30.5.14

 

O artigo deste mês, Luto.

Por momentos estremeci…

Como vou eu escrever sobre um assunto que lembra momentos de que todos nós fugimos… De que não queremos falar e muito menos atrair.

E assim andei uns dias...

A pensar por onde começar...

E após mais um workshop "Soul Illumination" a inspiração nasceu percebendo que o medo de enfrentar este fantasma interior deu lugar a uma grande oportunidade de me libertar e aceitar que o luto é real e deve ser ultrapassado com compreensão do que realmente é viver...

Luto, palavra criada pelo Homem para definir momentos pós-morte ou divórcio.

Não posso expor a minha experiência de um luto sofrido como a perda de um filho, pois todos os meus lutos foram de ordem natural, como a partida dos meus avós, mais fáceis de aceitar e ultrapassar... Mas sim posso falar sobre o divórcio, um tipo de luto doloroso, pelo menos foi essa a minha experiência. Inicialmente parece que vai ser fácil pois já não era mais possível viver em tais circunstâncias envolvidas em discussões cada vez mais penosas para todos os envolvidos, incluídas 2 crianças. E é tomada então a decisão de finalizar uma relação de 18 anos sem sabermos muito bem o que temos pela frente, pois no momento só queremos acabar com aquele “inferno”.

A primeira comunicação é feita aos filhos, primeiro confronto.

A segunda à família, acabam por sofrer mais que o casal. As perguntas do porquê instalam-se, É mesmo isso que querem? Não procuraram ajuda psicológica? E os meninos? Tu estás desempregada, como vai ser? E muitas mais surgem e começam as primeiras dúvidas depois da certeza. Será que estou a fazer bem? Deveríamos dar-nos outra oportunidade? Os meninos vão sofrer assim tanto?... E é aqui que a força tem que surgir, é aqui que temos que pensar por nós e não pelo que está formatado socialmente. Esta é a aprendizagem, irmos em frente com a nossa decisão quando temos o “mundo” contra nós, vermos, sentirmos por nós próprios que esta é a nossa experiência, que é assim que crescemos, enfrentando o que muitos não têm coragem para fazer.

O trabalho de desapego não é fácil, é doloroso, é sangrante, corrói, destrói. Vermos os nossos filhos a passarem férias com outra mulher, a viverem momentos em família sem a mãe por perto, a falarem de experiências novas que tiveram com o pai e a namorada e nós que sempre estivemos por perto, que assistimos ao primeiro sorriso, que lhes demos a primeira sopa, que ouvimos a primeira palavra, que protegemos os primeiros passos, que ditamos as primeiras cópias, que ajudamos a perceber quando se confrontam com o primeiro Amor, temos agora que partilhar as suas vidas com outra pessoa. No início o confronto é brutal, mas logo logo o nosso coração nos faz perceber que o importante é a felicidade deles, independentemente da minha presença constante nas suas vidas. E esta é a nossa grande ferramenta, o verdadeiro Amor! Abrir o coração e perceber que os filhos não são nossa propriedade, mas sim nossa responsabilidade em ajudá-los a crescer, longe de baixas emoções como o ciúme, raiva, apego... E desta forma o luto de um divórcio torna-se uma oportunidade de evolução e crescimento da nossa Alma e de todas as Almas envolvidas no processo... E com esta postura ensinamos a todos que é possível enfrentar o fantasma de que tantos fogem, pois as baixas emoções e os preconceitos da sociedade não nos permitem ser livres e muito menos viver.

Viver é igual a aprender, encontrar os mecanismos de compreensão para enfrentar o que nos está a fazer sofrer é a nossa força em ação.

Quando optamos por nos esconder atrás de ilusões, vivermos sempre na linha do conforto e não termos a coragem de ver o que está do lado de lá chama-se de cobardia.

 

Viver é estarmos disponíveis para o mais nobre trabalho, sempre ao serviço de Deus.

Assumiremos desta forma a oportunidade de viver com felicidade e paz em tudo que nos rodeia.

 

Joana Pereira

 

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28.5.14

 

Olhava o espelho. Via uma estranha ou um futuro demasiado cedo. Não era ela. Apenas alguém, que substituira a sua vitalidade. Com o olhar encovado, como o de quem vai para a cova, pálida de cansaço e vazia de quem fora. Estravanha-se. Que pensariam quando saísse à rua? Já nem importava, se ela própria já não tinha nada a esconder. Já não conseguia esconder de como morrera por dentro, de como tal morte de quem fora lhe secava as veias. Toldava-lhe o semblante e tornava os olhos mais fundos, mais distantes do mundo alheio. O mundo vivo, no qual se sentia um fantasma, palpitava ainda lá fora com todos os seus ruídos e sem consideração pela morte antecipada desta inquilina.

