26.12.14

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– Porque é que nestes dias de supostas férias, de suposto descanso, ficamos ainda mais cansados? – Pensou Ana para ela mesma, mas em voz alta, o que incitou Pedro a uma resposta:

– Porque há uns que são assim… e há outros que assim são… – É uma das típicas respostas de Pedro, com um sorriso nos lábios, contagioso.

Com o contributo de todos – lá em casa é assim – o jantar de Natal estava pronto pouco faltava para as oito e trinta. Ana ainda trincou qualquer coisa antes de sair. Despediu-se de todos, até à missa do galo, dali a algumas horas.

Ana sempre soube que era uma poeira no universo. Sempre entendeu a vida como um empréstimo, como um dom que não se destina apenas ao seu gozo pessoal, para a qual deverá encontrar um caminho e um destino, e que deve ser dividida com os outros, em favor de todos. Com o exemplo da mãe, desde criança que Ana se entrega aos outros, genuinamente, sempre que sente neles alguma necessidade e sempre que sente poder ajudar. Já adulta, Ana tornou-se voluntária e aprendeu a dar-se ainda mais aos outros, sem querer nada em troca que não a satisfação de sentir os outros melhor. Aprendeu a usar o seu dom em conjunto com outras pessoas, a ser organizada. Aprendeu a estar atenta aos pormenores, a comprometer-se e a cumprir. Aprendeu a esforçar-se e qual o valor do esforço. Aprendeu que dar aos outros pode implicar sacrifício, e que se o tentamos evitar, nada conseguiremos. Aprendeu que cada coisa poderá ser o que para ela queremos, e será o que dela fizermos – e a vida é a soma de todas as coisas.

Como definido, a missa do galo juntou-os de novo. Após a missa, regressaram a casa na noite fria. O calor da casa, os doces, o chá, o chocolate quente, alguns presentes para os mais novos, e muita conversa, muita a saborosa conversa. Ana sentia uma enorme satisfação, plena com todos os que agora a rodeavam, com todos os outros com quem estivera naquela noite, com todos os outros com quem os seus colegas estiveram. E o marido, os filhos, os pais, os tios, os irmãos e cunhadas, os sobrinhos, todos se sentiram mais confortáveis, pois que através da Ana também estiveram com todos os outros.

Ana é uma poeira no universo. Mas uma poeira com consciência de si mesma, com consciência do mundo.

 

Fernando Couto

 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 07:00  Comentar

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