28.11.11

 

Colocam-se cinco macacos em frente a um cacho de bananas. Quando um dos macacos arranca uma banana e a come, sobre os outros cai um balde de água fria. Segue-se outro macaco que, de igual modo, arranca uma banana e come-a. Os outros são molhados com água fria. O terceiro, o quarto e o quinto macacos também têm a sua banana enquanto os outros são molhados com água fria. É então que, quando mais uma vez um dos macacos tenta chegar às bananas, os outros batem-lhe e impedem-no.

Substitui-se um dos macacos por outro que não tenha sido sujeito aos banhos de água fria e logo ele se dirige para as bananas, mas os outros batem-lhe e impedem-no. Substitui-se um segundo macaco por um novo, sem a experiência do banho de água fria e logo tenta chegar às bananas, sendo também impedido de o fazer - os outros macacos batem-lhe; o primeiro que foi substituído, copiou os outros e também ajudou. Substitui-se um terceiro macaco e também acabou num fracasso a sua tentativa de comer uma banana, impedido pelos que tinham levado os banhos de água fria e pelo primeiro e segundo substituídos. A experiência continua até se substituírem os cinco macacos.

Conclui-se que todos eles, mesmo não tendo sido sujeitos aos banhos de água fria, batem nos macacos que tentam comer as bananas.

Se lhes pudéssemos perguntar porque batem no macaco que tenta comer a banana, a resposta provável seria: - Não sei, mas foi sempre assim.

Esta experiência científica servirá com certeza para explicar muita coisa, reflexos condicionados, conhecimento baseado na experiência e tantas outras, mas o que me parece mais revelador é a perigosidade de se aceitar uma organização sem a pôr em causa. Questionarmo-nos porque é assim e não de outra maneira, não significa o fim de uma organização, o resultado pode ser uma melhor estruturação e uma melhor funcionalidade. Assim, em nome de uma boa organização, perguntemos sem medo e tenhamos a coragem de fazer a diferença.

 

Cidália Carvalho

 

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24.11.11

 

1. Pensar sobre o assunto

O que querem dizer com (Des) Organização? Trato o tema como uma questão laboral? Não fazia mais sentido se o fizesse do ponto de vista pessoal? No fundo somos todos mais ou menos desorganizados… Com tudo aquilo que se passa hoje em dia nas nossas vidas, cada vez mais difícil tomar o pulso às coisas… Vá organiza-te… E se fosses para o campo da Psicologia? Caraças, mais um texto chato debitado para o mundo não! E se imprimisses um pouco de humor no mesmo? Pronto, lá estás tu a divagar outra vez. Desorganização vs. Organização? Estou perdido…

 

2. Procurar referências

Ok… pode ser que te ajude. Organização – s. f. 1. Ato ou efeito de organizar; 2. Organismo; 3. Estrutura; 4. Fundação, estabelecimento; 5. Composição. (in www.priberam.pt). Bem, tens aqui alguns ângulos que não tinhas pensado. Desorganização – s. f. s. f.

Falta de boa organização; confusão; desordem. (in www.priberam.pt). Aha! Podem não ser bem polos opostos. Lembra-te disto. Melhor! Sê organizado! Sublinha! E no Google? Bem, as sugestões para organização são: organização mundial de saúde, organização de eventos e organização curricular. Desorganização: desorganização mental, desorganização do pensamento, desorganização cerebral. LOL Então no Desorganização vs. Organização ganha esta última. Tudo o que é da primeira remete para a doença. Bem, parece que vamos ter mesmo de abordar isto da perspetiva da Psicologia…

 

3. Estrutura

a) Vai ao e-mail e faz download do modelo para escrever;

b) Define o título (ideia: (Des) Organização: Opostos ou só diferentes?);

c) Definição de cada uma;

d) Aborda primeiro a Organização (menos interessante sob o ponto de vista escolhido);

e) Aborda a Desorganização e faz aqui a ponte para a Psicopatologia (nada muito técnico…). Também podes ir para o lado da Psicologia Organizacional… Fala com o Ricardo Carneiro.

f) Remata o texto sublinhando o óbvio: a organização não é só ter tudo direitinho nas várias componentes da vida e a desorganização não é só e apenas o seu oposto. Não te esqueças de referir a componente subjetiva da coisa. Escreve um comentário humorístico sobre a tua própria (des) organização para haver alguma identificação com os leitores.

 

Nota: Não te esqueças que é até dia 10. Escrever na próxima 5ª, sem falta! Coloca lembrete no Mac.

