24.6.10

 

O sono é essencial para a vida e é a base de muitas funções fisiológicas e psicológicas do organismo, como sejam a reparação dos tecidos, o crescimento, a consolidação da memória e a aprendizagem. Sempre ouvimos dizer que dormir o suficiente é fundamental para ter um bom desempenho e manter a saúde.

 

Mas, quanto precisamos, afinal, de dormir? Trata-se de uma pergunta não só de interesse social, mas também científico que tem sido objecto de várias pesquisas. O número de horas anunciadas pela maioria dos especialistas é de 8 horas. Mas, enquanto algumas pessoas dizem que não se sentem descansadas com menos de 9 ou 10 horas de sono, outras sentem-se muito bem dormindo menos de 6 horas por noite. Então, a necessidade individual de sono depende de hábitos, ou dos nossos genes? Uma pesquisa publicada na revista Sciences refere a existência de influência genética no número de horas que cada individuo precisa para se sentir descansado.

 

Sabemos que nem sempre se consegue um sono reparador e de qualidade. Causa ou consequência disso são as perturbações do sono. Entendendo-se como perturbação, o distúrbio que causa problemas ao indivíduo nas suas interacções com o ambiente. Estas perturbações podem ter várias etiologias, e, de acordo com isso, podem dividir-se em quatro grupos:

1. Perturbações primárias que não derivam de nenhuma causa externa, originando-se no próprio indivíduo;

2. Perturbações decorrentes de transtornos psiquiátricos como a ansiedade, depressão, psicoses, etc.;

3. Perturbações que decorrem de alterações físicas em geral, que prejudicam o sono, como falta de ar, dores, desconforto;

4. Perturbações do sono induzidas pelo uso de medicação ou outras substâncias.  

 

Falando de sono, não podemos deixar de referir o sonho, pela estreita relação existente entre ambos. E, tal como o sono, o sonho também pode ser bom e apaziguador, ou, pelo contrário, todos já experimentamos sonhos que nos causaram inquietação. Freud, um dos autores que mais estudou esta temática, dizia que os sonhos, na sua maioria, são como que guardiões do sono e protegem a pessoa que dorme das excitações demasiado vivas e das tensões insuportáveis da vida quotidiana, que a impediriam de descansar (será por isso, segundo o autor, que a maior parte dos sonhos não nos acorda nem deles nos lembramos ao despertar), além de exprimir uma realização de desejos.

Foram muitos os discípulos de Freud que como ele se ocuparam do estudo dos sonhos. Wilhelm Stekel, dizia que “sonhar significa viver o passado, esquecer o presente e pressentir o futuro”. Jung, ao analisar inúmeros sonhos dos seus pacientes concluía que o sonho possui forças naturais que auxiliam o ser humano no seu processo de individualização. 

 

E, como tão bem diz o poema de António Gedeão, “O sonho comanda a vida”, serão os nossos sonhos, e a luta pela sua realização que nos ajudam a caminhar, crescer, e…viver? Eu acredito que sim.

 

Ana Santos

 

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14.6.10

 

De olhos fechados continua a ouvir o tic-tac do relógio. Não quer abrir os olhos para ver as horas, mas, ao mesmo tempo, o coração começa a bater mais forte. ”Já passou mais uma hora e não consigo dormir… amanhã tenho de acordar cedo e já só tenho quatro horas para dormir”. Assim continuam os pensamentos a rolar numa cabeça demasiado ansiosa para relaxar. ”Que raiva! O que me está a acontecer?! Porque não consigo dormir?!. Há dias que não durmo, estou tão cansada!”. De repente rolam umas lágrimas de inquietude e sofrimento… Trinta minutos mais tarde, depois de uma mente esgotada, o organismo ressente-se e acaba por adormecer.

 

Triiiiiiiimmmmm!!!!

Abre os olhos arregalados, com o coração aos saltos! Assustada, ainda desorientada, pergunta-se onde está. Um minuto mais tarde começa a perceber que está na sua cama e que está a acordar de um sono de três horas. Mais um dia, menos uma noite tranquila. Fatigada, levanta-se. Sente-se inquieta. Prepara-se para o trabalho sem vontade nenhuma, mal se arranja, mal toma o pequeno-almoço. Sai para a rua. O coração continua apertado. ”O que se passa comigo? Porque estou assim tão ansiosa?”. Evita o contacto ocular com os de mais transeuntes. Entra no metro, que provação! Começa a sentir as mãos a suar, sente-se incomodada, só quer sair dali. Irrita-se. Tem o rosto marcado por um olhar de ódio.

