
O que fazer?
Colocar, colocarmo-nos, esta pergunta pode já ser um bom sinal, pois pressupõe intenções de ação numa determinada circunstância. A questão terá como razão de ser e ponto de partida que quem a faz se põe, a si na circunstância, em causa, como potencial ator e não como uma mera consequência.
A pergunta é tão mais importante e atual quanto nós, que vivemos em Portugal, estamos a ver tudo à nossa volta em risco de se desmoronar, perdendo-se a esperança, as referências, os horizontes que teríamos como seguros e estáveis.
Consciente ou inconscientemente, o ambiente que nos rodeia – a começar e a acabar na generalidade dos órgãos de comunicação social – pode levar-nos a desistir, subjugados com mais ou menos queixas, descoroçoados com mais ou menos revolta, remetendo-nos para um ‘estatuto’ de consequência (quase que como), mero fruto das circunstâncias.
Não é uma questão de pretendermos ser heróis quixotescos, nem tartarugas encolhidas dentro da carapaça perante as intempéries.
Antes, será um posicionamento perante as circunstâncias em que nos vemos como causa, perguntando: perante isto, o que me cabe a mim fazer?
Quanto mais nos responsabilizarmos a nós próprios (não, não estou vagamente a falar de sentimentos de culpa, não é isso) como entidades capazes de fazer (o quê, como, quando), mais facilmente nos libertaremos, individual e colectivamente, da etiqueta e da condição de coitadinhos, dependentes da proteção e da orientação de um qualquer chapéu-de-chuva, perante o qual de outra maneira não deixaremos de ser reverentes e obrigados.
Jorge Saraiva (articulista convidado)