28.5.12

 

De manhã acordo sozinha na cama e tomo o pequeno-almoço também sozinha. Mas não me sinto sozinha, pois sei que o passo seguinte é ligar o computador e começar a trocar mensagens com os meus muitos amigos, que estão lá sempre para interagir comigo.

Saio para o trabalho, aquele de que não gosto, mas não me sinto triste, pois sei que terei o facebook ligado e estarei disponível para qualquer mensagem que surja e me distraia das tarefas maçadoras e rotineiras que me fazem doer as mãos e a cabeça.

Paro para o almoço, mas não terei que aturar os colegas insuportáveis, porque os meus amigos também gostam de comer pertinho do computador, deixando músicas e vídeos que nos fazem descontrair.

O final do dia chega e ainda tenho tanto para fazer! Marcaram um evento ao qual milhares de pessoas aderiram e eu não poderei faltar, claro, pois sou uma cidadã muito ativa e junto-me às causas que defendem os mesmos valores que eu. Apesar de não conhecer pessoalmente nenhuma desses milhares de pessoas, sinto que estamos todos ligados por um objetivo comum e isso vale mais do que muitos cafés com as pessoas que vivem perto de mim, que já não são tão amigos quanto isso. Nem têm facebook... Não aderem a estas causas nobres.

Depois do grande evento, a defender os direitos dos animais com a minha presença virtual, resta-me ir até ao ginásio, fazer o exercício diário. Mas que chatice, ter que me deslocar até aquele local cheio de gente, onde todos falam como se estivessem online o dia todo. Ainda não encontrei um site bom com exercícios que possa fazer em casa sozinha, mas ando à procura e de certeza que há!

O jantar chega e com ele mais conversas acesas com os meus amigos. Todos sabemos o que vamos comer e até partilhamos receitas. É uma troca de vivências e experiências muito enriquecedora e tenho adorado as sugestões que lá partilham. Terei que jantar sozinha, mas isso não me preocupa, pois a seguir ao jantar já poderei comentar com eles a experiência de degustação que tive em casa.

Poderia ver um filme, sozinha na sala, mas para quê, se posso jogar em comunidade com os meus amigos? É fantástica esta companhia sem sair de casa!

Ah! Esqueci-me de ir às compras... Tive tanto que fazer durante o dia, sempre a receber mensagens importantíssimas de amigos que merecem toda a minha atenção... Lá terei que pedir online. O que vale é que a lista de compras é fácil de fazer, pois no site os artigos estão no lugar de sempre. É bem mais fácil do que ir para o parque de estacionamento do supermercado com o carro, pegar num carrinho, procurar os artigos que vão mudando de lugar e preço só para nos enganarem, e ainda por cima ter que discutir com a menina da caixa que parece que não convive com ninguém o dia todo. Tenho que lhe dar o meu endereço online para travarmos conhecimento para ela se tornar mais sociável!

 

Sónia Abrantes (articulista convidada)


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24.5.12

 

Saberiam os pioneiros da web até onde os levariam os passos no desconhecido mundo da informática?

No início desta caminhada, os exploradores sabiam quando se movimentavam no mundo real ou virtual, as zonas estavam bem definidas e separadas, mas hoje os dois mundos tendem a fundir-se num só, com predominância, em muitos casos, do mundo virtual. Os cafés, tantas vezes pontos de encontro, os clubes e outros espaços de socialização estão a ser substituídos pelas práticas de individualização em frente a um computador que, virtualmente nos liga a todo o mundo. Viajamos por terras longínquas sem termos de sair do nosso espaço de conforto e segurança - a nossa casa. Fazemos amigos distantes sem nos conhecermos, a idealização do amigo virtual compensa a falta do contacto físico, do calor humano. Os nossos conhecidos, os que moram ao nosso lado, não nos interessam, não reparamos neles; porém, quando desligamos o computador, a nossa “companhia” volta a ser a solidão.

 

A Internet perpétua os momentos e potencializa-os. Todos nós, uma vez ou outra, nos expusemos em situações embaraçosas, numa discussão ridícula, numa zanga sem sentido, num momento eufórico, num desvio à norma padrão. Antigamente, e por antigamente entenda-se menos de uma década atrás, rapidamente o facto comprometedor passava para a esfera das recordações. Agora, por força do virtual, esse momento é testemunhado e revivido por milhões de pessoas. O facto vivido, descontextualizado daquela realidade e trazido para a atualidade por força do virtual, pode causar contratempos irreparáveis.

 

Não sou fã do mundo virtual, mas com facilidade reconheço que num processo em que as novas tecnologias e a informática são cada vez mais invasoras, não podem existir infoexcluídos porque o virtual é uma realidade.