Finalmente chega ao trabalho. Senta-se na sua secretária, esboça um sorriso amarelo aos colegas e começa a arranjar a secretária. “Esta papelada vem para aqui, estes documentos são para arquivar…”. Controla todos os pormenores da sua mesa, sabe que tem controlo sobre o trabalho, por momentos sente o coração sossegado, tranquiliza-se e perde-se neste mundo. Não ouve nada ao seu redor, perde todas as interacções entre os colegas e todas as que a ela se dirigem. De repente ouve a chefe chamar o seu nome. Estremece. De novo palpitações, toda ela em alerta.

- Ana, venha ao meu gabinete. Silenciosa, caminha como se percorresse o corredor da morte.

- Diga.

- Ana, acho que tem feito um bom trabalho até agora, mas estou preocupada consigo. Parece-me pálida, tem estado alheada, isolada. O que se passa?

- Nada, chefe. Está tudo bem.

Sente uma vontade de chorar. Por mais que quisesse explicar o que se passa, nem ela própria o sabe. Só sabe que está sempre preocupada, em alerta, não consegue dormir, e facilmente se irrita, pelo que prefere estar sozinha.

 

De novo em casa, dói-lhe o peito, sente uns apertos no coração. Começa a sentir medo de ficar assim para sempre, medo de ter um ataque cardíaco, de perder o controlo da sua vida, de não conseguir atingir o que sempre quis, de não ter carreira, de ficar só no mundo, de nada lhe restar… Estes anseios manifestam-se na sua mente a uma velocidade estonteante. No entanto as horas passam e apesar de esgotada, os olhos teimam em não cerrar. Esbugalhados, fixam mais uma madrugada. Desespera mais uma vez, angustiada. Na sua cabeça surge uma necessidade: “Não aguento mais isto, não pode ser assim para sempre. Preciso de respirar, de dormir, de viver.” Entre lágrimas desabafa: “Preciso de ajuda.”

 

Cecília Pinto

 

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3.6.10

 

Imagine uma situação: Vai a uma festa com uma amiga, vão muito bonitos, bem vestidos. Ao chegar à mansão saem do carro e dão a chave ao porteiro para arrumar o carro. Entra com a sua amiga no jardim, ao fundo avista o palácio, lindíssimo. Entra no salão onde toda a gente come, bebe, dança e se diverte. Não conhece uma única pessoa e a maioria fala russo. De repente a sua amiga vê uma amiga que já não vê há muito tempo e decide ir cumprimentá-la. Actuando com grande à-vontade, não vendo nenhum inconveniente, dizem: "Até já!".

Passada meia hora, deixa de a ver e vai à procura dela. Não a encontra. Pensa em sair dali, mas os seguranças dizem que não pode sair dali sozinho. Pensa em começar a relacionar-se com as pessoas, mas elas olham-no de alto a baixo e dizem que não estão interessadas em "falar consigo".

Peço-lhe que imagine como se sentiriam nesta situação.

 

O tempo vai passando e tem que sobreviver ali dentro. As pessoas continuam a divertir-se, a comer, a beber, a dançar e por mais que tente não conseguem sair do salão. Umas vezes tenta sair, até à exaustão, e depois relaxa e entra em depressão. Passaram seis anos e continua ali. Aparece um rapaz que pergunta: "– Onde é a casa de banho?".

 

Sei que acha esta história impossível, mas ela serve para mostrar o modo de funcionamento de alguém com psicose.

Para ele o mundo é um salão fechado, sente-se sempre preso neste mundo e vive a tentar libertar-se, sem saber bem de quê. Acha que toda a gente vive neste mundo a divertir-se, que a vida é uma festa em que todos se divertem, menos ele. Tem a "mania da perseguição" - vê as pessoas olharem-no de cima a baixo – delírio.

As tentativas de fuga até à exaustão e, logo a seguir, o entrar na depressão, referem-se à Perturbação Bipolar, com episódios maníacos e episódios depressivos, que podem levar à desistência – suicídio.