Rolou-lhe uma lágrima pela face que depressa reprimiu. Quem és tu? Como chegaste a isto? Porquê? Onde te perdeste neste caminho?

Lembrou-se de como era antes do calvário por que passava. De como era cheia de vida, agitada, cheia de projectos e esperanças. De como gargalhava e de como ao olhar o mar se sentia viva. Porém, tentava perceber em que momento do percurso se despistara da vida. Fora tudo acontecendo, acumulando, sucedendo. E, de repente, já não vivia. Existia apenas, por força das circunstâncias. Passava por um luto de si própria. Apetecia-lhe chorar, mas quase já não havia lágrimas. Só cansaço. Cansaço de tudo.

Saiu à rua. Todos a olhavam como se olha um enfermo. “Coitada”, deviam pensar, “Está mesmo acabada”. Sabia que por mais que se sentisse um fantasma, não passava despercebida. Devia ser mesmo isso. Parecer um fantasma, tal era o ar de espanto horrorizado dos outros. Mas, isso era o de menos. A maior ferida era contemplar-se assim e sentir-se perdida dentro de si. Querer resgatar quem fora e não ter forças. Querer mudar quem era naquele momento e não ter esperanças. Ter saudades da mulher que vivia nela e da qual se esquecera. Era um luto terrível pelo qual passava. Porque estar de luto, era dizer adeus a tudo o que fora e deixava saudade. Tudo o que se vai com a partida. A dor que fica na mudança, mesmo que depois dessa “morte” haja vida. E aquela sensação de nem sequer se reconhecer. De não se sentir. Estranha dentro do seu próprio corpo. Da sua mente.

E, nos passos da existência, continuou caminho, em estado de mortandade.

 

Cecília Pinto

 

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26.5.14

 

A dez mil metros de altitude, acompanhado pela família, viajo para o funeral do meu cunhado. O espaço exterior parece vazio, sem sentido, e um turbilhão de pensamentos torna-me inquieto e confuso. Desvio o olhar mas não sossego. A posição alinhada e rígida dos passageiros naquele espaço limitado é estranha. Para onde vamos todos?

Nariz adunco, cabelo revolto, queixo saliente, sobrancelhas pronunciadas e um pequeno mocho na lapela. Procuro uma falha, uma pequena falha que me diga que não é verdade e observo-lhe as mãos. São os dedos dele e é mesmo verdade, não é?

A igreja da Lomba da Maia é pequena para acolher tanta gente e a religiosidade açoriana faz-se sentir de forma lenta e pesada. Os choros misturam-se com as orações, os abraços e os beijos, as flores e o incenso, por toda a tarde e pela noite fora. São cinco horas da manhã e eu receio pela saúde da minha querida sogra que ainda não parou de chorar e se recusa a abandonar a igreja. São dez horas. Os meus receios aumentam e tornam-se obsessivos. Sete padres oficiam a missa e a música e o coro que nos acompanham, a todos acalma por momentos. Alunos citam Pessoa e declamam poemas escritos para o momento. Começam os preparativos para fechar a urna, voltam os choros, mas a minha atenção concentra-se naquela velhinha frágil que está ao meu lado, quase a desfalecer, e eu sinto-me finalmente capaz de seguir uma linha de pensamento coerente. Volto a encontrar-me neste desencontro entre a vida e a morte. Somos fogos-fátuos iluminando e recebendo luz intermitente. Sem ela não existiríamos e, por cada luz próxima que se apaga, morremos um pouco de escuridão e falta de propósito para a nossa própria luz.

A urna desceu à terra ao som da “Pedra filosofal” e sinto que, apesar das lágrimas, o meu luto vai começar. Se bem o conheço, consigo antever por onde se espalharão as suas moléculas. Azáleas e hortênsias, golfinhos e cachalotes, plantas do chá e criptomérias, e mochos, muitos mochos, serão os felizes contemplados. E pela primeira vez voarão açores sobre as nove ilhas dos teus queridos Açores.

 

José Quelhas Lima

 

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23.5.14

 

Na sala, os primos conversavam. Acabados de chegar de Lisboa, estafados pela viagem, pelo calor e pela adrenalina do dia, “O que sabia bem era uma cervejinha!”.

A prima apressou-se (com a velocidade que as suas pernas doridas permitiam) a ir à cozinha e regressou com uma Sagres mini e uma taça de amendoins: “ Não podes beber de estômago vazio!”.

