30.7.09


 

Acreditemos na suposta verdade de que amor e ódio, sendo sentimentos opostos, se aproximam.

Senão vejamos:

A complexidade de ambos torna-os difíceis de entender, de definir, …

Sentem-se, tão simplesmente!

Intensos, poderosos, são capazes de enaltecer, de derrubar, de ferir, humilhar, de fazer sofrer profundamente. Atrever-me-ia mesmo a dizer que são capazes de destruir.

De forma diferente? Sim! Não! Talvez!

E permanece … a certeza?... de que são opostos, mas, muitas vezes, associados.

 

Existem sempre probabilidades de se odiar, quando se amou, sem receptividade, ou quando algo ou alguém foi oposição; amar depois de odiar? Sim! Porque, inconscientemente, esse ódio nasceu da sensação de abandono, da ânsia e da espera por um amor que tardou …

Aceito que assim seja.

 

Pode relacionar-se amor e ódio? Sim! E, mais facilmente, pode-se desassociá-los, vendo o amor como um sentimento nobre, sublime; um sentimento que enaltece, que venera; um sentimento que é luz, que “investe” na tolerância, na concessão, na justiça; um sentimento intenso, de força inabalável.

O ódio, como um sentimento perigoso, destruidor, ávido de vingança… um verdadeiro impedimento à vida feliz!

O amor desconhece a razão!

O ódio é a razão perdida!

 

Nem sempre é possível amar, reconhecendo os defeitos da pessoa amada, nem odiar, reconhecendo as qualidades da pessoa odiada!

 

Ana Santos

(Imagens: O Amor, de Kahlil Giran; O Ódio, de José Luis Fuentetaja)

 
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28.7.09

 


 

Momentos antes sentia-me tranquila, apreciando a agradável brisa do final de mais um dia.

Momentos antes apreciava, em abstracto, a vida que corre nas rugas de um rosto.

Momentos antes estava em total harmonia com o espaço envolvente.

 

Senti a adrenalina a apoderar-se do meu corpo, em passos quentes e fortes, no meu rosto senti a intensidade de um vermelho como se fosse uma queimadura de 3º grau, a minha voz tornou-se rouca e áspera, a saliva transbordava-me da boca, a visão turva e selectiva.

O meu corpo foi possuído por uma energia mandatária que me obrigava e exigia uma atitude, uma manifestação mais concreta. Completamente perceptível a localização do meu coração, conseguia ouvir as pulsações, cada vez mais aceleradas e pujantes.

 

Transcendi-me e vi o meu corpo a evadir-se, com uma coragem e uma força nunca antes vividas. Demonstrei toda a minha emoção e sentimento com palavras acesas e violentas, agredindo ferozmente a dignidade, a educação, o civismo e a conduta daqueles que considerei culpados por me levarem ao limiar das emoções e, por consequência, à sua manifestação.

 

Com a força que os meus pulmões permitem, berrei, mas a minha voz atraiçoou-me; fiquei afónica. Sem qualquer percepção ou consciência da minha real força física, extravasei a minha manifestação para actos físicos, estava cega, surda e muda… Não percebi o momento em que o meu sistema racional se desligou por completo.

De punhos fechados e dentes cerrados, desenfreadamente tentei atingir aqueles que, insistiam em colocar-me bem longe dos meus comportamentos habituais.

Senti um líquido na boca com sabor a ferro; não sei o que continha mas trouxe-me energias adicionais e nada me fez parar. Estaria louca? Não! Senti um profundo e asqueroso sentimento, uma raiva demolidora, uma fúria incontrolável, impossível de esconder, dissimular e, muito menos, controlar.

 

Momentos depois senti-me completamente exposta e frágil.

Momentos depois, consciente dos meus actos, arrependi-me.

Momentos depois entendi o perigo da proximidade da raiva e da fúria.

 

Neste momento reflicto como constantemente estamos expostos a todo o tipo de agressões, injustiças, descriminações, falsos testemunhos, faltas de educação e traições.

