28.6.13

 

Junho é o mês que associo à infância!

Quando era criança, junho era o mês das férias, dos primeiros dias de praia, das tardes passadas em casa de amigas, do início das férias em casa da tia Maria onde, com a ajuda do tio Manel, “atacava” as cerejeiras para me deliciar com o fruto a que, ainda hoje, não consigo resistir.

Foi em junho que, nos últimos dias de infância, morreu a minha avó materna, cuja figura alta e esguia, olhos esverdeados e cabelos brancos arrumados em forma de carrapito, guardo com muita saudade.

Dos seus lábios, sempre a sorrir, saíam palavras doces que pareciam música, ensinamentos preciosos que só as pessoas simples nos podem dar.

Era frequente vê-la lançar mão de ditados e dizeres populares, quer para opinar, quer para ensinar de forma sucinta e airosa.

Um dos que mais utilizava era: “Quem não arrisca não petisca”.

Durante algum tempo, achei que estas palavras estavam relacionadas com comida (“petisca”), por isso não estranhava quando, numa tentativa para que comesse a sopa, me sussurrava ao ouvido “quem não arrisca não petisca”, ao mesmo tempo que me enfiava uma colher da dita boca adentro.

Estranhava, no entanto, que a minha avó o utilizasse em situações que nada tinham a ver com alimentos. Por exemplo, quando falava do quanto me devia aplicar no estudo, não só para passar de ano mas para “ir ganhando conhecimento das coisas e do mundo”; ou quando me incentivava a trocar o triciclo pela bicicleta sem rodinhas; ou ainda, quando me tentava convencer a bordar uns paninhos com patinhos que havia comprado na retrosaria do bairro, tarefa difícil para uma miúda que como que não sentia qualquer afinidade por agulhas e linhas.

Lembro-me de algumas vezes a minha mãe ficar zangada ao ouvir o “maldito” provérbio, pois, segundo ela, existiam muitos perigos à espreita de uma criança inocente e indefesa como eu, ao que a minha avó replicava: “Ela é uma criança mas não é parva!”

Ah, como me sentia importante nesses momentos!

Fui crescendo e os ensinamentos da avó passaram a fazer cada vez mais sentido, tornando-se parte importante na minha vida.

Ajudaram-me tanto a vencer medos como a não desistir de sonhar.

Mais tarde, encontrei nesta frase do economista Peter Drucker, -“Existe o risco que você não pode jamais correr, e existe o risco que você não pode deixar de correr.” – a síntese do que julgo a minha avó me quis ensinar, de que a vida é uma grande aventura, plena de riscos, a maioria dos quais não devemos ter medo de correr, pois isso é viver, isso é o que nos ajuda a crescer e o que torna a vida interessante. Devemos abster-nos de arriscar (porque não somos “parvos”) apenas e quando o que estiver em causa for o desrespeito a nós, aos outros e ao mundo.

Talvez devido às palavras da minha avó, a verdade é que à medida que fui crescendo fui aprendendo que a vida realmente só faz sentido quando estamos dispostos a arriscar, que só os ousados, os que saem da sua zona de segurança e vão ao encontro dos seus sonhos, só estes podem dizer que viveram verdadeiramente!

A História está cheia de exemplos de pessoas que ousaram, que não tiveram nem medo de sonhar, nem medo de correr o risco de viverem os seus sonhos.

Estes foram os que chegaram mais além, os que contribuiram para a evolução do mundo e para o progresso da Humanidade: venceram porque arriscaram, cometeram erros, falharam, sofreram e encontraram na dor a coragem de que precisavam para não desisitir.

“O que não mata fortalece”!

Recentemente, numa reunião sobre empreendorismo, ouvi um orador fazer uma interessante analogia entre a vida e a música. Dizia ele que a vida tal como a música é harmoniosa porque tem ritmo, tem melodia, tem altos e baixos... “Já imaginaram uma pauta sem altos e baixos? Agora imaginem a vida da mesma forma, uma linha reta... Que som ouviriam? Eu só me lembro de um: uma linha reta e um piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii... é o som que se ouve nas máquinas dos hospitais quando alguém morre!”

 

Cristina Vieira (articulista convidada)


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25.6.13

 

Todos nós sentimos a necessidade de procurar sensações novas. Desejamos experiências gratificantes que estimulem o nosso intelecto e os nossos sentidos.