O primo sorriu e agarrou nos dois pitéus: “Uns pinotes caem sempre bem!”.

PINOTES. Palavra simples que, no contexto em questão, se referia aos amendoins, mas que de rompante a transportou no tempo, até à casa daqueles a quem sempre ouvia usar este termo.

E logo um assombro, um vazio, um abismo! E já as lágrimas a quererem rolar, porque o peito parece que dói, de tão apertado que fica.

Quando acaba o luto? Acabará algum dia?

Como é que se consegue ignorar as memórias imensas de uma infância, nem sempre radiosa, mas que junto de vocês foi sempre feliz?

Como é que se evita associar os eventos do calendário à vossa presença tão jovial (apesar dos já muitos anos que carregavam) que os tornavam sempre tão especiais (únicos, até)?

Como é que se pode esquecer uma parte de nós?

Acredito que, um dia, o luto vai acabar. No dia em que vos puder abraçar outra vez, mil beijos vos dar e ouvir, a um, a sonora e contagiante gargalhada e, ao outro, a terna expressão: “Nunca te esqueças de ser boa rapariga!”

 

Sandrapep

 

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21.5.14

 

 

Dei por mim, hoje, a querer mexer em tudo o que tenho em casa que faz parte do meu passado, mas que continua a pairar no presente, sem qualquer finalidade ou propósito.

Depois de um final de dia de sábado à beira-mar, a ver o pôr-do-sol, a pensar e a partilhar com a minha cara-metade, que tenho saudades das conversas de café com os amigos, em que conseguíamos resolver todos os problemas do mundo, venho para casa e penso como tudo o que vivi é bom, pois fez de mim o que sou hoje, para o bem e para o mal.

Parece nostálgico, e se calhar até é, mas em fins de semana reservados apenas para estar por casa, sem nada fazer, chegam-me sempre as memórias do que fazia quando não tinha a vida que tenho hoje, quando vivia em casa dos meus pais e estava constantemente com os amigos.

Agora, e pensando naqueles que já partiram, vejo que realmente foram momentos significativos que me deixaram viver os momentos mais tristes. Dou comigo a pensar muito mais intensamente nos que já faleceram e na importância que continuam a ter. Será que vivi o luto como deveria ter vivido? A morte, essa personagem que está sempre na sombra das nossas vidas, mesmo em dias sem sol, quando supostamente não deveria haver sombras…

Depois do final do dia de ontem, hoje acordei com uma vontade imensa de reviver tudo pelo qual já tinha feito o luto, tudo o que, pensava eu, já fazia parte do meu passado…

Só agora, depois de 7 anos sem tocar no traje académico, percebi que os emblemas nele cosidos têm toda a lógica, pois resumem na perfeição a minha vida até ao dia em que foram cosidos. “Do sobrinho”, “Da sobrinha”, “Da Irmã”… são ainda presentes mas bem distantes. “Dos avós”, “Do cão”, “Sou da noite”… Por estes já fiz o meu luto… Ou não…

Hoje acordei com vontade de rir por ter a oportunidade de reviver vários detalhes que me trazem saudade, mas agora começo a ter vontade de chorar porque essa saudade começa a doer… Deixam de ser apenas memórias, agora que abri novamente as gavetas e caixas.

Vale a pena guardar objetos ou deveremos ficar apenas com as memórias? Tenho receio que com o tempo, sem objetos, as memórias vão desaparecendo e perca de vez as pessoas. Será, então, que não fiz o luto e não as deixo partir?

Não, nunca irão partir, porque haverá sempre meses sem R que me fazem lembrar que os caracóis estão para chegar, recordando-me assim da caixa de caracóis que o meu avô tinha na cozinha para criação, para depois a minha avó cozinhar como belo petisco que era, sem qualquer objeto para me fazer lembrar disso.

Os dias após a morte são duros, muito duros, mas com o passar dos anos o que fica é bom, pois ficam as memórias que mais marcaram e nos fazem continuar a amar o que nos deixou.

 

Sónia Abrantes

 

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19.5.14

 

O meu corpo macilento tornou-se tão repugnante que choca os poucos que ainda me visitam. Estou condenada e é assim que me veem. Leio-lhes no rosto o alívio indisfarçável por não estarem no meu lugar e à vista do meu fim sentem-se longe do deles. Afastam-se com medo de serem contaminados e eu fico ainda mais só. A minha família continua no estado de negação. Os seus olhares são tão desesperadamente sofridos que me enchem de compaixão e não consigo pedir-lhes a única coisa que me poderia aliviar, a presença serena e tranquila nos últimos minutos para não morrer sozinha. Mas o sopro da morte é tão difícil de encarar e de aguentar que a ninguém quero pedir para estar comigo até ao fim. Morrer é um processo individual de grande solidão. Uma solidão que dói e que nos faz gritar como Cristo na cruz: Pai, porque me abandonaste?

