Foto: Gone Fishin - Michal Spisak
Dá às palavras a liberdade de não serem. Toma-as gentilmente como se as levasses numa dança e põe-nas a dormir. Aconchega-as com um cobertor que o frio hoje aperta. Mas deixa-as.
Já viste que mesmo sem elas continuamos juntos olhando o infinito sem nada falar e no olhar tudo dizer? Deixa as palavras! Porque elas castram, obliteram, ferem, obrigam, falham em promessas que não poderão ser cumpridas e, no fim dos tempos, serão esquecidas.
Eu sei que é uma visão muito parcial, injusta até, porque o verbo também existe para libertar, para salvar, para aproximar, para curar… Mas para nós, que hoje faz frio lá fora, esta é a nossa verdade. A quietude é a nossa doutrina.
No silêncio também se vencem batalhas e se conquistam cidades. No silêncio, acolho todas as palavras que me acenas com um sorriso, com um gesto. E no silêncio, sorri a minha alma que te respira cada poro.
Juntos no silêncio, juntos em qualquer ruído e sempre em todas as melodias.
Ana Martins