Variando de intensidade e atingindo picos no final da adolescência, esta necessidade aparece relacionada com a desinibição, a procura de emoções, de entusiasmo, a necessidade de aventura, de novas experiências e de uma maior ou menor tolerância ao tédio.

Zuckerman (1994) definiu esta caraterística como “um traço que descreve a tendência para procurar sensações e experiências novas, variadas, complexas e intensas, e a disposição para correr riscos com a finalidade de satisfazer tais experiências”. Arnett (1994) concetualizou-a como uma predisposição que depende de outras caraterísticas de personalidade e do próprio ambiente de socialização para a sua concretização. A procura de sensações não é apenas um potencial para assumir riscos, mas implica a uma procura intencional dirigida à gratificação.

Este traço pode ser visível em várias áreas da vida e pode concretizar-se de formas diferentes. Por exemplo, num nível baixo, pode traduzir-se pela procura de companhias interessantes e estimulantes ou, num nível mais elevado, traduzir-se em comportamentos antissociais como vandalismo. Pessoas com altos níveis de necessidade de estimulação sensorial tendem a procurar situações novas que envolvam vivências diferentes, de grande intensidade, porque há pouca tolerância à rotina e ao tédio.

Esta procura de novas sensações pode traduzir-se em preferências pouco convencionais, por exemplo, ouvir músicas com letras provocadoras e que desafiam o sistema estabelecido, como o heavy metal e, inclusive, adotar algumas práticas, rituais, relacionadas com as mesmas; aderir a práticas sexuais de risco, como não usar contracetivo ou ter vários parceiros(as). Parece haver uma necessidade de chocar e de testar sempre os limites.

A própria vida do sujeito pode ser colocada em perigo e terminar de forma dramática porque não há uma noção clara das possíveis e prováveis consequências desses comportamentos. A título de exemplo, um sujeito tinha por hábito, procurar passar na “Via Verde” a alta velocidade e tentava sempre ultrapassar o último limite conseguido. É claro que a experiência não acabou bem.

Referem os estudos que, conforme acima mencionado, são os adolescentes do sexo masculino que apresentaram maior tendência para a procura de novas sensações. No caso da idade, constatou-se uma correlação negativa, quer dizer que as pessoas mais velhas têm menos probabilidade de adotarem comportamentos de risco.

Será assim? Será que à medida que envelhecemos deixamos de sentir essa necessidade de experimentar coisas novas e de viver no limite? Será apenas uma questão de conformismo, adaptação, desinteresse ou de qualidade do estímulo?

 

Ana Teixeira


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21.6.13

 

Não consigo dissociar “risco” de outras palavras. Só consigo entender o risco como um, de entre infindáveis outros, fatores naturais da vida. Só consigo conceber a existência do risco como algo pelo qual anseio diariamente. O risco, nas suas variadas componentes e dimensões faz-me viver, sentir, sorrir. Sendo certo contudo que o risco pode também terminar com a minha existência, quando o mesmo pisa o limite do aceitável. Mas também não precisa de ser assim... O problema é que o risco está casado (ou correndo o risco de ser mais atual - vive em união de facto) com a consequência. E essa, em muitas situações, não depende de nós. Tal significa que apesar de medido o risco, a consequência do mesmo poderá ser uma surpresa e completamente desajustada do limite imaginado. Vejamos: Correndo o risco de copiar num exame, o natural será perceber como consequência máxima dessa ação o facto de ser apanhado e assim ser excluído do mesmo. Risco assumido, limite definido (para não ser apanhado), compreensão da pior consequência expetável. Contudo, para além da consequência percecionada (no pior dos cenários), poderão entrar em marcha diferentes variáveis que tornarão a consequência num, ou em vários, cenários inesperados. O professor pode tomar a decisão de complicar a vida ao aluno num exame seguinte. O aluno poderá ter repercussões na vida familiar após comunicação do sucedido por parte da escola. O facto de ter sido apanhado a copiar, quando a decisão de o fazer já teria sido de último recurso por não conseguir obter sucesso na disciplina, poderá tornar-se uma experiência traumatizante que irá impedir uma perceção cognitiva de sucesso futuro à mesma, etc., etc..

Outros casos há, contudo, em que a consequência do risco é completamente ajustada ao limite imaginado. Vejamos: Correndo o risco de conduzir em velocidade excessiva, o natural será perceber como consequência máxima dessa ação o facto de morrer ou de ficar gravemente ferido. Também aqui poderão intervir variáveis que tornarão a consequência num, ou em vários, cenários inesperados? Com certeza que sim, mas neste caso nem vale a pena explorar tal...