 

Saberão hoje, os exploradores informáticos, após tantos avanços, para onde se dirige e qual o limite do mundo virtual?

 

Cidália Carvalho


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21.5.12

 

Em uma conferência sobre segurança virtual um especialista alertava sobre todos os cuidados necessários para quem usasse o computador.

Deu todo o tipo de instruções para que ninguém fosse vítima de nenhum crime virtual.

Quando ele acabou subiu ao palco outro especialista em segurança virtual e este disse: - Senhores, não se preocupem com a Internet, não existe nada nela que não exista aqui no mundo de fora, finalmente do que é feita a Internet? De pessoas, não são alienígenas que controlam os sites e roubam informações.

Foi uma das coisas mais engraçadas que já assisti. Precisou de uma linha para derrubar as páginas do anterior palestrante.

Mas ele tem razão, temos que ter cuidado na nossa vida virtual, mas também nos cuidamos da nossa vida real.

Ou por acaso apenas estamos a mercê de golpistas na Internet? Apenas aqui podem roubar e mentir?

Cuidado com os sites de relacionamentos! Todo mundo ali mente!

Já me disseram isso. Ora, eu já peguei namorados reais, em vida real, mentindo. Também tive amigos que jurava conhecer e estavam mentindo e não faziam parte dos meus amigos virtuais.

O ser humano é assim, de comportamento duvidoso. Internet não é nosso reflexo, é quem somos.

Você pode comprar uma coisa pela Internet e nunca receber ela!

Já fui roubada na minha vida e não foi por Internet.

Tantos medos projetamos no computador, como se este tivesse leões dentro. E aqui fora, são todos gatinhos?

É importante ser cuidadoso com tudo, não apenas com a Internet. Crianças somem e não são levadas por algum tubo do computador, pessoas roubam elas no meio da rua.

Que bom seria pensar que todos os perigos do mundo estão aqui dentro, guardados. Então poderíamos desligar o computador e ficar tranquilos e felizes, longe do perigo, afinal a porta está fechada.

Internet não é a porta do inferno, ele está em nós na maldade que temos correndo no sangue.

Vida virtual é vida, tanto que começam com a mesma letra. Vida que vivemos é virtual, é verdadeira, é real. Não existe mais essa separação do virtual com o real.

O virtual é real e o real é virtual, a mesma coisa, um corpo, como se fossem os músculos e os ossos.

O que somos aqui dentro, somos aqui fora. O que escondemos, o que mostramos, aonde vamos. Tudo é a mesma coisa, tudo é vida.

Já não é virtual, é apenas vida, de um modo recente que aprendemos a viver, agora já converte em tudo. É vida, nem virtual, nem real, apenas vida.

 

Iara De Dupont (articulista convidada)


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17.5.12

 

Não Tenho Pressa

 

Não tenho pressa. Pressa de quê?

Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.

Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas,

Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra.

Não; não sei ter pressa.

Se estendo o braço, chego exactamente aonde o meu braço chega –

Nem um centímetro mais longe.

Toco só onde toco, não aonde penso.

Só me posso sentar aonde estou.

E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,

Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,

E vivemos vadios da nossa realidade.

E estamos sempre fora dela porque estamos aqui.

 

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"

 

 

Já Fernando Pessoa sabia... bem antes das redes sociais e dos jogos virtuais, já ele sabia que é da natureza humana fugir do seu próprio tempo para outro tempo que não existe... É da natureza humana a permanente insatisfação, a procura constante do que está mais à frente ou daquilo que ficou para trás, quando ainda não se sabia o quanto era valioso... é da natureza humana pensar que podemos ou sabemos mais por acharmos que fintamos o tempo se formos mais rápidos. Esquecemo-nos que o mundo já existia antes de nós, que continuará depois da nossa passagem e que nada mudará… esquecemo-nos que o sol e a lua é que ritmam as nossas vidas e que só temos a aprender com isso.

Quantas vezes os nossos sonhos e desejos nos levam a viver vidas paralelas onde tudo seria reconstruído desde o início, sem erros, sem problemas, sem mágoas e com braços que pudessem alcançar o mundo inteiro. Se continuarmos a sonhar com a vida perfeita, deixaremos o tempo passar, deixaremos a vida correr, deixaremos escoar os momentos da nossa vida só porque não temos aquilo que achamos que queremos.