Neste momento pondero sobre a forma como somos obrigados a conviver com a hipocrisia, sentimentos mascarados, atitudes vergonhosas, com o egoísmo e a indiferença dos outros.

Neste momento vejo como temos de relacionar-nos com a maldade, como a guardamos, escondemos, disfarçamos e o desgaste que isso nos provoca.

 

Susana Cabral

 
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23.7.09

 



 

Tendemos a interiorizar a ideia de que o ser humano é intrinsecamente bom, depositário à nascença de todas as virtudes e originalmente isento de defeitos. Sentimentos menos nobres decorreriam apenas de assimilações culturais, ou seriam socialmente adquiridos.

Essa idealização revela-se incompleta quando confrontada com a realidade, dificulta a compreensão e elevação dos comportamentos humanos e desresponsabiliza-nos perante os nossos actos.

 

A observação das outras espécies revela-nos comportamentos que consideramos nobres, acompanhados de outros que classificamos como indignos. Manifestações, entre outras, de avidez, de cobiça e de inveja, surgem lado a lado com gestos altruístas ou de abnegação. Uma observação mais atenta, permite-nos concluir que todos os comportamentos, altruístas ou egoístas, dos seres que rodeiam os humanos, se submetem a uma “lógica” egoísta de sobrevivência e perpetuação da espécie, suscitando-nos, por extrapolação, a formulação de questões angustiantes sobre o nosso próprio devir.

Tornar-nos-íamos então pessimistas absolutos e conformados, se não reparássemos que nos distinguimos das outras espécies pela capacidade que adquirimos de, criando abstracções, prever as consequências dos nossos actos, escolher um entre vários caminhos possíveis e contrariar os nossos genes.

 

Só lutando para que os sentimentos mais nobres prevaleçam e se afirmem por escolha própria, e não por efeito de qualquer determinismo, os poderemos considerar como verdadeiramente nobres. Só assim nos poderemos assumir como seres integralmente livres e superiores. E só assim seremos capazes de compreender e apoiar aqueles que, decorrente de qualquer incapacidade, estejam impedidos de influenciar o seu futuro.

 

José Quelhas Lima

 
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21.7.09

 


  

O sol está a esconder-se, o dia está a acabar. Não gosto desta parte do dia, da parte que começa agora. Significa que tenho que ir para casa, assistir mais uma vez a todo um filme que já sei de cor.

Faço parte do elenco, é verdade, mas só até um dia. Até o dia em que eu seja maior que ele, em que a minha raiva, o meu nojo me tornem um gigante. E nesse dia tudo vai acabar.

Eu sei que não tenho que lá estar quando ele chegar, mas também sei que se não estiver, elas vão sofrer por mim. Que vai ser contra elas que ele se vai virar mais uma vez. Que amanhã, para saírem de casa, vão ter que abusar dos cremes e pinturas para tentar disfarçar.

O corpo fica a doer, muito, muito pior que todos os trambolhões que já dei. Mas muito pior do que isso é a dor de cá de dentro, aquela dor que se sente, perto do coração, como se fosse real.

Às vezes imagino como seriamos se ele não existisse. Ou se ele não fosse dependente (palavras delas para explicar…).

Felizes, acho que seriamos felizes. Ir para casa era uma coisa boa, e não um pesadelo.

Não consigo sentir carinho por ele, nem pena, nem nada. Não sinto nada…

Não, estou a mentir… sinto com todas as forças do meu ser uma enorme raiva, um nojo, uma dor a que não sei dar um nome. A tal dor que sinto perto do coração…

Li um dia que de todas as más experiências se tira algo de bom. Não sei o que de bom há nisto, neste viver cheio de medo, de ódio… só sei que nunca irei ser como ele. Que nunca irei fazer aos meus nada que os magoe.

Sei que quando crescer elas vão ter orgulho em mim, porque vou conseguir ser aquilo que ele nunca foi.