Chegamos então assim à conclusão que o risco possui graus de consequência completamente opostos quanto à potencial gravidade danosa para o indivíduo que o comete. Contudo, assumamos que enquanto ação consciente, risco é risco. Assumamos igualmente que partir para o risco sem a perspetiva de obtenção de qualquer tipo de gratificação ou recompensa é, à falta de melhor palavra, estúpido...

E para eu não parecer estúpido, sendo que para o primeiro exemplo fácil será perceber qual a eventual recompensa no sucesso, na verdade vos digo que conduzir a minha mota a 220 km/h, na autoestrada, num glorioso dia de sol, não só me faz sentir vivo como me faz sentir feliz, livre e em paz.

 

Mas afinal... Risco? Falamos de quê? Só não existe risco na certeza. E para além das certezas serem tão poucas, a verdade é que são também uma seca...

 

Rui Duarte


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18.6.13

 

A vida carrega uma imensidão de pormenores que na maior parte das vezes não conseguimos observar. Ou porque estamos tristes, deprimidos, ocupados nas tarefas diárias, centrados nos nossos problemas, que deixamos escapar o que de mais belo nos é oferecido todos os dias.

De tão ricos que são têm o poder de nos transformar e aí deixam de ser simples pormenores e passam a ser a Vida.

É um risco viver sem respirar a Luz, o Amor, a serenidade, a paz, a harmonia, a ternura, o carinho.

É um risco aceitar o que temos sem nos questionar.

É um risco viver triste e depressivo…

É um risco perder a fé e a esperança…

É um risco não perdoar…

É um risco não sorrir…

A época que vivemos não é florida, a sociedade, os nossos governantes tentam escurecer a nossa alegria. Mas com a força que vive em cada um de nós, no nosso interior, no nosso coração, todos conseguimos fazer a viagem com plenitude e satisfação.

Somos seres maravilhosos, que estamos constantemente a ser postos à prova para nos tornarmos ainda mais bonitos, mais perfeitos, mais puros. Vamos aprender com os erros, com as lições que a vida nos dá. Vamos todos os dias sorrir! Sorrir para os nossos filhos, para o nosso companheiro, para os nossos vizinhos, para os nossos colegas, para um sem-abrigo, para o sol, para a lua, para uma flor, para um animal... Simplesmente sorrir, sorrir com o coração. Vamos semear Amor por todo o lado que passarmos, vamos viver sem nos arrependermos de não termos sido felizes. Esta felicidade passa também por fazer bem ao próximo, tudo o que damos recebemos, se damos amor recebemos amor, se damos rancor recebemos rancor. Esta é a Lei, a única Lei válida para a Vida... Dar e receber sem esperar nada em troca. Experimentem este sentimento, experimentem viver com esta consciência e acreditem que tudo irá fluir.

Todos temos algo que nos perturba, seja uma doença, seja a solidão, seja a falta de dinheiro, seja alguém que nos incomoda. E é precisamente nestas ocasiões que temos que reagir com serenidade, interiorizar que tudo isto acontece para nos transformar em pessoas melhores. E desta forma terminaremos a viagem sem arrependimentos, livres de emoções inferiores e em paz com a nossa prestação.

 

Joana Pereira (articulista convidada)


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14.6.13

 

