29.3.11

 

O Mil Razões… realiza no sábado, 9 de Abril de 2011, no Auditório Horácio Marçal, no Porto, Portugal, as 1as Jornadas sobre A IDADE MAIOR. O Programa já está disponível e as Inscrições já estão abertas.

 

Mil Razões…

 

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28.3.11

 

- Tu és meu amigo? Diz lá! És ou não és meu amigo?

- Sou, claro que sou. Sabes bem que sim.

- E há quanto tempo somos amigos?

- Há muito, acho eu. Há tanto tempo que não sei contar.

- E o que é para ti ser amigo?

- É estar contigo. É brincar contigo. É fazer-te festinhas quando estás triste e quando choras. É conversar contigo… E para ti? O que é ser amigo?

- É como tu disseste.

Ficaram os dois em silêncio durante uns minutos, de cabeças encostadas uma à outra, a olharem os sapatos.

 

- Quando eu for para a escola, tu também irás?

- Acho que sim.

- A tua mãe, já te comprou a mochila e os cadernos?

- Já.

- Queres ir para a escola?

- Não sei…

- Eu também não sei se quero. Nunca estive lá. O meu pai diz que me vai fazer bem, que tem lá muitos meninos para eu brincar, mas eu nunca os vi, não os conheço. Acho que prefiro brincar contigo.

As cabeças continuavam coladas uma na outra. Os olhares agora fixavam-se nos joelhos. A escola seria mesmo uma coisa boa, como o pai dizia?

 

- Tenho fome. Apetecia-me comer um hambúrguer.

- Eu também comia um. Ou dois. Ou três.

- Se comeres muitos depois ficas gordo. Se ficares gordo, não sei se gosto de ti.

- Se eu ficar gordo, tu também ficas. Ficamos ambos gordos.

- Mas eu não quero ser gordo! E também não quero que sejas gordo. Depois não podemos fazer corridas. Se eu for gordo nunca mais te ganho nas corridas.

- Se comermos só um hambúrguer, não ficamos gordos.

- Então está bem, comemos só um, cada um.

Abraçaram-se. Suspiraram. Será que a mãe faria um hambúrguer?

 

A porta abriu-se. A luz entrou. A voz da mãe, também entrou.

- Pedro, que fazes aqui fechado, às escuras, a falar sozinho? Estás bem?

- Estou, mãe.

- Anda filho, sai daí e vem comigo.

Sentia-se bem ali, mas rendeu-se à ordem da mãe.

- Mãe, dás-me um hambúrguer?

- O menino Pedro está com fominha. Saia-se um hambúrguer!

Sorriram um para o outro. E o Pedro foi a pensar se a mãe do Nino também lhe faria hambúrgueres. A mãe é que podia fazer hambúrgueres para os dois, mas ela não conhece o Nino.

 

Fernando Couto

 

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24.3.11

 

Aristóteles, 384-322 a.C., filósofo grego, citado por Diógenes Laércio em Lives of Eminent Philosophers (1925), refere que dois amigos são uma mesma alma que vive em dois corpos.

É fantástica a frase de Aristóteles e diz quase tudo. Mas será mesmo que amigo é só aquele que conhece e reconhece como sua a alma do outro? E este processo necessitará de tempo para acontecer? Quanto tempo? Ouvimos falar e concordamos com o valor da amizade, o podermos contar com o outro para desabafar, para partilhar alegrias e tristezas, termos como garantido o nosso porto de abrigo, termos aquele que nos conforta mas também nos elogia e crítica e aponta alguns defeitos, enfim, o nosso amigo. E, parece que, para construirmos essa amizade é necessário tempo, disponibilidade e investimento, diria a maioria.

 

Parece haver vários tipos de amigos. O amigo de infância, o amigo de longa data, o grupo de amigos das saídas e das festas, o amigo biológico, aquele em quem confiamos para partilharmos os pensamentos, aventuras e desventuras. São muitos e muito variados e servem propósitos muito diferentes. Arriscaria a comentar que a amizade pode também assumir várias formas.

Assim, perdoe-me o amigo leitor, já que neste momento apetece-me lembrar outro tipo de amigo. Aquele que só vemos uma vez. O de circunstância. O temporário. O efémero. Será que haverá legitimidade para chamarmos amigo àquele que, numa estação de comboios de uma qualquer cidade, nos estende a mão num momento de aflição e nos cede toda a atenção e tempo, mesmo que sejam dez minutos, e sem nos conhecer de lado algum nos presenteia com o seu ouvido atento, confiança e com um abraço e com um aperto suave de mão?