 

Rui Duarte

 

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21.11.11

 

Na sociedade ocidental, onde o consumismo desenfreado e a distração imperam, a maioria das pessoas vive no caos. Procrastinamos o passar a ferro do monte de roupa que não pára de crescer, tropeçamos nos brinquedos dos nossos filhos espalhados por toda a casa, lutamos contra a secretária onde não conseguimos encontrar uma conta para pagar, andamos sempre cansados com os demasiados compromissos que temos na agenda e desesperamos com o dinheiro que é mais curto que o mês. Além de invariavelmente termos coisas a mais, tanto físicas como mentais, não as temos organizadas. O caos em que vivemos reflete-se negativamente em todos os aspectos da nossa vida. Sabemos disso e queremos ser mais organizados. Mas por onde começar?

 

1. Investigue

Os blogues são uma fonte de inspiração fantástica e gratuita, onde pode encontrar soluções específicas para variados problemas, como “como organizar a roupa” ou “como fazer um orçamento familiar”. No entanto, não leia demasiados blogues e não perca muito tempo na Internet! Foque-se nos problemas que quer solucionar, faça uma pesquisa, leia 2 ou 3 textos sobre o assunto, tire ideias, inspire-se, desligue o computador e lance mãos à obra!

 

2. Uma coisa de cada vez

Se quer arrumar e organizar as várias divisões da sua casa, dê pequenos passos. Na sala comece, por exemplo, pelo aparador. Só depois de o aparador estar devidamente organizado é que deve passar para o móvel seguinte. Fazer tudo ao mesmo tempo não lhe trará nada a não ser stress – e provavelmente, mais desorganização.

 

3. Estabeleça rotinas diárias e semanais

Faça listas de coisas que têm que ser feitas todos os dias, como jogar o lixo fora, tratar da roupa ou lavar a louça, ou semanalmente, como limpar as várias divisões da casa. Afixe a lista num local visível e cumpra-a como se a sua vida dependesse disso. Não se distraia com nada, não procrastine, e verá como numa semana a sua casa parecerá outra e sentir-se-á muito mais leve.

 

4. Agilize as suas manhãs

Uma das maiores fontes de stress, sobretudo para as mães, é as manhãs agitadas. Começar o dia com uma correria pode impactar negativamente o resto do seu dia de trabalho, o seu humor e a sua produtividade. Agilize as suas manhãs, preparando-as na noite anterior. Escolha a roupa para si e para os seus filhos, prepare a sua mala e verifique as mochilas dos miúdos, dê uma volta pela casa e arrume o que puder em 15 minutos, confira a sua agenda para o dia seguinte, ponha a mesa para o pequeno-almoço, e não se esqueça de tratar de si.

 

5. Livre-se da tralha

Ter tralha leva à desorganização. Quanto menos coisas tiver, menos terá para organizar. Livrar-se da tralha é o método mais rápido para ter uma casa mais organizada. Olhe friamente para o seu armário, para as suas coleções de livros e revistas, para os inúmeros colares e brincos, para toda aquela louça que enche os armários, e pense se realmente precisa de tudo o que tem. Pense se são essas coisas que o fazem feliz. Pense no tempo que ganhará se tiver menos coisas e assim, se perder menos tempo a limpá-las e a organizá-las.

 

Rita B. Domingues (articulista convidada)

 

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17.11.11

 

Quando eu era pequena fui a casa de uma amiguinha. As bonecas dela estavam em perfeita ordem e não podíamos tirar elas do lugar. A mãe orgulhosa mostrava a organização da filha, que sempre que podia ia a minha casa brincar com minhas bonecas, sempre bagunçadas.

Sou organizada, mas dentro de uns limites. Gosto dos meus perfumes organizados, mas não separo eles por família (floral, frutal, cítrico, oriental). Tento manter em ordem minha casa.

Mas não consigo o mesmo com minha mente, que vive em uma desorganização total. Uma hora quero uma coisa, depois mudo de ideia. Penso que odeio uma coisa e depois esqueço disso. Tudo desorganizado, muitas vezes sem sentido.

Queria poder organizar minha mente como organizo minha casa e algumas vezes minha vida. Queria que minha mente fosse uma bagunça casual, sem parecer aquela bagunça de anos.

E as vezes surge alguém e me bagunça mais ainda os pensamentos. Faço o que jurei não fazer de novo. Mas há tempos ninguém bagunça um pouco minha mente.

Não sei se gostaria de viver isso de novo. Sim, talvez, não. Bagunçado tudo continua.

Na minha bagunça mental me perco e poucas vezes me acho. Lembranças se misturam, sem datas exatas. O passado ruim parece presente, parece que foi ontem, o passado bom parece distante, como se nunca tivesse acontecido.