Numa época dominada pelo imediatismo, pela tecnologia de ponta, pela rapidez de processamento, pela facilidade de troca, pela ausência de emoções fecundas e de laços duradouros, passou a cultivar-se o efémero como se nada fosse feito para durar; de forma particularmente insidiosa, no que toca ao amor e aos relacionamentos (que se caraterizam por ser de curta duração nos tempos “líquidos”, como afirma Bauman, criador dos conceitos de Amor Líquido e Modernidade Líquida). Os seres humanos, “analfabetos emocionais” em clara expansão (expressão do Dr. Manuel Damas, referindo-se aos portugueses – “analfabetos sexuais e emocionais” - mas que eu aplico à população a um nível mais macro), receiam a dor e, na impossibilidade de com ela lidarem, assumem que, evitando uma relação estável e duradoura (trocando de parceiros, namorados, amigos, amantes, noivos) estarão a salvo dessa dor. O sofrimento e a solidão tornam-se os grandes “alvos a abater”. Formatam-se seres humanos, usando o mantra do “para não te sentires só, não te ligues a nada. Não te vincules, não te apegues. Não deixes que respirem (n)o teu metro quadrado de oxigénio”. Apregoa-se a necessidade de estar só, o direito à liberdade quando, no fundo, queremos pertencer. Precisamos dessa pertença para estruturar sentimentos e, afinal, só assim sermos realmente livres. No entanto, numa sociedade que preconiza ligações entre as pessoas cada vez mais frágeis e desumanas, as relações terminam tão meteoricamente como começaram. As pessoas separam-se sem terem realmente chegado a “estar juntas”, na verdadeira aceção da expressão. Deseja-se um grau de “segurança” que nunca permita um terramoto na nossa estrutura interna. Por isso, são preferidos os relacionamentos virtuais: pode-se ser quem se quiser ser, viver ao sabor da brisa emocional (formatada), desejar qualquer outra criatura, num espaço cibernético que permite, num único clique, apagar o que se havia escrito, “desamigar” um contacto, “lavar roupa suja” ou dizer simplesmente adeus. Se alguém não me dá a segurança de que eu preciso, esse alguém é facilmente esquecido e substituído. Os avanços tecnológicos que nos remetem para a “modernidade líquida” tornam-se virais para cada indivíduo na gestão das suas relações e dos seus afetos, dotando o conceito de amor da mesma “liquidez” que fragiliza os laços humanos; amor, esse, totalmente diferente do seu verdadeiro significado: forte, estruturante, perene.

Surgem, então, novos modelos de intimidade: o sexo virtual, casual, os “amigos com benefícios” e o “sexo sem compromisso”. O Amor torna-se líquido, sem consistência, sem forma, evidenciando, nesse sentido, a falência emocional humana. A definição romântica do amor está fora de moda. O amor verdadeiro, na sua vertente enaltecida ao longo dos tempos por poetas e artistas, foi reduzido a um conjunto de experiências vividas pelas pessoas, nas quais se passou a banalizar a palavra amor. Noites fortuitas de sexo são chamadas de “fazer amor”. Da mesma forma se diz hoje, com relativa facilidade, “ amo-te”; dizê-lo não implica a responsabilidade de realmente amar. Do amor conhecemos apenas a sinopse e, sem nunca chegarmos a ver o filme (porque abandonamos a sala de cinema logo a seguir à publicidade), colocamos-lhe um rótulo tão redutor e insípido que, na verdade, nunca poderá chegar a ser um “êxito de bilheteira”. A necessidade premente do “prático, fácil e descartável” não é compatível com todos os anseios provocados pelo Amor. Sentir o coração bater, descompassado, ao ritmo de uma paixão pode doer, pode assustar visceralmente. Querer mergulhar nessa paixão para estruturar um futuro mais abrangente, mais rico, mais profundo, assemelha-se a um salto olímpico (com vário mortais encarpados e “flick flacks” à retaguarda), uma vez que é “comercializado” num pacote promocional que inclui incerteza, ansiedade, insegurança e um profundo medo da rejeição. No entanto, tal como nos diz Bauman, “…não é ansiando por coisas prontas, completas e concluídas que o amor encontra o seu significado, mas no estímulo a participar da génese dessas coisas. O amor é afim à transcendência…”.

Em face deste fenómeno, urge que questionemos as nossas representações, a forma como nos ligamos, como amamos, como existimos. Corremos seriamente o risco de passar pela existência absolutamente vazios, “abrindo mão” de viver um dos sentimentos mais nobres da humanidade, permitindo que essa liquidez se propague de forma virtual e real. Para Bauman, ter consciência deste processo é algo valioso que pode gerar menos lamentações, menos stress, menos imaturidade perante o fracasso nas relações, mais resiliência, mais capacidade de acreditar, menos clivagens nos relacionamentos íntimos. Reforça o sociólogo: “A árdua tarefa de compor uma vida não pode ser reduzida a adicionar episódios agradáveis. A vida é maior que a soma de seus momentos”. O Amor exige esforço, empenho e dedicação. O Amor é verbo, é acção. Para o perceber é preciso pensar “fora da caixa”. Num tempo em que não se pode contar com nenhuma instituição de longa duração, mas em que a vida individual está cada vez mais longa, talvez valesse a pena investir no amor durável, constante e assente num compromisso. Afinal, o Amor não tem o poder de nos conceder a imortalidade mas será, no último dos dias, a única razão porque a viagem valeu a pena.