E se cedermos alguma disponibilidade, juntamente com uns dois euros e alguma companhia em silêncio a uma senhora que, com ar desgastado e envergonhado, pede esmola junto à confeitaria onde habitualmente, entramos? E se partilhamos um pequeno-almoço? Será que esse instante, esses doze minutos serão lembrados e relembrados e contados como preciosos pelos dois amigos?

Será que, num fim de tarde, quando se deixa para trás um compromisso e nos dedicamos a uma velhinha que se apresenta sentada no cercado de pedra da igreja, de cabeça entre as mãos e entre os braços e que chora compulsivamente, só e desolada, podemos chamar de gesto de amizade?

 

Perguntei à Inês, que tem 9 anos, o que é um amigo e, prontamente, respondeu, alguém em quem confiamos. Nada mais. Eu acrescento, mesmo que isso esteja circunscrito a minutos, nesses momentos há, com certeza, confiança.

Gosto de sentir a amizade também desta forma. Momentos, instantes, ocasiões únicas, com o amigo de longa data, ou não, com aquele que cresceu connosco e partilhou muitos segredos e que conhece a nossa família e esteve presente em festas e celebrações que marcam pontos de viragem, e conhece as nossas alegrias e inseguranças, ou com o colega de trabalho que num instante nos acarinha quando as emoções estão ao rubro e, suavemente afaga o nosso braço num gesto de compreensão e carinho, ou com aquele senhor do quiosque, de longos bigodes e óculos mal posicionados no nariz que reparou no nosso estado de angústia e nos cedeu um pouco do que é seu.

 

Eu gosto de me lembrar destes. Os “amigos” que deixam um sentimento de que ficou algo por dizer e agradecer e muito por partilhar e que nunca mais vimos e que têm um lugar cativo, um espaço importante na nossa memória e que desejamos um dia, quem sabe, talvez reencontrar uma vez mais.

Eu gosto, particularmente de recordar, com nostalgia, também os amigos que passaram a correr, quase sem parar, pela minha vida.

 

Ana Teixeira

 

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21.3.11

 

Forço uma reflexão sobre o tema mas é-me particularmente difícil transcrever para o papel algo de interesse que as pessoas não saibam já, ou não tenham já sentido. E, esta dificuldade é ainda maior por se tratar de um sentimento de enorme simplicidade. De uma simplicidade que chega a ser decepcionante. A amizade é universalmente democrática. Somos capazes de a sentir e de a demonstrar independentemente da raça, credo, género ou idade.

 

Há alguns anos presenciei uma das mais belas manifestações de amizade entre crianças de tenra idade. No jardim do Marquês, no Porto, existia uma pequena construção onde funcionava uma espécie de biblioteca pública. A construção consistia apenas numa sala com prateleiras de livros e algumas mesas para leitura. A parede virada para o jardim era, toda ela, em vidro. Foi lá que ri até às lágrimas ao ler e reler os livros do Astérix e Obélix, do Tin-Tin e da Mafalda do Quino. À entrada da sala, uma senhora pedia a nossa identificação e dava-nos os livros que requisitávamos. Certa tarde chegou um grupo de meninos, mas nem todos puderam entrar, um dos meninos não tinha idade para andar na escola e não sabia ler; a senhora barrou-lhe a entrada. Muito triste, o menino foi sentar-se encostado à parede de vidro da biblioteca, à espera dos companheiros. Estes, pediram um livro e foram sentar-se numa das mesas junto à parede de vidro. Com o livro encostado ao vidro, o menino do lado de fora conseguia ver as imagens. A adivinhar pelas gargalhadas de todos, só podiam ter os mesmos gostos que eu.

 

Haverá quem saiba explicar com frases bonitas o que ali aconteceu, para mim, esta partilha simples é, simplesmente, amizade.

 

Cidália Carvalho

 

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17.3.11

 

Não me lembro bem como conheci a maior parte dos meus amigos. A sensação que tenho é que fizeram parte da minha vida desde sempre, como se tivessem partilhado cada momento, cada história minha. Espalhados pelos diferentes cantos do mundo, recheiam a minha existência a todos os momentos, quer esteja com eles todos os dias, quer os veja uma vez por ano.