Mas disfarço bem a bagunça na minha mente e no meu coração. Coloco minha casa em ordem, tudo organizado, então as pessoas pensam que tudo na minha vida está bem.

Alguém uma vez disse que o quarto representa nossa mente. Organizado, estamos bem, desorganizado, estamos mal. Meu quarto é organizado, mas meus pensamentos não.

Mas me sentir desorganizada me dá a sensação de trabalho pela frente. Vou organizar todos meus sentimentos e pensamentos. Mas eu me conheço, vou fazer isso apenas para desorganizar tudo de novo. E novamente começar.

 

Iara De Dupont (articulista convidada)

 

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14.11.11

 

A morte. Sempre a morte.

Estava ali. Havia algum tempo que estava ali. Naquele lugar onde uns se escondem e outros receiam entrar. Estava ali, na dor. Estava ali há algum tempo, nem muito, nem pouco, que o tempo nunca tem essa qualidade. Estava só ali. Imóvel. Uma mão presa à vida, que por muito que negasse estava mesmo ao lado, em todo o lado. Outra mão presa à morte, que não aceitava, teimando por isso em não largar. E a sua alma... A sua alma vagueava algures entre aquelas duas paragens, nunca se dando a nenhum dos lados com algo mais do que um tímido acenar por detrás de uma cortina translúcida, mas fechada. E aquela casa afinal era deles. Tinham lá estado, ainda estavam, voltariam a estar, uma qualquer destas ideias era tudo o que lhe bastava para continuar. Imóvel.

E a memória do jardim, do jardineiro. Havia feito um pacto com ele. Sem palavras. Se o jardineiro não soubesse já quem roubava as rosas do jardim, ficou a saber no dia em que inesperadamente dele se aproximou, oferecendo os seus préstimos para ajudar a cuidar daqueles seres plantados. E assim foi roubando rosas ao jardim, sempre que o amor lho segredava ao ouvido.

Sinais da vida. Sempre sinais da vida. Desta vez era o jardineiro que lhe tocava à porta. Não quis atender, preferiu manter-se no crucifixo. Só de lá subiu para a rua passadas umas horas, em anonimato.

Nessa altura ao sair de casa, reparou que já não estavam no mesmo sítio os pés de roseira, há uns dias partidos, pela forte tempestade que por lá passara. A terra de onde nasciam estava agora arada, mexida, virgem de novo. O que restava do velho roseiral pronto para seguir a sua viagem. Parou os seus olhos ali algum tempo. Sempre o tempo, sempre algum tempo. Mas de súbito, sem comandar ou entender, fizeram seus olhos uma quadratura, do chão onde há muito estavam, para a frente onde agora pousavam. Pousavam em camélias, cinquenta, cem, talvez mais de duzentos botões de camélia. Teriam estado sempre ali? Seguramente que não, ou talvez não se recorde, ou talvez apenas se recorde dos pés de roseira. Poemas à espera da escuta que os leve à escrita. Escutou fundo e voltou para casa, em jeito de quem não enjeita rematar o poema das camélias. Juntou as roupas que ficaram, uma manta que algumas vezes os destapara aos dois, uma foto escondida algures no mofo de uma gaveta e uma escova de uns dentes, que tinham sido lindos, mas já não podia saber se eram. Juntou ainda as cartas. As que tinha recebido e guardado, as que escreveu e nunca tinha enviado. Fez um embrulho com tudo, o que ocupava pouco mais do que uma saca plástica, do tamanho de uma prisão. Colocou tudo na carruagem de primeira classe, ao lado daquela onde viajavam as rosas. A morte. Sempre e só a nossa morte.

De volta a casa, sentiu pela primeira vez as gotas de água que a tempestade deixara aos botões de camélia. Encostou-lhes os lábios, há muito cansados de estarem secos.

De volta. De volta à Vida.

 

Vladimiro Fernandes (articulista convidado)

 

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10.11.11

 

