25.3.10

 


 


Hoje em dia assumimos como natural o facto de vivermos em sociedade e parece-nos contra-natura o facto de alguém querer viver isolado, como um eremita, apressando-nos a apelidar tal pessoa de doente mental ou fortemente desequilibrado. No entanto, provavelmente nunca parámos muito para reflectir no porquê de vivermos em sociedade? O que é que nos impeliu, desde cedo, a procurar a companhia dos outros? Terá sido simplesmente para termos alguém com quem jogarmos às cartas, ou haverá outras razões mais básicas de acordo com a pirâmide de Maslow?



 


Desde cedo compreendemos que a vida em sociedade traz benefícios, quer pela questão da defesa contra outros grupos e predadores, quer pela facilidade na procura de comida, quer posteriormente pelos benefícios que advieram de uma agricultura mais intensiva, própria do sedentarismo a que os fomos votando, quer pelo apoio dos elementos mais fortes da tribo/família aos elementos mais frágeis.
Com a complexificação das sociedades, fomos desenvolvendo novas respostas para lidar com os novos desafios. Se durante muitos séculos cabia à família a partilha dos conhecimentos e a obrigação de cuidar das crianças, dos enfermos e dos mais idosos (quem é que não tem uma tia mais idosa que ficou solteira para poder cuidar dos irmãos mais novos, ou dos pais?), cada vez mais fomos passando essas obrigações para o Estado (através do desenvolvimento, principalmente nos países de cariz social-democrata europeus, do Estado Providência).


Ora o Estado Providência foi desenvolvendo mecanismos de protecção aos seus elementos mais frágeis e desprotegidos, nomeadamente através da criação da Segurança Social e dos seus subsistemas de protecção social.


Enquanto sociedade fomos percebendo que todos os cidadãos teriam direito à satisfação das mais básicas necessidades (algumas das quais estão previstas na Constituição da República Portuguesa).


No entanto os tempos de hoje são bem diferentes daqueles que se viviam no pós 25 de Abril de 1974, e cada vez mais observamos como a nossa sociedade vai virando as costas aos seus elementos mais desprotegidos, seja pela celeridade com que colocamos os nossos idosos em lares e aí os esquecemos, seja pela pressão cada vez maior de cortar nas prestações sociais aos grupos economicamente mais desfavorecidos, apelidando de preguiçosos e de oportunistas quem recebe estas prestações do Estado.


Muitas serão as razões por detrás destas tomadas de posição (oportunismo politico, crise financeira e concomitante egocentrismo social, desconhecimento da realidade e tomada de posições baseadas em preconceitos e ideias erradas), no entanto este caminho, se por um lado granjeia votos, leva-nos numa direcção francamente perigosa de desagregação social, enviando a mensagem que quem não pode contribuir em determinado momento está a mais, levando-nos no caminho da lei da selva em que cada um olha por si e o nosso “vizinho” de hoje será o nosso “adversário” de amanhã na luta por aquilo que acreditamos ser nosso por direito divino.


 


Acredito que é nos momentos de maior provação que temos a oportunidade de mostrar a nossa grandeza moral, sentido de justiça e altruísmo. Aquilo que fizermos hoje irá ter profundo impacto nas vidas de quem nos seguir e compete-nos a nós reflectir sobre qual o caminho a percorrer daqui para a frente, sem desculpas nem subterfúgios. 


 



Alexandre Teixeira


 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 23:05  Comentar

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