Preciso de alguém que não me chore ainda, que me dê as mãos e afaste o frio deste corpo macerado, e que deposite em mim uma nesga de vida que engane a morte. Por um segundo que fosse, gostaria de enganá-la e roubar-lhe tempo. E então, de mãos dadas, com a ilusão de a ter vencido, abrir o meu íntimo e confidenciar o que fiz e o que fui. Preciso de fazer novamente o mesmo percurso, rever todos os momentos que foram a minha vida. Como seria bom poder fazê-lo acompanhada! Riria das brincadeiras e partidas que sempre gostei de pregar; voltaria a alegrar-me com os momentos de felicidade; reveria os momentos tristes; falaria dos meus amores e desamores; dos amigos e dos que não quiseram ser meus amigos; das minhas expetativas, frustrações e conquistas; do que fiz ou não fiz e quis fazer; falaria das minhas dúvidas e certezas; choraria pelas perdas que sofri; lamentar-me-ia da minha doença. Tranquilizar-me-ia na certeza de que todos ficariam bem, tristes, naturalmente, mas conformados com esta realidade que é absurda. Não guardo mágoa de ninguém e ninguém me deve explicações ou pedidos de desculpa. A minha vida foi aquilo que eu quis que ela fosse, boa ou má, foi o que escolhi para mim, ninguém deve sentir-se responsável. Programei-a sem ter em conta um limite temporal. O futuro tinha duração a perder de vista e qualquer altura era boa para planear, fazer ou sonhar. Adiei decisões, diferi projetos, esperei que o tempo resolvesse problemas, dei tempo ao tempo porque o tempo me parecia inesgotável.

Não tive em conta a finitude da minha vida. Eu sei, todos sabemos, que a vida tal como a concebemos tem um fim, mas a consciencialização desta condição não existe, ou se existe, esforçamo-nos por arrumá-la de forma a que não nos atormente. Para mim assim foi. Ignorei o fatalismo e adotei a máxima, longe da vista, livre para a vida. Aflige-me hoje quase tanto como as dores que me retêm nesta cama, a ignorância de então. A leviandade com que teorizava justificações para os meus comportamentos, atormentam-me tanto como as chagas que a doença vai cavando no meu corpo. Lamento ter-me esforçado tanto por ignorar a minha morte e, no entanto, ainda agora, se pudesse voltaria a ignorá-la. Afastar-me-ia e passaria assobiando para o lado. Mas este é o meu momento, sou única, ninguém me pode substituir e não sinto orgulho ou grandeza nisso.

Sim, estou com pena de mim! Quero ter pena de mim! Nunca quis ter pena dos outros porque ter pena seria condená-los a um fatalismo irreversível, não lhes reconhecer capacidades para escolher e alterar acontecimentos, mas no meu caso, que alternativas me restam, que poder tenho para alterar os acontecimentos? Que outro sentimento faz mais sentido do que a pena e a solidão?

A família e os amigos vão chorar-me e fazer o luto pela minha perda, mas neste momento em que ainda existo, é o momento para me enlutar de mim mesma.

 

Cidália Carvalho

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16.5.14

 

