A Perturbação Bipolar, antes denominada Perturbação Maníaco-depressiva, insere-se no grupo mais amplo das Perturbações do Humor, onde se inclui também a Perturbação Depressiva.
Para a compreensão deste grupo e das perturbações que lhe estão associadas, é necessário ter em conta os diferentes episódios de alteração do humor – Episódio Depressivo, Episódio Maníaco, Episódio Misto e Episódio Hipomaníaco – que servem como princípios orientadores para o diagnóstico de uma Perturbação do Humor.
Muito sucintamente, a característica essencial de um Episódio Depressivo é um período (pelo menos 2 semanas) durante o qual existe ou humor depressivo ou perda de interesse em quase todas as actividades.
Um Episódio Maníaco é definido por um período distinto (pelo menos 1 semana) durante o qual existe um humor anormal e persistentemente elevado, expansivo (i.e., eufórico, excepcionalmente bom, alegre ou elevado) ou irritável, com frequente labilidade do humor.
Um Episódio Misto é caracterizado por alterações do humor (pelo menos 1 semana) de modo rápido (tristeza, irritabilidade, euforia) acompanhadas por sintomas de Episódio Maníaco e Episódio Depressivo.
Finalmente e tal como o Episódio Maníaco, o Episódio Hipomaníaco é definido por um período distinto (desta vez de pelo menos 4 dias) durante o qual existe um humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável. No entanto e em contraste com o Episódio Maníaco, o Episódio Hipomaníaco não é suficientemente intenso para provocar uma clara deficiência no funcionamento social ou ocupacional.
Para o diagnóstico de uma Perturbação Depressiva é necessária a ocorrência de um ou mais Episódios Depressivos, sem história de Episódios Maníacos, Mistos ou Hipomaníacos. Já no caso da Perturbação Bipolar, que se subdivide em Perturbação Bipolar I e Perturbação Bipolar II, para o diagnóstico da Perturbação Bipolar I é necessária a ocorrência de um ou mais Episódios Maníacos ou Episódios Mistos (frequentemente com história de um ou mais Episódios Depressivos), para o diagnóstico da Perturbação Bipolar II é necessária a ocorrência de um ou mais Episódios Depressivos acompanhados de pelo menos um Episódio Hipomaníaco (DSM-IV-TR).
Admite-se hoje, em geral, a existência de numerosas formas de transição entre estados depressivos e maníacos, para além das formas supra citadas. A Perturbação Bipolar é apenas mais uma das expressões que as Perturbações de Humor podem ter e distingue-se da Perturbação Depressiva pela inclusão de episódios, quer maníacos ou mistos (I), quer hipomaníacos (II). Esta síntese que não abarca, de todo, a complexidade que é a Perturbação Bipolar, pretende apenas dar a perceber a instabilidade, ao nível da alteração de humor, que é característica desta perturbação. Para estes doentes a fonte da instabilidade são as emoções, que lhes provocam oscilações (na forma de episódios) que podem variar entre a tristeza profunda e a alegria extrema. Este salto constante entre um pólo e o outro (daí a designação “bipolar”), resulta de cognições desajustadas, interpretações erróneas da realidade, que provocam pensamentos e sentimentos, quer excessivamente positivos, quer excessivamente negativos. Assim, o rebuliço interno típico dos episódios que caracterizam esta perturbação, causa transtorno significativo e provoca grande sofrimento (que depende da intensidade e frequência dos episódios) naqueles que padecem desta doença.
A maioria de nós usa uma balança interna para pesar os acontecimentos da nossa vida. Num prato colocamos os prós, no outro os contras, e fazemos um balanço que pode levar a continuar, ou mudar de estratégia(s). Imagine agora o que seria se, como resultado de um ou mais episódios de alteração do humor, só usasse um prato dessa balança de cada vez. Num dia pesa apenas o positivo e, como não colocou nada no outro prato, o positivo leva o prato ao fundo. No outro dia, pesa apenas o negativo. Consegue conceber esta cisão emocional?
Ana Gomes