Mas a amizade é muito mais do que o carinho e a preocupação que sentimos pelas pessoas que nos são próximas e com as quais nos identificamos. Um dos meus grandes amigos é um pouco diferente. Nunca me disse que me adora nem que eu sou especial para ele... nunca me disse que somos amigos. Ainda assim, tenho a certeza que ele tem uma paixão doida por mim. Este amigo vibra com tudo o que eu faço, repara constantemente em mim, adora estar do meu lado. Quando estamos juntos, não tira os olhos de mim como se estivesse hipnotizado. Quando estou triste, desabafo com ele e ele olha-me com ternura. Quando estou chateada, ajuda-me a acalmar. Quando estou doente, não sai da minha beira. Quando canto, desafina comigo. Quando me afasto muito tempo, fica triste com a minha falta. Não usa as palavras, mas todos os dias insiste em mostrar-me o quanto sou importante para ele.

Foi por acaso que o encontrei, estava num caixote, pousado em cima de umas plantas, junto à estrada, muito perto de minha casa. Nunca tinha tido gatos antes nem a minha mãe gostava da ideia, mas bastou um olhar para que eu me derretesse e decidisse enfrentar as possíveis adversidades para ficar com ele. Isto aconteceu há quase 12 anos atrás.

 

Nunca pensei ser capaz de nutrir tanto amor por um animal nem nunca pensei que fosse possível sentir tanto amor por parte dele. Está sempre à porta quando chego a casa, está sempre comigo na cozinha quando faço o pequeno-almoço, o almoço, o jantar, todos os dias. Até quando visito a casa de banho me faz companhia, sempre atrás de um mimo, de um carinho, de uma troca de amor. Todos os dias me faz derreter novamente, como no primeiro dia, com as suas brincadeiras e palhaçadas, as suas manias e costumes. Todos os dias, com as suas particularidades, torna a minha vida mais fácil, mais recheada e feliz. Um dos meus grandes amigos.

 

Ana Gomes

 

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14.3.11

 

Pensei em escrever-te uma carta em jeito de agradecimento. Conheço-te bem; dirás “não é preciso agradecer coisa nenhuma”. Pois, não será. Ainda assim, é mais do que justo que o faça. És a amiga que há mais tempo tenho na minha vida. Conhecemo-nos há dezanove anos. Partilhámos a infância, a escola, os primeiros inocentes amores, parte da adolescência. Brincámos juntas, eu, tu e os nossos irmãos que, tal como nós, têm a mesma idade. Fomos crescendo, sem percebermos que não eram os sapatos de tacão alto da minha mãe que nos engrandeciam, apenas a força imparável do tempo. O mesmo que parecia arrastar-se, trocista, quando éramos crianças e que, agora, corre veloz e impiedoso. Parecíamos ligadas por um fio invisível que nos conduzia sempre ao encontro uma da outra, o porto seguro, o afecto que nem precisava de palavras. Tal como sempre foi, não partilhamos a mesma perspectiva sobre almas, afectos e atitudes. No entanto, sei que isso não diminui a força do sentimento que nos une. Os nossos caminhos separaram-se na cadência do dia seguinte e dos diferentes sonhos que perseguíamos.

 

Esbarrámos uma na outra alguns anos depois. No reencontro, a partilha dos anos de ausência: a dor, a angústia das memórias ainda frescas. Foram anos difíceis os que não vivemos juntas… Foste tão importante para mim. Até te reencontrar, achei que não voltaria a confiar numa mulher. Pensei que, amiga, era uma palavra que doravante me traria apenas tristeza e insegurança. Medo. Estava tão magoada…E apareces tu no meu caminho para me relembrares que há quem conserve valores inabaláveis na amizade. Para me mostrares que é possível confiar plenamente numa amiga, apesar das desilusões que possam chegar, aqui e ali, ao longo da vida. E és tão grande que abriste caminho a outras pessoas fantásticas que hoje deixo que me toquem o coração.

É possível viver sem medo da própria sombra. Agora eu sei, graças a ti.

 

Alexandra Vaz

 

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10.3.11

 

Confesso que tenho muita dificuldade em escrever sobre este tema. Devo ter escrito e apagado o início deste texto, na minha cabeça, seguramente mais de 10 vezes. Porquê? O que realmente queria era partilhar convosco quem são os meus amigos. Como se chamam, de onde são, o que fazem, e por aí fora. Depois pensei que tal não teria grande interesse e que soaria a uma tentativa de vos impingir os mesmos (o que, convenhamos, acontece frequentemente nas nossas vidas). Mudei então de rumo, verdadeiramente sem saber, contudo, qual seria. Talvez relatar histórias engraçadas que partilhei com eles? Enfim, quantos desses textos já existem? Este seria mais um. Encontramo-nos portanto aqui, juntos neste ponto de partida...

