Abro os olhos... está escuro... nada consigo ver para além de uma escuridão imensa...
Todos os meus outros sentidos crescem... De repente, os sons são o elo mais forte com o que se passa à minha volta... Tento sentir os cheiros, deduzir os olhares, sentir as respirações, saborear os sorrisos...
O caminhar, outrora tão mecanicamente fácil, torna-se novamente numa aprendizagem difícil... Tento dar alguns passos: tenho medo! Medo de esbarrar em algum obstáculo, medo de tropeçar, medo de cair, medo de me colocar em risco sem ninguém para me proteger...
A vida perde qualquer sentido porque cresci com as cores e as formas, com os olhares e os sorrisos, com todo um rol de sinais que aprendemos a decifrar e a valorizar...
Sinto muita falta de ver um céu estrelado, um sol a nascer, o infinito do mar, a neve no topo das montanhas, um sorriso sincero, a transparência de uma lágrima... Não damos tanto valor a estas pequenas coisas até ao momento em que perdemos o privilégio de poder vê-las!
Pergunto-me mil vezes: Porquê a mim? Porque me aconteceu ter que viver na escuridão?
Sinto-me tão sozinha... apesar de todos os sons, tenho que aprender a confiar apenas nas palavras, esquecendo o que é uma expressão facial/corporal, esquecendo o que sempre tive como base para o relacionamento interpessoal. Olhando o lado positivo, tenho que reaprender outras formas de me relacionar, de me dar, de viver... Mas isto é tão incapacitante! Sinto-me completamente dependente dos outros! É tão difícil entregarmo-nos aos outros... é tão difícil sabermo-nos vulneráveis...
Ana Lua
Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 07:42  Comentar