 

Alexandra Vaz

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11.6.13

 

“Pisaste o risco”, pensou enquanto segurava firmemente as lágrimas do desengano. Aquele risco que ambos tinham delineado como barreira entre o ser nós e o quebrar de uma união, presumida como da vontade de ambos e de cada um. Cada um sabia que uma relação comportava sempre um risco de se desenvolver em diferentes direções. A verdade é que ninguém sabe o desfecho seja do que for, mesmo que os indicadores apontem numa determinada direção. Às vezes, ninguém dá nada por uma relação e esta mantém-se duradoira, contra todas as expetativas. Outras vezes, todos afirmam ser uma relação “para sempre” e esta desaba quando menos se espera. Pisara o risco e agora tudo o que havia sido uma certeza transformara-se numa incerteza deveras assustadora. Como é que uma escolha podia ter um peso assim tão determinante? A escolha entre estar aquém e para além do risco? Segurava as lágrimas que antecediam as violentas ondas de emoção que atordoavam todo o seu ser. Ele correra o risco de tudo perder. Ela sentia que tudo estava já perdido. Parecia agora haver uma linha que os separava e se tornava fronteira entre ambos, que eram antes um nós. E o que fora nós, eram agora dois mundos rodeados, cada um pela sua própria fronteira, quase estranhos um ao outro.

Pisara o risco, e transpusera-se agora para uma nova realidade, muito diferente daquela que desejara antes de atravessar a fronteira. Mas se atravessara é porque aquilo que primeiramente desejara já não era o que queria agora. Valera a pena? A certeza é que tudo se transformara, como tudo muda na vida.

O que nos faz ir para além do risco ou ficar aquém deste, no lugar seguro do pseudo-controlo? O que nos leva a pisar o risco? O que nos faz decidir correr o risco, mesmo não sabendo o destino? E sobretudo, quando vale a pena correr o risco?

 

Cecília Pinto


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7.6.13

 

O risco é daqueles temas que todos têm algo a dizer, uma história ou experiência a contar, por ser algo tão propalado e presente nas nossas vidas. O risco ultrapassa qualquer ciência, constitui sim um ato ou efeito, ou antes um fator propício a qualquer ato. Todas as áreas de conhecimento ocupam-se literalmente de avaliar o risco específico inerente a sua operação, umas de forma mais proeminente que as outras. A gestão não é exceção, e aqui encontram-se eventualmente boas razões para se acautelar em torno do risco.

É frequente associar-se o risco a ocorrência de eventos com impacto negativo, porém o risco na sua aceção geral é a probabilidade de ocorrência de eventos incertos, quer sejam negativos ou positivos particularmente no campo de gestão. É preocupante analisar-se o risco na medida em que uma adequada planificação implica a previsão e mensuração do impacto de sua ocorrência, o que dá lugar à fase de controlo que existe precisamente para avaliar o desempenho pós-facto numa base analógica para apurarem-se desvios, caso ocorram, e perceber a sua ocorrência. A existência de um desvio não é em si o fim da gestão, critério suficiente para relegar do campo de ciência para de arte, mas o início da atividade de gestão e a aceitação do meio externo como uma esfera assente numa plataforma de base inclinada.

Numa outra dimensão entende-se o risco como sendo o grau superlativo absoluto sintético de ser empreendedor: praticar alguma atividade económica no sector primário de forma artesanal com recurso à sua arte, como é o caso da agricultura de subsistência. Eventualmente, se não fosse de subsistência não seria de risco superlativo pois apesar de a morte ser o evento mais certo ninguém deseja escalonar como um cenário prioritário. Qualquer ser humano no seu juízo normal prefere ser punido ou censurado pelo insucesso com impacto no desperdício de recursos de ordem material e/ou financeiro do que de natureza humana. Essa segregação natural na hierarquia dos danos causados pelos impactos negativos tem a sua ordem lógica e cronológica assente em valores da natureza humana.

O caso vertente do empreendedor, sendo a pessoa detentora de uma ideia e que pretente através dela desenvolver um produto ou serviço útil e inovador com vista a transferir valor ao mercado potencial, é exemplo de atitude pró-risco. Para tanto, ele opta por assumir o risco potencial e nunca o contrário, no momento que o fizer estará a dar as costas à conquista do sucesso. Não deixa de ser menos empreendedor quem tiver outra atitude face do risco, quer seja através de transferência, aceitação, ou mitigação do risco. Para a adoção de uma dessas atitudes ou estratégias face ao risco de forma premeditada, implica mais do que ser empreendedor munir-se de informação, dominar algumas ferramentas de gestão e saber o timming certo para atuar. Sobre a informação importa frisar que, quem detém informação privilegiada está um passo à frente de beneficiar-se do risco relativamente aos seus concorrentes em situação desprivilegiada.