 

Afinal quem são os meus amigos? No facebook passam a centena mas reconheço, evidentemente, que a grande percentagem deles não cabe na classificação anterior. Terão sido os de infância que perdurarão para sempre na minha memória, naqueles que são considerados os anos mais doces? Sinceramente também acho que não. E os que foram os melhores amigos, anteriormente? Vocês sabem... aqueles com quem fizemos juras de eterna amizade e que depois desapareceram. Onde param esses?

Acho que terei de admitir que os meus amigos são os actuais, mesmo correndo o risco de um dia, eles próprios, se esfumarem em memórias solidificadas, em fotografias que perduraram mais que a própria memória. São estes amigos, os actuais, que me amparam quando estou prestes a cair, que me fazem rir, que se dão e aos quais me dou. Há muito que deixei de ter amigos de ocasião. Os amigos para a borga, os amigos do estudo, os amigos do emprego, os amigos do futebol. Com estes amigos, os actuais, posso partilhar de tudo. E sabem o que aprendi? Não me chega compartimentar uma amizade para algo específico. Os meus amigos são multitask. São amigos que me levam ao médico porque se preocupam e são esses mesmos amigos que me levam para os copos numa sexta à noite. Não serão melhores ou piores que os vossos. Estão presentes e estão ausentes. Dão quando podem e pedem quando precisam.

Tenho sorte em tê-los.

P.S. Sorte, sorte? Já vos tinha dito que a minha namorada é a minha melhor amiga? E também é multitask mas tal conversa ficará para outra ocasião...

 

Rui Duarte

 

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7.3.11

 

Dada a falta de inspiração para escrever sobre o tema (porque mais uma vez o tempo urge, não chega para nada, e os momentos para reflectir são cada vez menores!) resolvi fazer uma pesquisa no GOOGLE… primeiro utilizando a palavra amigo, depois amizade…. na esperança de  encontrar uma ideia verdadeiramente inspiradora! Fiquei espantada com a dificuldade que encontrei para definir amizade ! Na Wikipédia a definição de amizade ocupa quase uma página(!):  “ relação afectiva em princípio sem características romântico-sexuais entre duas pessoas… em sentido amplo é um relacionamento humano que envolve o conhecimento mútuo e a afeição, além da lealdade ao ponto do altruísmo…”  E continua por aí em diante, dando como exemplo a relação entre os Três Mosqueteiros, de Dumas e terminando com o ditado popular tão conhecido “o cão é o melhor amigo do Homem” - mas então a amizade não é uma relação entre Humanos, já que o cão também pode ser amigo (e muito) do Homem?!

 

Não satisfeita, continuei à procura até que entrei no universo das redes sociais – “fale com os seus amigos…. encontre os seus amigos… faça novos amigos” . Porque hoje em dia existe um novo conceito de amizade, a amizade virtual ! Até há quem tenha mais de 100 amigos nas redes sociais! Falamos com os amigos sem os ver, trocamos fotos, comentários, gostos comuns… somos amigos dos amigos! Até que ponto este tipo amizade é diferente? Será possível criarmos laços de amizade (com o tal respeito mútuo, lealdade, altruísmo e afectividade) com pessoas com as quais não convivemos pessoalmente?

Depois de muitas voltas na net, retenho e partilho a frase que me parece mais adequada para definir a verdadeira amizade: “ a aceitação do outro tal como ele é”.

 

Joana Gonçalves

 

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3.3.11

 

Amigo,

Hoje fiquei aborrecida contigo. Num telefonema em que os nossos pontos de vista (e humores!) colidiram, fizemos questão de dizer um ao outro aquilo que pensávamos no momento, finalizámos a conversa com um azedo “Hoje não estou para te aturar!” e desligamos…

Sei que percebeste que não era bem contigo que estava irritada e, do meu lado, entendi que também tinhas tido um dia difícil. Nas entrelinhas da nossa discussão já tínhamos feito as pazes.

 

A nossa amizade nasceu há vários anos no meio de uma discussão. Eu tinha feito algo de errado mas ninguém à minha volta tinha tido coragem de me confrontar com o meu erro. Lembro-me que na altura vieste ao meu encontro e me deste uma tremenda descompostura. Enquanto falavas e gesticulavas, eu ficava a pensar que, apesar de te conhecer há muito pouco tempo, eras o único amigo que ali tinha. Tu tinhas saído da tua zona de conforto para entrar em conflito comigo, expor aquilo que consideravas o correcto e chamar-me à razão. Mesmo não me conhecendo bem na altura, a forma como falavas comigo revelava preocupação da tua parte.