 

Filipa Pouzada

(Imagem: Self-Portrait, de Francis Bacon, 1971)

 
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16.7.09

 


 


“A admiração é uma súbita surpresa da alma, que a leva a considerar com atenção os objectos que lhe parecem raros e extraordinários. Assim, é causada primeiramente pela impressão que se tem no cérebro, que representa o objecto como raro e, por conseguinte, digno de ser muito considerado; em seguida, pelo movimento dos espíritos, que são dispostos por essa impressão a tender com grande força ao lugar do cérebro onde ela se encontra, a fim de fortalecê-la e conservá-la aí (…).”

 

Embora a admiração não produza efeitos em outros órgãos além do cérebro, isso não a impede de ter muita força.

 

No que consiste a força da admiração.

O que não a impede de ter muita força por causa da surpresa, isto é, da súbita e inopinada ocorrência da impressão que modifica o movimento dos espíritos, surpresa que é própria e articular a esta paixão; de sorte que, quando se encontra em outras, como costuma encontrar-se em quase todas e aumentá-las, é porque a admiração está unida a elas. E a sua força depende de duas coisas, a saber, da novidade e do facto de o movimento que a causa possuir, desde o começo, toda a sua força (…).”

 

A surpresa é assim um elemento psicológico essencial na admiração, mas esse elemento pode levar a excessos, como no caso do espanto:

 

O que é o espanto.

(…) e o espanto é um excesso de admiração que só pode ser mau.”

 

Para que serve particularmente a admiração.

E pode-se dizer particularmente da admiração que ela é útil porque nos leva a aprender e a reter em nossa memória coisas que dantes ignorávamos; pois só admiramos o que nos parece raro e extraordinário. (…)”

 

No que ela pode prejudicar e como se pode suprir sua falta e corrigir seu excesso.

Mas acontece muito mais admirarmos em demasia e nos espantarmos ao perceber coisas que merecem pouca ou nenhuma consideração, do que admirarmos demasiado pouco. E isso pode subtrair inteiramente ou perverter o uso da razão.”

 

Zita Sousa

 
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13.7.09


 


“O medo é um sentimento que proporciona um estado de alerta demonstrado pelo receio de fazer alguma coisa, geralmente por se sentir ameaçado, tanto fisicamente como psicologicamente. Obtido a partir do contacto com algum estímulo físico ou mental, dispara uma resposta fisiológica no organismo, preparando o indivíduo para lutar ou fugir. Pode provocar atenção exagerada a tudo que ocorre ao redor, depressão, pânico, etc.” (retirado de http://pt.wikipedia.org/wiki/Medo).

 

O medo aprisiona, o medo sufoca, o medo paralisa… Viver com medo é não viver de todo… É sentir-se aprisionada e impotente perante a própria vida… É mostrar-nos o quão pequenino nós somos… É fazer-nos desistir de todos os nossos sonhos e objectivos por falta de força e esperança no futuro… No fundo, o medo vai retirando a vida aos poucos… dia a dia, enfraquecendo a chama da vida, embaciando o brilho no olhar, extraindo qualquer segurança em si próprio.

 

Mas… porquê ter medo? Porque surge o medo exacerbado da vida? Todos os pequenos indícios de que o medo possa surgir criam apreensão, inquietação, e daí ao medo, são segundos… como se o medo se alimentasse do próprio medo!!!

 

São vários os factores que levam aos medos ditos “irracionais”. Tendo a ver com factores psicológicos – falta de serotonina? – com factores educacionais e sociais… Crescemos numa redoma e claro, o mundo está cheio de perigos! Se não crescemos numa redoma, então são acontecimentos traumáticos que nos trazem por acréscimo esta “prenda” que é o medo…

 

Mas o melhor de tudo e que vos quero passar: é que é possível viver-se com o medo… não é fácil… é uma luta constante pela vida… mas é possível!

 

Ana Lua

 
Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 23:23  Ver comentários (6) Comentar

12.7.09

Um dia o filho perguntou ao pai:


- Papá, vens comigo correr a maratona?"

O pai responde que sim e ambos correram juntos a primeira maratona.

 

Um outro dia, voltou a perguntar ao pai se queria voltar a correr a maratona com ele, ao que o pai respondeu novamente que sim.