Num momento em que a vida parece parar, aparece alguém a dizer-nos que “a vida continua”. Meu Deus, como é possível a vida continuar! Nesse momento tudo acontece sem que se perceba o que está a acontecer. Temos a certeza absoluta que está a acontecer a coisa mais horrível do mundo; é um sentimento de perda tão grande que não é possível mensurar nem, tão pouco, dar-lhe um significado! A presença das pessoas é tão importante!; digo: “presença”; uma presença carregada de mensagens, mas silenciosa. O silêncio faz tanta falta e tanto sentido! Não é necessário mais nada! A “anestesia”, a que algumas pessoas são sujeitas, nem sempre protege do sofrimento. O sofrimento faz parte… o percurso para reaprender a viver vai ser aquele que cada um encontra e precisa; aquele que permitirá recordar com saudade embora, em determinadas alturas, a saudade torne as cenas tão nítidas e tão verdadeiras, que se torna angustiante… mas faz parte! O caminho não é fácil de fazer. A reposição, a reestabilização e muitas palavras iniciadas por “re” vão acompanhar-nos diariamente. Onde vamos buscar a “força”? Vamos encontrá-la em nós e nos outros e também na pessoa que nos deixou. Não sei muito bem como, mas isto acontece… a força não se compra! Saudade – palavra portuguesa que não sabemos definir… tenho vindo a referir-me a ela… à saudade de pessoas mortas. E as pessoas vivas? Temos saudades de pessoas vivas? Existe o luto de pessoas vivas?  Talvez. Como se consegue fazer este luto? Existem palavras a acrescentar: desilusão e desencanto. Desilusão e desencanto, porque acreditávamos que aquela pessoa era tudo para nós; porque acreditávamos que aquela pessoa seria sempre o nosso “aconchego”; porque acreditávamos que aquela pessoa estava lá quando precisávamos e; porque acreditávamos que aquela pessoa se assemelhava muito à nossa forma de estar na vida. A dado momento, o mundo cai em cima de nós… foge-nos o chão… não é possível… como pode ser? Mas é! Inicialmente aparece a desilusão e o desencanto e, sem pensarmos muito, cai sobre nós um sentimento de perda incontrolável. Ficámos confusos… perturbados… faz-se luto de pessoas vivas? Agora digo “talvez”, com maior certeza! É difícil? Também penso que talvez seja… causa sofrimento! É um processo longo? Parece ser um processo difícil. O processo é igual ao de pessoas mortas? Não arrisco responder! Situações de perda são sempre perturbadoras e, às vezes, a saudade é MESMO MUITO ANGUSTIANTE! Pessoas vivas; pessoas mortas… as pessoas mortas estão longe; as pessoas vivas passam tantas vezes ao nosso lado!!! Como se faz quando as pessoas, pelas quais sentimos perda, passam tantas vezes ao nosso lado, vivas? Também não arrisco responder! Reaprender; rever; revisitar e; reintegrar são palavras constantes no processo de gestão da perda. Os recursos internos e externos de cada um de nós também têm de ser reestruturados (mais uma palavra com “re”…) e revisitados. A vida, depois de uma perda, é uma VIDA COM SAUDADE! O caminho faz-se; “a vida continua” mas, p.f., não me digam que “a vida continua” quando eu não consigo perceber o que está a acontecer!

 

Ermelinda Macedo

 

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14.5.14

 

Lembras-te de jogar à macaca, ou de jogar à bola, descalço? De trepar às árvores ou correr nos campos de milho? Colher dezenas de pampilhos amarelos e de fazer colares perfeitos com uma linha e agulha, ou apanhar grilos e metê-los numa caixa de fósforos com um pedacinho de alface e ouvi-los durante a noite? Qual é a tua primeira boa, fantástica recordação? Quando tinhas cinco ou seis anos? Conta-me! Que sentes quando te lembras desses momentos?

Vou dar-te dois minutos. Pensa lá! Que gostavas mais de fazer? Chapinhar nos regatos ou andar à chuva com o guarda-chuva fechado numa mão e na outra os livros?

As nossas lembranças têm, de facto, muito pouco que ver com a “realidade”. Se perguntarmos ao nosso amigo, companheiro nas brincadeiras desses tempos, sobre a sua versão, teremos uma outra “realidade” experienciada. Mas isso não interessa para nada! O importante é o bem-estar e o sorriso que se define quando nos lembramos do chilrear dos pássaros que observávamos nos verões quentes das férias grandes, ou víamos os girinos a nadar na gamela onde os mantínhamos depois de os apanhar no charco do campo vizinho.

Para alguns, este exercício trará algumas tristezas. Más memórias. Será que se tentares com determinação não encontrarás um momento, um cheiro, um sinal, um sabor que te faz respirar fundo e te deixa os olhos mareados? Eu gostava que assim fosse.

Se facilmente surgem na tua mente um conjunto de boas, antigas, saudosas memórias, então provavelmente sentir-te-ás, neste momento, feliz e a tua boca terá os cantos voltados para cima.

Conta-me!

 

O Maestro Sacode a Batuta

 

O maestro sacode a batuta,

A lânguida e triste a música rompe…

 

Lembra-me a minha infância, aquele dia

Em que eu brincava ao pé dum muro de quintal

Atirando-lhe com, uma bola que tinha dum lado

O deslizar dum cão verde, e do outro lado

Um cavalo azul a correr com um jockey amarelo...

 

Prossegue a música, e eis na minha infância

De repente entre mim e o maestro, um muro branco,

Vai e vem a bola, ora um cão verde,

Ora um cavalo azul com um jockey amarelo...

