Não poderiam ler o que de seguida se apresenta sem a preciosa colaboração de um caro amigo, a quem agradeço profundamente o tempo despendido na partilha do que é, no fundo, a sua vida presente e futuro imediato.
1. Há quanto tempo estás desempregado?
1 ano e 6 meses.
2. Qual é a tua área de formação profissional?
Design de Comunicação.
3. Quantos anos tens de experiência na tua área de formação?
9 anos.
4. Tens obtido resposta às candidaturas que apresentas?
Ao longo de todo este tempo respondi a dezenas de ofertas de emprego, (na prática a todas as ofertas de emprego que encontrei na minha área de formação e na minha área de residência, tendo também respondidos a algumas ofertas que me obrigariam a deslocalizar), tendo obtido muito poucas respostas. Na maior parte dos casos não obtive sequer resposta, numa dezena de ocasiões recebi um muito obrigado pela candidatura não tendo no entanto sido selecionado para entrevista e em três (isso mesmo, apenas três) situações fui selecionado para uma entrevista, não tendo no entanto sido colocado.
5. Tens procurado como solução para o desemprego um trabalho fora do âmbito da tua formação?
Inicialmente tal situação não me passou sequer pela cabeça, porque mantenho o desejo legítimo de continuar a trabalhar na minha área de formação. No entanto nestes últimos meses comecei a procurar trabalho noutras áreas que não a minha, o que não é fácil sobretudo para um licenciado que sempre trabalhou na sua área.
6. O que sentes relativamente aos apoios que são concedidos no desemprego?
No meu caso particular o apoio na prática é igual a zero. Ao longo do meu percurso profissional trabalhei em três empresas e também como freelancer. Na empresa onde trabalhei mais tempo (por sinal um gigante nacional líder de mercado em tudo o que produz), trabalhei como Designer como qualquer outro colaborador daquela empresa, mas... a RECIBOS VERDES! Conclusão: como desempregado nunca me foi concedido o subsídio de desemprego, tendo apenas adquirido o direito a receber o subsídio social de desemprego (cujo cálculo se baseia numa percentagem do salário mínimo nacional e não numa percentagem do meu vencimento).
7. Os teus sentimentos em relação à situação que vives têm-se alterado com o decorrer do tempo?
Imenso. Sem me querer alongar, quando acabei a faculdade nunca imaginei que nove anos depois a minha situação profissional fosse esta. Como profissional qualificado que sou, estar desempregado há mais de um ano é uma enorme frustração e uma mistura de desalento e revolta, sentimentos muito negativos para com o que o futuro me reserva.
8. Até que ponto achas que o reverter da situação está dependente de ti?
Falando da minha área em particular (que é a que conheço), neste momento são “sete cães a um osso”, querendo isto dizer que a procura é muito maior que a oferta. Sei que sou um bom profissional, mas por sermos tantos à procura do mesmo, sei que não é fácil primar pela diferença. Tenho consciência que neste momento a cada oferta de emprego a que respondo, respondem mais cem (se não forem mais). Admito que poderia ser mais empreendedor e por exemplo tentar criar a minha própria empresa, mas a verdade é que não poderia escolher pior momento para o fazer... O país encontra-se num estado lastimável e como facilmente se compreende, a haver cortes de investimento, os primeiros são direcionados precisamente para a minha área, a área da comunicação e imagem.
9. Já consideraste procurar emprego fora do país?
Já. No entanto para quem sempre acreditou que poderia trilhar o seu percurso profissional no seu país e para quem gosta do sítio onde nasceu e onde por sinal já comprou casa, tudo se complica...
10. De que forma ocupas o teu tempo livre e quais as diferenças nesta gestão, desde o momento em que ficaste desempregado?
Um ano e meio é mesmo muito tempo! O tempo livre é tanto que a verdade é que eu deixei de ver o tempo como antes o via. Os minutos que uma hora tem passaram a ter outro significado de tempo... É óbvio que todos os dias dedico uma parte desse tempo na procura ativa de emprego e de vez em quando lá faço um ou outro trabalho como freelancer. Todo o restante tempo dou-o pura e simplesmente como perdido...
11. De que forma o desemprego alterou a tua vivência familiar?
A única coisa de positivo que poderei dizer no que a isto diz respeito, é que apenas para o meu cão a minha situação profissional é algo de fantástico que lhe permite passar quase todos os momentos de um dia com o seu dono...
12. Achas que o desemprego alterou de alguma forma a tua personalidade?
Todos os dias...
13. A tua situação de desemprego, em conjunto com a situação global em Portugal, redefiniram a tua visão do país e das suas políticas internas?
Pura e simplesmente deixei de acreditar num país de que me orgulhava...
14. Que expetativas tens do futuro próximo?
Portugal, é o que os portugueses são... Todos somos culpados (ainda que uns bem mais do que outros)! A minha expetativa é a de que os portugueses com valor e com valores ganhem o futuro aos outros... E então tudo será melhor!
Rui Duarte e M.