Voltando-se ao cerne do artigo, risco, confunde-se com a música que anima uma festa, tais ondas do mar de amplitude e altitudes variáveis, dependendo das condições climatéricas que embalam o barco artesanal de navegação na sua missão quotidiana. O risco foi assim o ímpeto da missão dos navegadores e exploradores ao descobrimento.

O entendimento de cada um sobre o risco depende do agregado de suas experiências, aspirações, expetativas e conhecimento acumulado, rotulando suas convicções em tendências pessimistas ou otimistas no plano dos possíveis cenários extremistas. Ali, o risco situa-se na diagonal, cortando os campos como uma linha que separa a cara da coroa.

 

António Sendi (articulista convidado)


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4.6.13

 

A dada altura os olhares cruzaram-se. Já tinha acontecido, mas daquela vez foi diferente. Naquele instante, naquele preciso instante, deixaram de ser as mesmas pessoas.

Tudo começou quando o destino os juntou no mesmo local de trabalho. Deu-se a primeira reunião, a segunda e as seguintes. Trocaram impressões - ora concordando ora discordando - numa crescente admiração mútua. Cada achega profissional tinha agora um cunho pessoal. Onde havia um técnico desprovido de pessoa, passou a haver uma pessoa desprovida de técnico. As opiniões passaram a ser dadas e acolhidas com outra importância. O que tinha piada, tinha mesmo piada e o que desconcertava, desconcertava a valer. O meio-termo deu lugar a posições sempre extremadas, para o bem e para o mal.

Enquanto os lábios não selaram o que os olhos diziam, os dias, mesmo os mais cinzentos, eram todos de sol radiante. Foram tempos maravilhosos. Momentos que fundaram solidamente a história daqueles dois. Pedaços de vida donde nasceu tudo o que se lhes seguiu.

Os primeiros anos foram encantadores: viajaram, fizeram projetos, falaram do futuro (como se fosse acontecer dali a pouco), superaram sem dificuldades as divergências mais divergentes.

Certo dia, numa chegada a casa igual a tantas outras, um "olá!" saiu com uma quase-impercetível pronúncia de enfado (um discreto apontamento na voz que só é detetado por ouvidos especializados naquele tipo de "olás!").

- Então? Que foi?

- Nada!

- Deve ser má disposição - pensou de si para si. - Às vezes vem assim. É raro mas acontece. Não deve ser nada.

Errado! O "olá!" seguinte estava mais próximo de um "adeus!". Surda e secretamente estava a acontecer o que acontece à maioria dos casais: desgaste. E quando o desgaste se instala abrem-se as portas da tentação. O mundo fora da relação ganha nova importância. Passa a haver recompensas que validam o risco de levantar a cabeça e olhar em redor.

Também. convenhamos, não há quem aguente uma, duas décadas a mesma pessoa, as mesmas roupas, as mesmas piadas, os mesmos amigos.

E então lembrou-se que um casal tem que se reinventar periodicamente (coletiva e individualmente). Os dias passam depressa e viver bem, às vezes, ocupa-nos muito espírito. Deixamos de renovar o guarda-roupa, teimamos em velhos hábitos, acumulamos gordura… Tão pouca ação em nome da segurança que a estável relação parece conferir.

Em nome dos "tempos maravilhosos e dos anos encantadores", decidiram procurar aquele olhar e redescobri-lo. Podiam ter optado por se separarem e investir na conquista de novas companhias mas, recordando aqueles "dias de sol radiante", correram o risco de se mudarem juntos. Evoluíram, aprenderam a ver o mundo sempre de uma outra perspetiva, interessaram-se por novas realidades (mesmo por algumas que não constavam do cartão de visita inicial de cada um deles), mas decidiram os dois que não se queriam perder um ao outro. Que quem se empenha e se renova no trabalho, também deve empenhar-se e renovar-se em casa. Porque o primeiro olhar que se cruzou de forma especial, não tem que acontecer apenas naquele momento inicial.

 

Joel Cunha


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