Aqueles 20 metros que distanciavam o 5º andar onde vivia e o chão que pisava todos os dias para levar as crianças à escola, separavam a minha ansiedade entre a vida e a morte. Começava a evitar ir à varanda, pois sempre que isso acontecia, pensamentos, que na verdade não desejava, assolavam-me e permitiam-me questionar se não seria mais fácil acabar com tudo ali mesmo. Parecia tão fácil, tão acessível, tão rápido! Aqueles 20 metros definiam a diferença entre estar vivo e não estar, entre sofrer e não sofrer, entre sentir e deixar de o fazer. As crises de ansiedade começavam a ser mais regulares, a falta de ar, a frustração de não conseguir atingir a paz de alma que desejava. A crise, as dificuldades económicas, pareciam motivos insuficientes para que tais pensamentos navegassem em mim, mas o cansaço fala muitas vezes mais forte e retira-nos o discernimento que se quer coerente em situações mais difíceis. Deixei de ir à varanda. E se o fazia, não me aproximava do muro que me permitia abeirar dos metros que me separavam do chão, e quando o fazia olhava para o sol, ou as estrelas, e permitia-me admirar a beleza que me rodeava. Quis viver. Escolhi viver. E atravessar esses 20 metros, de elevador ou usando as escadas, e continuar a levar os meus filhos todos os dias á escola… permiti-me continuar a vê-los crescer e ter a certeza de que aqueles sorrisos, o brilho do sol, ou a luz das estrelas me bastavam para ser feliz.

 

Sónia Pessoa

 

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7.11.11

 

“De volta à vida”.

Não me ocorre dizer muito a propósito. Não tenho experiências pessoais suficientemente interessantes para contar. Nunca voltei, porque nunca fui. Tenho-me mantido por aqui.

Podia falar do caso do meu pai, que depois de um enfarte do miocárdio, teve de ser ressuscitado com choques elétricos. Não sei quanto tempo esteve “ausente”, ou “morto”, já agora. Ele próprio nada tem para contar. Não se recorda de ter visto nenhuma luz branca, nem de ter tido nenhuma outra experiência transcendente com que nos pudesse surpreender. Não se lembra de nada.

E voltou exatamente o mesmo. Logo que pôde levantar-se da cama, tentou convencer uma enfermeira a dar-lhe um cigarro, às escondidas do médico.

O seu renascimento para a vida, nada trouxe de novo. Não lhe abriu o espírito e ele não se questionou sobre o sentido ou o valor da vida. Pensou apenas que se tinha “safado”, a custo, e que dali para a frente, tinha de ser mais cuidadoso.

Mas ele era ele, antes e depois, e como seria de esperar, não foi cuidadoso o suficiente e passados alguns anos, teve que ser submetido a uma cirurgia coronária, com triplo bypass. Dessa vez, pensou ter esgotado as oportunidades que a vida lhe oferecera e tentou, com relativa convicção, mudar de vida, achando que tinha renascido mais uma vez.

“De volta à vida”, terá pensado ele e nós.

 

O tempo passou, a vida foi de novo sendo tomada como algo garantido e seguro e ele voltou a ser quem sempre foi, vivendo o seu dia-a-dia, sorvendo o momento em cada passa de cigarro.

De vez em quando, se lhe perguntarem, talvez fale sobre a sua passagem pelo hospital de Coimbra, sobre o médico que o operou e concluirá mais uma vez, que a sorte lhe sorriu, sem saber de facto porquê. Logo a seguir, o mais provável, é que se lembre de alguma história mais exótica vivida na Índia, onde fez a tropa e rapidamente se esqueça de ter sido operado de peito aberto, onde lhe pararam o coração e o mantiveram a uma temperatura não aceitável para gente viva, durante horas.

 

Das duas vezes em que a sua vida foi interrompida, ele acabou por retomá-la da forma mais natural que sabia e todas as suas ações foram no sentido de uma continuidade relativa.

Renascer… dá afinal trabalho e exige demasiado.

 

Não há grandes ilações a tirar sobre este caso, mas ocorre-me dizer que podemos “morrer” várias vezes durante a nossa existência e voltar todas as vezes, com renovada energia, como se fôssemos viver algo novo e tudo passasse a ser diferente dali para frente, mas na verdade nós somos o que somos e vamos manter-nos assim, atravessando todas as interrupções da vida.

 

Teresa Moura (articulista convidada)

 

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3.11.11

 

Passou muito tempo a cuidá-la. Desde aquele dia em que olhou a mãe nos olhos e a soube doente. Todo o seu ser envolveu-se em angústia. Mas não a sua face, de ser tão forte que era. Abraçou-a. Toda a sua infância atravessou-se-lhe aos olhos. Fora tão feliz. E era-o. Graças tanto àquela mãe. Aquela querida mãe.

 

Quando soube, tinha acabado de tirar fotografias ao céu azul. Estava um pouco zangada com os problemas da vida quotidiana. Quando senti a sua voz, o azul tornou-se vivo. Serena tem essa capacidade. Incrível! Parecia como sempre, serena. Reclamei com a vida. Percebi que algo estava diferente. Foi quando a Serena me contou. O céu tornou-se escuro de repente.