 

Estefânia Sousa


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14.5.12

 

Nas notícias informam que a minha área (Informática) neste momento não está a sentir tanto a crise, como outras áreas (professores de línguas, história, contabilidade, enfermagem, psicologia, ...), contudo não existe só concorrência com pessoas com as mesmas competências que eu:

  • os empregadores escolhem técnicos com o 12º ano, recém-licenciados para estágios curriculares, IEFP ou profissionais
    • para pagar pouco e obrigá-los a trabalhar com mais exigência, para tentarem fazer o trabalho de um licenciado
    • colocam os colaboradores com mais experiência a orientá-los e a ensinar quase todos os processos de uma tarefa... O colaborador antigo fica assoberbado de trabalho porque além das suas tarefas também tem de orientar outra(s) pesssoa(s)
    • os empregadores que querem otimizar os processos também escolhem pessoas:
      • da área de matemática, matemática para a tecnologia para a otimização de cálculos
      • que a maioria das vezes não compreendem a funcionalidade das plataformas ou o básico de uma linguagem de programação
  • gestores ou economistas para a a gestão de projetos
    • a maioria não sabe a área de negócio, programar tarefas... propondo muitas vezes tempos irrealistas para um tarefa... e o trabalhador desgasta-se a tentar cumprir o exigido
    • quando algo acontece errado, não tenta perceber o processo da tarefa que ocorreu mal ou o porquê e coloca a culpa no colaborador abaixo
  • designers ou arquitetos para o desenvolvimento do site

Muitas vezes percebo a opção de escolher uma pessoa de outra área para enriquecer o projeto, mas a maioria das vezes, os empregadores não pensam:

  • no custo total do projeto ao contratarem pessoas menos qualificadas para a tarefa, pensando só, que de uma maneira ou outra vai ficar realizada. Nem que os novos colaboradores precisem de orientação e isso implica que outro(s) colaborador(es) tenha(m) de dar assistência
  • que 8h diárias é o tempo pago para um dia de trabalho
    • mais do que isso, deixa o trabalhador cansado, precisando de mais tempo para elaborar uma simples tarefa
    • a maioria dos empregadores não paga hora extras, mas sente-se na obrigação de as exigir gratuitamente, em tempo de crise
    • como é que uma pessoa pode tirar um curso para melhorar conhecimentos, se trabalha às vezes 14h a 16h por dia?
    • como é que uma pessoa pode ficar motivada, vendo o salário a baixar e a exigência a aumentar?
    • Por exemplo, a minha hora de saída num trabalho era às 18h e eu costumava sair sempre depois das 18h30 … 20h (habituei-os mal, eu sei) e um dia saí às 18h certas... o patrão veio logo perguntar, "Já vai?", e eu respondi "Sim, não tenho nenhuma tarefa pendente e estou na minha hora".... mas não foi bem visto
    • Também já me aconteceu sair sempre depois do meu horário de trabalho estipulado, e noutra empresa às 20h, o chefe (que chega e sai às horas que lhe apetece) veio perguntar-me "Então, já vai sair?". E eu respondi "Sim, e já vou tarde!"
    • Uma vez já estava a apanhar o transporte público, por volta das 21h, e recebo uma chamada, no meu telemóvel pessoal, a exigir que fosse terminar uma coisa, que não era muito importante, mas tinha sido um pedido de um amigo...

E com estes sacrifícios e ainda mais... fiquei desempregada.

 

Sousa

in Informação relevante


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10.5.12

 

“Estou desempregada. Não é a primeira vez que estou desempregada, mas nunca estive desempregada durante tanto tempo.

O que recebo como subsídio é muito pouco, não chega para pagar as contas do essencial, para sustentar a minha filha. Se não fossem os meus pais, não sei o que seria de nós. Mas atenção: eu não quero viver de subsídios! Quero é ter emprego, trabalhar e ganhar para viver, para vivermos. Por isso procuro emprego sem dar tréguas. Não reconheço grande valor ao facto de ter demasiado tempo para estar com a família e com os amigos e comigo mesma. Ter tempo para viver a minha vida é uma obrigação que devo cumprir todos os dias, não uma oportunidade para os tempos de menor ocupação. O trabalho desenvolve, dá dignidade, valoriza. Para mim, estar desempregada é mau!

Hoje em dia não é fácil procurar emprego, desde logo por rarearem as oportunidades, mas o pior é a forma como o desempregado é tratado quando procura emprego, quando luta pela vida, pela sobrevivência. É uma humilhação permanente, quase total. Desde o centro de emprego, onde é obrigado a ir com frequência e onde desperdiça imenso tempo em longas filas, até à atitude sobranceira, arrogante e despótica, de alguns empregadores ou dos seus agentes. O desempregado é tratado, por alguns, como se tivesse uma doença contagiosa. Curiosa é a natureza humana… Quando mais precisamos, quando a situação de todos nós é mais difícil, recebemos hostilidade dos nossos pares quando têm de nos encarar, reagindo assim, certamente, por medo de um dia estarem no lugar do mais fraco, neste caso, no lugar do desempregado. Rejeitam o outro, o que está onde eles têm medo de vir a estar.