 

Todo o teatro é o meu quintal, a minha infância...

(...)

 

Fernando Pessoa, in “Cancioneiro”

 

Ana Teixeira

 

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12.5.14

 

Tempos passados, de memórias confusas, difusas e sem repetição. Coisas novas, fantásticas, das surpresas e espantos. Tempos de tudo ser importante, de todos serem importantes. De não saber como iria ser se (quando) tudo nos falhasse. Os pais, os irmãos, os avós. Os castigos, os amigos e a dor de se esfolar um joelho. O professor, os “calduços”, a bola, o recreio. A campainha ou o toque, o azar e a sorte e o beijo atrás do pavilhão. E claro, o parvalhão. Ainda não era um bully...

 

Os tamanhos eram diferentes, um T2 gigante e o pai também. O Algarve era noutro planeta e os carros não tinham cintos atrás. Afinal eram 80 metros quadrados, 1,65 metros e mais ou menos 600 quilómetros. Os telefones tinham um disco e um disco era um disco. Faziam um barulho engraçado quando abanados com força. Dois canais na televisão. Levanta-te tu agora para mudar de canal.

 

Domingo, almoço nos avós. Formula 1 na televisão e o Senna... O Senna... Na rádio era o Michael, a Tina ou a Madonna. Na aparelhagem os Abba, os Pink ou Doors. Promoções fantásticas da Cola ou da Pepsi. Uma vez ganhei um pager! O sumo natural de maracujá e as latas do Nestum que foram tambores. Meus e depois dos primos.

 

Visitas na maternidade para conhecer o irmão. Gosto dele mas não gosto dele. Roubou a atenção. Uma rosa para a mãe e desenhos no dia do pai. E no dia da mãe também. Versos curtos, copiados, invariavelmente a terminar no amo-te. “Sou pequenino, do tamanho de um botão, (qualquer coisa), mãe no coração”.

 

As fotos no jardim do Passeio Alegre e as idas ao minigolfe. Um Golf branco sem extras. Mas que vinha com rádio. O shopping era o Brasília e cheguei a ver o Michael Knight com o KITT. Depois fizeram lá um lago com barcos. Mas as moelas eram no café “Pé-de-vento” com o avô.

 

Ó tempo, não voltes para trás. As coisas repetidas não têm piada.

 

Rui Duarte

 

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9.5.14

 

A infância é um tempo de brincadeira, exploração e vulnerabilidade. Época de vida que determina quase tudo o que seremos no futuro, haja vista a condição de esponja cognitiva e emocional em que nos encontramos. Vários momentos etários pressupõem diferentes níveis e tipos de desenvolvimento, excetuando-se os casos em que há ocorrência de alguma anormalidade.

Casos de sobredotação, ou de lentidão na aprendizagem, mas também genialidades não reconhecidas, tudo faz parte do pacote de ser criança.

Quase tudo é permitido na infância ou, pelo contrário, aplica-se linguagem, castigos ou modus operandi exagerados, ofensivos, desajustados, desrespeitadores da individualidade daquele ser ou demasiado piegas, infantilizando ainda mais a criança.

Tendemos a ver cada ser de acordo com o seu papel na sociedade e, quanto mais seu estatuto é valorizado culturalmente, mais ele perde o contacto com sua verdadeira essência. A singularidade de cada um é facilmente desconsiderada a despeito da sua função social.

Numa rábula protagonizada pelo humorista Ricardo Araújo Pereira, este interpelava figurativamente sobre quando é que o idoso sabe que chegou o momento de se comportar como idoso, tamanho é o fardo dos estereótipos.

O desenvolvimento biológico e psicológico deve ser respeitado e potencializado, sendo que as caraterísticas típicas de cada fase devem favorecer a conscientização e assimilação das várias maturidades adquiridas, integrando-as ao núcleo da personalidade. Mas questiono-me sobre o quanto este processo é lúcido e valorizado por todos nós. Conhecimento, inteligência e sabedoria são coisas bem diferentes.

Em jeito de sonho de consumo existencial, eu pretendo abolir as imaturidades, pieguices, infantilidades e desresponsabilizações do meu senso crítico e sentido de melhoria, mas também redescobrir e manter a alegria espontânea, a espontaneidade autêntica, a criatividade exploradora, a curiosidade despreconceituosa e o coração aberto, peculiares nas crianças. Saber envelhecer é dignificar a idade perdida.