 

Serena, era também mãe. Tinha um pequeno ser nos seus braços, e chorava por dentro ao pensar o que seria deixá-lo. Agradeceu à mãe, naquele momento, todo o seu amor e dedicação. Afinal, não era só uma mãe. Era uma confidente, uma amiga, o seu apoio.

Serena, como mulher determinada que era, decidiu que iria apoiar a mãe a ultrapassar aquela dor intensa, aquele medo, que a doença trazia. Por mais que doesse. E cuidou. Todos os dias. Permaneceu entre a esperança e a tristeza. Permaneceu em todas as pequenas coisas da vida. A mãe de Serena era também uma guerreira nata, e por isso, ajudou também Serena nesta caminhada. Porém, Serena, a pouco e pouco, deixou o seu vibrante riso. Sorria apenas. E eu tinha tantas saudades da Serena.

 

Observei-a do longe, que a distância física permite. Via a apagar-se. Via refugiar-se no lar. Com a mãe. Com o filho. Com a família. Compreendi-a, sem nunca conseguir imaginar o que sentia Serena. Porque ao tentar imaginar, a angústia tornava-se insuportável, dolorosa. Serena chorou sempre num refúgio. Todo o seu ser passou a centrar-se na mãe. Felizmente, o pequeno rebento, graças à sua inocência tão abençoada, lançava rasgos nas bocas de todos. Risos. Aquela pequena bênção permitia vida, num ser que definhava aos poucos.

 

Um dia tornou-se óbvio. Estava para breve a despedida. Às vezes tornava-se tão surreal. Para a Serena tornara-se um modo de vida.

O dia chegou. A mãe pediu com os seus olhos a presença de Serena e seus familiares. Todos a olharam com dor, gratidão, amor, carinho, medo, saudade. A mãe apenas sorriu, e partiu. Partiu como um anjo, e como anjo da guarda ficou, daquela querida família.

 

Vi Serena. Estava ausente. Tinha vontade de chorar, mas não podia. Ela mantinha-se inteira, embora quebrada. Foi tão difícil! Conseguem imaginar?! Eu não! Parte da minha Serena morrera com a mãe. Demorou a voltar a soltar uma gargalhada. Teve de se reorganizar. Pelo seu filho também. Queria ser a mãe que tivera. A ausência era demasiado dolorosa. Mas Serena tinha de voltar à vida. Mas, como?

A Vida mostrou-lhe outra face. Nunca mais será a mesma. Já possui o seu riso, as gargalhadas, mas Serena, continua a sofrer muito. Será sempre a Serena, mas há uma parte de Serena que partiu.

Ainda hoje, Serena, procura voltar à vida, a cada dia.

 

(Para a minha querida amiga “Serena”, num dia tão especial, o dia da sua existência – 19 de outubro)

 

Cecília Pinto

 

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31.10.11

 

Há pausas que são deliciosas. Comparo-as à primeira dentada numa pasta de chocolate, quando o meu cérebro começa a assimilar todo o prazer gustativo que esta iguaria está a proporcionar-lhe. Estes primeiros segundos de descoberta do sabor são para mim, inigualáveis. Todo o meu ser fica envolvido neste deleitoso sabor. As dentadas seguintes, por muito apreciadas que sejam, já não superam o impacto que o primeiro contacto ofereceu; o cérebro habitua-se aos poucos ao sabor e cai na rotina dos automatismos. Em contrapartida, os primeiros segundos são uma tomada de consciência do aqui e do agora; neste momento dou toda a minha atenção às minhas papilas gustativas em euforia. Neste instante, não quero saber do telefone a tocar, dos assuntos pendentes, dos problemas para resolver ou das contas para pagar. Neste momento de pausa, só quero estar concentrada em mim, na minha respiração, no meu corpo vivo, nesta bolha de bem-estar que se desenhou à minha volta e que se vai manter enquanto os meus olhos ficarem fechados. Sei que lá fora, do outro lado das minhas pálpebras, o turbilhão continua; mas neste momento, deixo as pressas do lado de lá e fico do lado de cá, a saborear a minha primeira dentada. Inspiro e expiro muito lentamente, observo-me do lado de dentro. Apercebo-me do espaço que existe dentro de mim, não como um vazio, mas sim com um sentimento de amplitude, de abertura de mim mesma. Sinto-me plena e quase pronta a abrir os olhos. Gozo dos últimos segundos desta minha viagem interior, deste surto de vida que surge de dentro de mim. Daqui a instantes vou regressar ao mundo exterior, retemperada. Centrada em mim, desperto novamente e então abro os olhos.

 

Estefânia Sousa

 

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