Correram novamente os dois.

 

Certo dia, o filho perguntou ao pai:

-Papá, queres correr comigo o ironman (o ironman é mais difícil... exige nadar 4 km, andar de bicicleta 180 km e correr 42 km)?

E o pai disse que sim.

 

Isto é tudo muito simples. Até que se vejam estas imagens...

 







 

Isabel Ferreira

 
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7.7.09


 


Os afectos nascem de experiências de relacionamento com pessoas, na sua maioria, mas também com animais, lugares ou mesmo com algo menos corpóreo, idealizado. Estes relacionamentos trabalhados no sentido de os reforçar criam elos de ligação, aproximam-nos e deixamos que se aproximem de nós. Deixamo-nos afectar.

 

As emoções são reacções a factos ou acontecimentos, presentes ou futuros. São estados que nos alteram por curtíssimos períodos de tempo. Não nos mantemos permanentemente num estado de espanto ou medo, de alegria ou ódio.

As emoções lêem-se nas alterações fisiológicas. Os músculos faciais, a expressão do olhar, os movimentos corporais, traduzem emoções de fácil leitura para todos nós. Percebemos o desprezo, o espanto, o medo, a alegria, o tédio, com tanta facilidade que rapidamente nos condicionamos. Influenciam e determinam formas de relacionamentos que, desejavelmente serão bons relacionamentos, mas poderão ter na origem emoções negativas tais como: o ódio, a inveja, o despeito, entre outros.

 

Os sentimentos não são consequências imediatas de experiências vividas ou de reacções a acontecimentos, eles estão em nós, andam connosco, deitam-se e levantam-se connosco. Estão e são o nosso íntimo, caracterizam-nos.

 

Por defesa, julgamentos, vergonha, ou outras razões que, por pouco que se percebam, condicionam o comportamento do ser humano. Trava-se o ímpeto de viver experiências, relacionamentos ou sentimentos, ficando a essência humana escondida e a salvo, numa capa de aparente indiferença.

Os homens não choravam em público porque o senso comum ditava que, homem que é homem não chora. Assumimos os nossos sentimentos mas ressalvamos que não somos lamechas, como se ficássemos diminuídos por declararmos os sentimentos.

 

Contava-nos há dias a escritora Alice Vieira que a neta lhe explicou que, LOL significa rir. Rir mesmo, dá muito trabalho, então inventou-se uma onomatopeia e um smile que simbolize o riso.

O choro também tem representação, o deleite e todas as outras emoções também têm a sua expressão simbolizada.

Não precisamos portanto, de ter trabalho a vivê-las, basta que alguma coisa as represente.

Presumo que o rir muito sejam muitos lol, qualquer coisa como: lolololololololololololol, e que a gargalhada seja: LOLOLOLOLOLOLOLOL.

 

Mas porque à nossa natureza não devemos fugir e devemos dar-lhe a importância que ela tem - e é muita, os inventores inventaram mais: estenderam os sinais representativos de emoções às máquinas.

Nas últimas décadas os EUA têm trabalhado na robótica para conseguir dotar os robots de expressões, que se assemelhem a expressões humanas. Recentemente o Japão anunciou ao mundo a criação do Kobian, robot que consegue simular sete estados de alma.

O deleite, a tristeza, a surpresa e o desgosto, são quatro dessas emoções que finge ter e o projecto do Kobian continua a desenvolver-se com o objectivo de ser integrado no campo da enfermagem, para interagir com os pacientes.

Se, por um lado, o ser humano parece caminhar para um mundo inexpressivo, “coisificado”, o mesmo ser humano desenvolve a tecnologia, tentando dotar máquinas de características que são, legados naturais do Homem.

Espero que esta caminhada se interrompa antes que uns, os primitivos sentimentais esbracejem a tentar sobreviver no meio dos outros, os desprovidos de sentimentos com que Aldous Huxley nos surpreendeu no “Admirável Mundo Novo”.

 

Cidália Carvalho

 
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