 

Marta Silva

 

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7.5.14

 

Quando me pediram para escrever sobre a Infância, pensei em falar sobre a sua importância na vida do atual adulto e em como, dizia Freud “A criança é o pai do adulto”. Depois pensei em falar nos cheiros que nos fazem viajar até ao passado, o da cozinha ao pequeno-almoço, da escola no primeiro dia de aulas… mas na verdade, o que me parece mais importante neste momento, é não sentir a infância como sendo algo do passado. O mais bonito e difícil que podemos experimentar é deixar que o adulto que hoje somos vivencie a vida como se fosse uma criança. Viver o agora, sem preocupações com aquilo que ainda nem sequer aconteceu… cantar sem ter medo de parecer um tolo… andar à chuva… rir às gargalhadas… tocar nos outros… ver tudo de outra perspetiva, com tempo, com atenção ao detalhe: a borboleta a voar, os rostos das pessoas, o céu, as estrelas, o mar, o lixo… procurar agradar aos outros, mas com o coração aberto… parece-me que, mais importante do que a infância que tivemos, visto que nem todos têm o mesmo ponto de partida, é aquilo que de bom qualquer infância pode refletir na nossa vida agora, hoje, já. Leia este texto e depois… vá ser criança!

 

Sara Almeida

 

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5.5.14

 

Estão a dar os meus desenhos animados preferidos na televisão, mas hoje não consigo estar com muita atenção. Estou a pensar no teste de português que fizemos ontem e que acho que não me correu muito bem. Quer dizer, acho que não vai dar para ter um muito bom e se calhar a mamã vai ficar chateada comigo. Ela está sempre a dizer que os estudos são o meu trabalho e que tenho que me esforçar.

Mas ontem não conseguia concentrar-me muito bem. Primeiro foi o passarinho com a asa partida que encontrámos no recreio e que a professora disse que se calhar não sobrevive; depois foi a estúpida da discussão com a minha amiga que insistia que eu não podia estar a ler o livro tão depressa… e eu que estava a ler devagar para ela me poder acompanhar! Mas pronto, não importa… as pessoas nunca acreditam em mim e já devia estar habituada. Quem tem mais de nove anos diz que sou uma miúda e não me leva a sério… os outros miúdos não me percebem ou não querem perceber. Se calhar a culpa é minha.

Mas às vezes os dias são giros e divertidos, porque há muitas coisas para descobrir e fazer. Há flores a nascer nas árvores, há gatos e patinhos pequeninos e estrelas, e montes de livros para ler, tantos que nunca vou conseguir ler todos. Livros sobre pessoas e animais e o espaço e descobertas e pessoas muito inteligentes e coisas que nem consigo imaginar apesar de estarem sempre a dizer que tenho uma imaginação delirante.

E agora tenho que esperar pelo resultado do teste para ver se sou castigada, mas se for, paciência, porque mereço. Depois hei de ter tempo porque há muito tempo à minha frente, para estudar e brincar e tirar boas notas e ser aquilo que quiser ser quando for crescida. De vez em quando os adultos ralham-me ou batem-me por causa de coisas que dizem que eu fiz ou não fiz, e eu nem sempre entendo o que fiz de errado mas devo ter feito alguma coisa mal porque os adultos dizem que fiz… mas quando for crescida não vou fazer assim com os miúdos porque deve haver uma maneira de eles saberem como é que se faz as coisas certas sem apanhar.

Estou a pensar que deve ser muito fixe poder ser grande e ninguém mandar em mim, poder comer o que quiser quando quiser e ler quando quiser e aprender todas as coisas do mundo e arranjar um emprego a fazer coisas de que gosto, e ser feliz. Mas depois parece-me que se calhar não deve ser assim tão simples, porque os adultos não me parecem sempre muito felizes e só falam em contas e em dinheiro e parece que não têm muito tempo para se divertirem, e mesmo quando têm tempo para se divertirem parece que já não sabem muito bem o que fazer com ele.

Mas eu vou fazer melhor do que isso porque ando a aprender muito com os livros e de vez em quando na Internet, quando me deixam, e olho com muita atenção para os adultos da minha família para aprender o que é certo e errado e o que eles fazem bem e fazem mal, e só vou fazer coisas bem. Já percebi que quando somos maus ficamos mal dispostos e quando somos bons e ajudamos pessoas e animais sentimos um calorzinho cá dentro e o nosso coração parece que está a rir-se e ficamos bem-dispostos e felizes. Por isso só é preciso sermos bons.