O amigo que aparece ali, o único que fala a mesma língua, é um cuidador, que pode ser um professor, um amigo, um psicólogo.

 

Sónia Moura Sequeira

 

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31.5.10

 

A Perturbação Bipolar, antes denominada Perturbação Maníaco-depressiva, insere-se no grupo mais amplo das Perturbações do Humor, onde se inclui também a Perturbação Depressiva.

Para a compreensão deste grupo e das perturbações que lhe estão associadas, é necessário ter em conta os diferentes episódios de alteração do humor – Episódio Depressivo, Episódio Maníaco, Episódio Misto e Episódio Hipomaníaco – que servem como princípios orientadores para o diagnóstico de uma Perturbação do Humor.

Muito sucintamente, a característica essencial de um Episódio Depressivo é um período (pelo menos 2 semanas) durante o qual existe ou humor depressivo ou perda de interesse em quase todas as actividades.

Um Episódio Maníaco é definido por um período distinto (pelo menos 1 semana) durante o qual existe um humor anormal e persistentemente elevado, expansivo (i.e., eufórico, excepcionalmente bom, alegre ou elevado) ou irritável, com frequente labilidade do humor.

Um Episódio Misto é caracterizado por alterações do humor (pelo menos 1 semana) de modo rápido (tristeza, irritabilidade, euforia) acompanhadas por sintomas de Episódio Maníaco e Episódio Depressivo.

Finalmente e tal como o Episódio Maníaco, o Episódio Hipomaníaco é definido por um período distinto (desta vez de pelo menos 4 dias) durante o qual existe um humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável. No entanto e em contraste com o Episódio Maníaco, o Episódio Hipomaníaco não é suficientemente intenso para provocar uma clara deficiência no funcionamento social ou ocupacional.

Para o diagnóstico de uma Perturbação Depressiva é necessária a ocorrência de um ou mais Episódios Depressivos, sem história de Episódios Maníacos, Mistos ou Hipomaníacos. Já no caso da Perturbação Bipolar, que se subdivide em Perturbação Bipolar I e Perturbação Bipolar II, para o diagnóstico da Perturbação Bipolar I é necessária a ocorrência de um ou mais Episódios Maníacos ou Episódios Mistos (frequentemente com história de um ou mais Episódios Depressivos), para o diagnóstico da Perturbação Bipolar II é necessária a ocorrência de um ou mais Episódios Depressivos acompanhados de pelo menos um Episódio Hipomaníaco (DSM-IV-TR).

 

Admite-se hoje, em geral, a existência de numerosas formas de transição entre estados depressivos e maníacos, para além das formas supra citadas. A Perturbação Bipolar é apenas mais uma das expressões que as Perturbações de Humor podem ter e distingue-se da Perturbação Depressiva pela inclusão de episódios, quer maníacos ou mistos (I), quer hipomaníacos (II). Esta síntese que não abarca, de todo, a complexidade que é a Perturbação Bipolar, pretende apenas dar a perceber a instabilidade, ao nível da alteração de humor, que é característica desta perturbação. Para estes doentes a fonte da instabilidade são as emoções, que lhes provocam oscilações (na forma de episódios) que podem variar entre a tristeza profunda e a alegria extrema. Este salto constante entre um pólo e o outro (daí a designação “bipolar”), resulta de cognições desajustadas, interpretações erróneas da realidade, que provocam pensamentos e sentimentos, quer excessivamente positivos, quer excessivamente negativos. Assim, o rebuliço interno típico dos episódios que caracterizam esta perturbação, causa transtorno significativo e provoca grande sofrimento (que depende da intensidade e frequência dos episódios) naqueles que padecem desta doença.

 

A maioria de nós usa uma balança interna para pesar os acontecimentos da nossa vida. Num prato colocamos os prós, no outro os contras, e fazemos um balanço que pode levar a continuar, ou mudar de estratégia(s). Imagine agora o que seria se, como resultado de um ou mais episódios de alteração do humor, só usasse um prato dessa balança de cada vez. Num dia pesa apenas o positivo e, como não colocou nada no outro prato, o positivo leva o prato ao fundo. No outro dia, pesa apenas o negativo. Consegue conceber esta cisão emocional?

 

Ana Gomes

 

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