estava em queda livre, quando batesse nas águas da cascata que alimentavam o rio, seria o seu fim. Irreversível! Estava em pânico. Num último esforço conseguiu abrir os olhos. O precipício desapareceu, o reflexo de luz intensa da catarata desapareceu e as águas cristalinas do rio já não corriam lá no fundo.

A cama onde estava deitado nunca antes lhe pareceu um lugar tão seguro.

 

Cidália Carvalho

 

 

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4.7.16

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Foto: Baby - MDphoto

 

Hoje acordei pronta para refletir sobre a morte.

Porquê? Porque me faz pensar em tudo a que vale a pena dar importância, já que, quando ela chega acaba tudo e pronto, sem volta a dar. Isto ajuda-me a levar melhor os dias.

Mas, quando acordei, o que vi primeiro foi o grande sorriso do meu pequeno filho. Afinal, há mais coisas que não esquecemos e que não há volta a dar, está feito e bem registado na memória: a felicidade.

Essa sim, não é física, chega e fica, mesmo que seja em recordações, está na nossa mente bem guardadinha. Temos é que ir lá buscá-la.

A felicidade que já conquistámos em algum momento é irreversível, está vivida e não podemos voltar com o tempo atrás.

Depois deste grande sorriso, chega um segundo quando chego ao trabalho e tenho uma conversa com um dos alunos:

- Sónia, vamos ter um dia como o de ontem?

- Acho que sim, porquê?

- Adorei o dia de ontem!

O dia de ontem foi vivido e naquela memória está gravado como um excelente dia.

Por isso, hoje esqueço a morte e vivo a felicidade, como algo que não voltará a deixar de existir.

 

Sónia Abrantes

 

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1.7.16

Head-GerdAltmann.jpg

Foto: Head - Gerd Altmann

 

Há dias os seus corpos também estavam cá.

Os seus corpos tornavam-nos existentes.

Os seus corpos também comunicavam connosco.

Tornaram-se inexistentes, porque o cérebro e o coração pararam.

Tornaram-se invisíveis, porque ninguém consegue recuperar e ver o corpo.

O corpo desaparece…

É muito importante ter o corpo para a despedida, mas o corpo não volta; é irreversível.

Há, no entanto, outra dimensão que não desaparece. Não é reversível, nem irreversível, porque nunca desaparece do nosso perimundo.

Envolve-nos diariamente sem grande esforço. As fotos ficam; as recordações não documentadas ficam.

Ficam connosco com muita intensidade.

Às vezes rimos e choramos sozinhos com lembranças muito reais.

Vivemos momentos imaginados, com desfechos prováveis baseados nesta dimensão que não desaparece.

Seria assim, teria este desfecho se estes momentos fossem vividos com estas pessoas cujo corpo já não está cá, dizemos nós.

Acompanham-nos como se o corpo fosse reversível e, deste modo, visível.

Na morte, só o corpo é irreversível… só as funções vitais são irreversíveis…

Há uma dimensão que fica…

 

Ermelinda Macedo

 

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