Eu sei que às vezes não apetece nada ser boa pessoa, porque alguém nos chama nomes feios ou nos mente, ou nos engana, ou o dia não nos correu bem, como dizem os adultos. Mas eu não gosto de sentir-me triste e, apesar de algumas vezes fazer asneiras, como saltar em cima de uma secretária na sala de aulas, ou fazer cara de má a um colega mais irritante, acho que vou conseguir ser boa pessoa.

A minha avó diz que eu tenho a vida toda pela frente. Eu não sei se entendo muito bem o que ela quer dizer com isso, porque já estou a viver há alguns anos e por isso parece-me que também tenho a vida por trás. Mas sei que vou esforçar-me muito para poder ter a vida que quero quando crescer.

E, nessa altura, finalmente, ninguém me vai poder impedir. Vou ter um gato.

 

Dora Cabral

 

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2.5.14

 

Não me lembro das circunstâncias do teu nascimento. Tudo o que sei, dos teus primeiros tempos de vida, foi-me dado pelas lembranças dos outros repetidas até à exaustão, pelas fotos e pelos cheiros que lembro, sem saber porquê. Só mais tarde reconheço memórias conscientes, a partir de um dia amargo que a memória guardou, e que todas as minhas defesas tentaram apagar em mim, ad eternum. No entanto, não esqueci. Aquilo que parece fácil, tem levado décadas a por em prática. Construí e desmontei. Neguei e finalmente, aceitei. Como aceitei muitas outras memórias que se seguiram.

Menina traquina e faladora, que teimavas em sorrir ao mundo, apesar do terror ter vivido contigo anos a fio; gosto tanto de sentir, visceralmente, o quanto eras feliz! Se não fosses tu e essa tua obstinação, eu não estaria aqui hoje, a viver sem entender muito bem como, nem porquê, apesar de tanto ainda doer da jornada. Hoje sei que essa luta também foi a tua, desde o primeiro instante. E tu resististe, para me deixares o melhor de ti. Estar-te-ei grata, até ao fim dos meus dias, por te teres recusado a desistir. Uma e outra vez. E mais outra. E outras mais. Demasiadas para que as conte com justiça. Todavia, há momentos em que me sentiria envergonhada se pudesses perceber a desistência no meu olhar. Nos meus dias mais cinzentos esqueço o que te levou a vencer os gigantes e sucumbo às formigas que me beliscam. Quanto mais mergulho no abismo, mais te odeio por nunca teres tido coragem de tomar uma atitude digna e poupares-me a mim deste azedume que rouba, gota a gota, de dentro da minha alma, todas as cores do arco-íris. Porque não percebeste logo que isto ia ser, toda a santa vida, uma novela mexicana? Porque me deixaste a mim essa responsabilidade? Como fizeste para escapar do veredito estatístico? E se um dia tudo isto for demasiado para mim, serás capaz de me perdoar se eu não tiver a tua força?

Não fiques triste, hoje não te odeio. Escuta com o coração: hoje, e na grande maioria dos meus dias, não te odeio. Hoje, e nesses dias todos também, sei que léxico algum será suficiente para agradecer todas as raízes que, carinhosamente, plantaste em mim. Por isso hoje, e porque tenho medo que não o saibas, agradeço-te a perseverança, a capacidade de amar e abraçar que me ensinaste, o arco-íris que afinal nunca de mim saiu - e que só eu não vejo, quando sucumbo à dor do post-scriptum. Sei que há muitas outras coisas, verdadeiramente mágicas, que preferias que eu lembrasse; em vez de cenas apocalípticas, cheias de efeitos especiais, que a minha insana memória consegue materializar. Eu sei, menina doce… Mas ainda que às vezes eu te pareça à deriva e isso te entristeça, lembra-te que dentro de mim, permaneces viva. Manténs-me viva. Dás sentido a todos os meus matizes, a todos os sorrisos que partilho, a todos os abraços que brotam da alma, a todas as histórias que eu conto, a todos os momentos em que danço e te sinto em mim, aos pulinhos de alegria, por coisa nenhuma. Não penso que nenhum dia nos vá sobrar no crepúsculo da vida, por mais que te ame genuinamente. Não haverá um encore do nosso último suspiro. Mas espero abraçar-te, na derradeira etapa da nossa jornada e escrever, com mão segura e a alma plena, a última página da nossa história. Nela, vejo-nos deitadas na areia, de mãos entrelaçadas e o coração tranquilo, a ouvir as ondas a bater nas rochas e a contemplar as estrelas. Tu, muito jovem e apaixonada, e eu, muito velhinha e deliciosamente feliz, na absoluta harmonia do Ser e do Sentir. Sem princípio e sem fim.

 

Alexandra Vaz

 

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