Fico revoltada com aquelas pessoas que, nestes tempos difíceis, em cima da desgraça de tantas pessoas, vêm dizer que, se estou desempregada, a culpa é minha, por não ser pró-ativa nem inventar forma de, através do marketing e da estratégia, provar aos empregadores que o meu produto “eu trabalhador” é muito melhor que o mesmo produto de todos os meus companheiros de sala-de-espera. Peço desculpa, mas a culpa não é minha – eu esforço-me e luto e não dou tréguas, mas não consigo trabalho, só consigo ser humilhada enquanto perco dignidade! Bom emprego arranjaram essas pessoas…

Os nossos governantes recomendam que emigremos. E as pessoas alinham nessa ideia, desinvestem do país, desprezam Portugal, como se tudo fosse fácil lá fora. Eu não quero emigrar e sinto-me no direito de continuar no meu país, de querer viver aqui, de querer trabalhar e produzir para que seja uma terra digna, boa e desejada para viver. Por isso, enquanto não fecharem Portugal, terão de me aturar por aqui.”

 

Fernando Couto

 

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7.5.12

 

Os últimos dados apontam para 15,3% da população ativa portuguesa em situação de desemprego. São obviamente dados concretos e que fazem os títulos de qualquer matutino ou telejornal. Simpatizo também com a preocupação demonstrada pelo Sr. Presidente da República em relação aos valores de desemprego jovem que contribuem para o valor global acima referido. Mas o que esta estatística não expressa, é a eterna esperança e a falta dela, assim como a revolta que se vê nos rostos de quem desespera numa fila à porta de um qualquer centro de emprego deste país. Após duas horas de espera lá se consegue aceder à máquina e tirar o ticket para aguardar mais outro tanto! Estive lá, passei por isso no início deste ano… ouvi estórias de gente em situação bem complicada. Foram anos de malparado, com fatura bem pesada! Mas desde esse dia, atualizei e enviei CV e, dos cerca de vinte, recebi resposta de duas empresas, agradecendo pelo contacto e que contribui para a sua base de dados. Não é surpreendente tendo em conta o cenário atual. Apesar de licenciatura e, do garante que isso significava em finais dos anos 90 e inícios deste século, Portugal mudou, e curso superior em vez de facilitador, parece tornar-se cada vez mais num entrave para se voltar à vida profissional.

No momento em que escrevo este texto não consigo ainda comungar da mesma desesperança que constatei no centro de emprego onde estou inscrito, talvez porque, após sensivelmente seis anos da mesma empresa, precisava de mudar e, como não tinha força para o fazer apesar de sentir que o devia, tive de ser empurrado. Não foi um choque mas acredito que para muitos o seja. Acatei essa decisão e não a questionei – tomei-a como uma oportunidade! Para passar mais tempo em casa e poder ver o miúdo crescer, respirar outros ares; essencialmente, colocar as ideias sobre a mesa e objetivar… Devo acrescentar que tenho direito a um fundo de desemprego que ronda o salário mínimo e que ainda me permite fazer o que fiz nestes últimos meses: um curso de formação de formadores, e planos para um outro – assim como encetar contactos para dar formação.

A palavra que falta aqui mencionar é controlo! Do meu tempo, do tempo disponível para quem me está mais próximo e tempo para fazer o que gosto e que ficou tudo em pausa quando aceitei um emprego em que não tinha horas e que constantemente constituiu uma invasão de privacidade, pois estava primeiro do qualquer outra coisa; todo o resto ficou meio perdido, a vida pessoal, o facto de não poder combinar nada com amigos, que se foram naturalmente distanciando… - ora estava em trabalho, ora de prevenção. Se foi divertido num dado momento, deixou de o ser no entretanto e já nos últimos meses do ano passado tinha-se transformado num fardo.

Tendo em conta o que escrevi, vejo o desemprego, melhor, o meu desemprego como uma oportunidade única de voltar a pôr a vida nos eixos e aculturar-me, através de cursos e contacto com pessoas diferentes do meio onde exerci atividade nestes últimos anos, assim como reativar laços e poder passar tempo com família e amigos. Pelo menos, tenho tempo para tal. Portanto só positividade neste tópico. Falamos daqui por ano?