 

Desde então, o conflito inicial cedeu o lugar a muitos momentos de cumplicidade, lágrimas e risos partilhados, histórias e confidências. Momentos preciosos que nos abastecem a alma de força e energia, que nos dão alento para enfrentar o próximo obstáculo, ou que realçam o sabor das nossas vitórias. Por muito diferentes que sejam, os meus amigos têm a particularidade comum de merecer o meu orgulho e a minha admiração pelo seu modo peculiar de ser. Com todos estes momentos de partilha que a vida nos proporciona, os meus amigos enriquecem-me, fazem de mim uma pessoa melhor e contribuem em muito para a minha felicidade. É graças a eles que para mim a palavra amizade é tão doce.

No teu caso, meu querido amigo, tu confirmas a regra por excelência. Contigo é fácil comunicar, sabes escutar os meus silêncios, ler nas minhas entrelinhas, chegando ao cúmulo de as traduzir para mim.

 

Estou grata por ter um amigo como tu. Aprecio a tua boa disposição e o teu sentido de humor, a tua generosidade e a tua inteligência. A tua amizade é uma dádiva valiosa. Independentemente dos erros que possas cometer, porque tu também os cometes, e por muito que, citando-te, “te dê cabo da cabeça”, sabes que podes contar comigo, mesmo depois da mesma cabeça ter batido contra a parede. Gosto de ti não pelas tuas escolhas mas pela tua essência. Apesar desse teu feitio, da tua irritante teimosia e das tuas ironias que, por vezes, hoje é exemplo, me deixam exasperada, tenho por ti um enorme carinho e admiração.

Sei que este é um sentimento recíproco, gratuito e genuíno.

 

Estefânia Sousa

 

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28.2.11

 

Escolho os meus amigos […] pela pupila1. Os olhos dos meus amigos espelham aquilo que eu sou. Neles encontro a minha identidade, o meu valor, a minha utilidade e até o meu estado de espírito. Sou aquilo que os meus amigos reflectem. De que me serve ter uma identidade própria se não for para usá-la com os outros?

Não sei distinguir uma amizade autêntica das demais. Todas elas, desde as adolescentes (as mais intensas) às instrumentais (abundantes no meio profissional), mostram aquilo que sou. Mantenho-me estrategicamente ignorante nesse capítulo para que aquilo que sou hoje não seja fruto de escolhas pessoais, de selecções convenientes.

E, assim como até um cabelo projecta a sua sombra2, reservo para os meus inimigos um lugar de apreço, pois é muitas vezes na qualidade dos meus inimigos que vejo a diferença que faço, o impacto que tenho. É preciso ser-se muito miserável para não se ter inimigos3.

Pelos meus amigos não nutro afeição nem devoção: a afeição dirige-se a quem tem algo a menos que nós; a devoção a quem tem algo a mais4. Pelos meus amigos, que devem estar ao meu lado, em pé de igualdade, entre a afeição e a devoção, sinto uma forma muito particular de amor. Um amor que se distingue dos conceitos mais vulgarizados na literatura poética neoclássica, nos romances mais comoventes, nos manuais de bons costumes e mesmo nos compêndios de índole religiosa. Trata-se de um amor egoísta, de tal forma egoísta que me levo a crer que procuro neles um pouco de mim mesmo. Sim, deve ser isso. É meu amigo quem me faz bem, seja na diversão ou na utilidade. É meu amigo quem está comigo, por mim e para mim, no presente, quem me mostra ou devolve um pouco de mim mesmo. Amigo meu é feito por mim e eu sou feito por ele.

Não meço os meus amigos pela quantidade. Não me fico a conhecer melhor pela maior quantidade de pedaços de mim espalhados entre eles. Aliás, assim fico baralhado, porque a quantidade de amigos é directamente proporcional à dispersão de opiniões. Por outro lado, poucos amigos contribuem para a viciação do meu auto-conceito. O número justo é indefinível, é variável, é instável. Mas é, na prática, um número exacto.

A amizade é uma instituição frágil, susceptível de mudar ou de se extinguir. Está dependente do objectivo, da utilidade, do tempo e do lugar. É e será sempre, tal como a construção de mim mesmo, uma obra incompleta: vou sendo os amigos que vou tendo. Tenho amigos para saber quem eu sou1. E tu, quem és?

 

Joel Cunha

 

1In Loucos e Santos (Oscar Wilde)

2Etiam capillus unus habet umbram suam (Publílio Siro)

3Miserrima est fortuna, quæ inimico caret (Publílio Siro)

4Descartes in Apud Baldini (2000)

 

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