 

Manuel Fernandes (articulista convidado)


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3.5.12

 

Kasl, Rodriguez, e Lasch (1998), numa revisão de estudos sobre as implicações do desemprego, tiram conclusões que parecem óbvias mas que muitas vezes esquecemos. Assim, o desemprego acompanha-se de um aumento de morbilidade por doença física, como úlceras, artrite, doenças do aparelho respiratório, cardiovascular, da visão, audição, dores de cabeça e dos dentes. Há um aumento dos riscos biológicos, proporcional ao tempo da situação de desemprego.

O desemprego tem também um impacto negativo sobre a saúde mental e no bem-estar do indivíduo. Os sintomas depressivos são os que se encontram mais frequentemente associados a esta situação social. As consequências na saúde mental do indivíduo parecem ser menores nas áreas rurais do que nas urbanas. Da mesma maneira, parece que quando estamos perante uma situação em que há privação primária (falta de alimentos, roupa) o impacto na saúde é mais grave do que quando estamos perante uma situação de privação secundária (férias, carro, …).

Há uma taxa de mortalidade associada ao desemprego, 20% a 30% superior à que se verifica para a população em geral, considerando as diferenças relacionadas com a idade e o estatuto socioeconómico.

 

Habitualmente esquecemo-nos que, nós que temos emprego, estamos numa situação privilegiada e eventualmente focamo-nos em pequenos “detalhes” que nos desmotivam.

 

Não nos referimos, é claro, a questões muito graves de por exemplo mobbing, que podemos numa explicação simples dizer que se trata de abuso/perseguição emocional no local de trabalho.

 

Terminemos de uma forma menos séria lembrando a origem da palavra trabalho - Tripalium. Vem do latim e era um instrumento que consistia em três paus fixados no chão em forma de pirâmide, no qual os agricultores batiam o trigo e as espigas de milho. Os romanos transformaram o tripalium num instrumento para torturar os escravos e os camponeses que não conseguiam pagar os impostos. Com o passar do tempo, a palavra passa a ser associada a realizar atividades com um certo grau de esforço. Curioso é que nessa época, o “trabalhador” era o carrasco que torturava os camponeses. Ao contrário, hoje em dia, os “torturados” somos nós, que nos matamos diariamente a trabalhar frente ao “todo-poderoso” que muitas vezes não tem a nossa nacionalidade e encontra-se a milhares de quilómetros de distância do nosso posto de trabalho. Enfim, inerências das TIC e da WWW.

 

Ana Teixeira

 

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30.4.12

 

Era uma vez a mesma lengalenga de sempre! “Isto está mau! É a crise!”. Expressões atrás de expressões, de um povo que nunca se endireita! E chegamos agora a níveis de desemprego escandalosos.

Para uns, o desemprego pode ser uma rampa de lançamento para o risco de sonhar com novas fronteiras, quebrando barreiras existentes até então e criando novas oportunidades. Para outros um submergir na nuvem do subsídio, que “do mal o menos” vai entrando, “por direito, claro está(!)”, mas que em vez de ser ponte, é subterfúgio. Outros há, e tantos, que não têm a mesma sorte, e só imagino o desespero das vozes internas perante as faturas que se atropelam na caixa do correio, as bocas sentadas à volta da mesa que de inocência clamam o comer, tantas vezes presos a doenças, e o silêncio de lágrimas escondidas, num “oh meu Deus que vai ser da nossa vida?”, que tantas vezes tumultuam a alma com pensamentos tenebrosos, viciantes e fraturantes do Ser.

O desemprego tem muitas caras, a pior será sempre a do desespero. Desespero, muitas vezes, partilhado no emprego. No “emprego” de quem trabalha, amarrado à obrigação e à falta de opção. Num emprego mal empregue, povoado de exigências absurdas, exploradoras, sufocantes. Empregados assediados, cansados, esgotados e desesperados com tanto stress, e sem alternativa à vista, que sucumbem, também por vezes, aos gritos do desespero.

Aflige-me que nesta coisa do empregado e do desempregado, a distribuição seja como a riqueza. Tanta competência por empregar, quando tantos postos estão empregues, e mal empregues, a muitos que não querem laborar e lá estão a usufruir da cadeira, que o pobre do competente pedincha de porta em porta. Empregados abandonados à frustração de fazer o que a vocação não lhes pede, deslocados para trabalhos da pseudo-salvação. Aflige-me que tantos se resignem a esta condição, e tantos outros dessem tudo por essa própria condição. Aflige-me a voz de um país com tanto emprego mal empregue e tanto bem feitor por empregar!

 

Cecília Pinto


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