29.6.09

 


 



De uma forma obstinada o Homem quer ir e chegar mais longe, muito mais longe na concretização dos seus sonhos, na obtenção dos seus desejos e na possibilidade de ultrapassar os seus limites.

Diariamente superam-se metas apenas para que no dia seguinte sejam mais e melhores! Semanalmente alcançam-se objectivos com o único sentido de, na semana seguinte, serem maiores e superiores! Anualmente a realização das vontades é atingida para que, no ano seguinte, devam ser mais, maiores, melhores e superiores!

 

O ser Humano é insatisfeito por natureza e tal como o instinto da sobrevivência obriga a atitudes constantes, a insatisfação empurra, obriga e força qualquer um a subir sempre mais um patamar e mais um degrau.

Mais! Melhor! Seja como for, com quem e onde for, quer-se sempre mais e melhor!

A insatisfação torna-se numa adversária, impossibilitando o usufruir dos prazeres da vitória e esta serve apenas de alavanca para a próxima vontade, no sentido ascendente, até onde a força anímica permitir chegar. Não interessa o que já se obteve ou o que já se tem, pois perde a importância no momento em que passou a fazer parte do rol de vitórias obtidas e conseguidas, fazendo parte do passado e do dia de ontem.

Hoje existem coisas que se querem conquistar, já com o sabor de um inevitável atraso porque, o que quer que se pretenda, já se deveria ter conseguido ontem, e hoje já se deveria possuir o que se vai querer amanhã.

Não chega, nunca chega! Fica-se obcecado e só se pensa como, de que maneira se poderá conseguir os meios e as formas de poder chegar mais alto e mais longe…

De uma forma impaciente e precipitada é-se impulsionado, estimulado para conseguir, desejar, querer, pretender mais e melhor; mais pequeno, maior, diferente… Não chega um, daquilo que se deseja; mais porque um é pouco, mais porque dois não satisfazem, mais porque três ainda parecem insuficientes…

E diariamente corre-se atrás de conseguir mais e melhor, sem parar um minuto, um segundo que seja, para dar lugar à interrogação sobre se os tais mais e melhores são precisos, se realmente fazem falta, ou que benefícios adicionais realmente poderão trazer.

 

A insatisfação torna-se num vício, numa dependência e numa razão de viver! Mais e melhor é a droga diária que vai aliviar as impiedosas necessidades da insatisfação e é-se consumido pelos desejos de a conseguir, sem ter consciência que o mais e o melhor não existe, nunca existirá quando aquilo que já se tem é sempre insuficiente e não proporciona nem produz a satisfação, o prazer ou o contentamento.

 

Susana Cabral

 
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25.6.09

 - Mãe, mãe! O que é amar?


- Amar!? Porque queres saber isso?

- Ouço em todo o lado, "amo-te, ama o próximo"; quero saber ao certo o que isso quer dizer. Dizes-me?

- Bem, essa pergunta não é fácil, mas tentarei responder. Amar, amor é o que eu sinto por ti, o que sentes por mim e pelo papá, pelos avós, pelos teus amigos, pelo cão, pelas flores, até o que sentes pelos bichinhos com que gostas de brincar... É dar e receber, é uma entrega... É sentires o teu coração totalmente preenchido. Ajudei-te?

- Hum... mais ao menos.

- Já sei! Senta aí. Vou pôr um pequenino filme, pequenino tal como tu, e esse filme vai ajudar-te a entender. Ok?

- Ok!

 








 


- Então?


- Amo-te a ti mamã, ao cão, às flores e também amo aquele menino, mamã, o que perdeu o cabelo; viste como ele sorriu quando a mana lhe deu o cabelo dela?...

- Sim meu amor, isso é amar...

 

Isabel Ferreira

 
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22.6.09


 



Tento conversar contigo... Dizer-te o que eu sinto, como eu me sinto... Que língua falo eu que tu não consegues entender? Sinto que as minhas palavras se perdem no espaço entre nós dois e não chegam a ti com o sentimento que têm…

 

Para mim, a comunicação entre o casal é fundamental e base para a cumplicidade necessária à vida em comum, à partilha dos sentimentos, pensamento, sonhos e pesadelos. Sem o entendimento/conhecimento do par, criam-se fossos emocionais onde as pontes começam a ficar escassas, até desaparecerem e o desentendimento e a falta de compreensão minam a relação, muitas vezes ditando o fim desta.

 

Desde quando deixámos de comunicar com o olhar, com um sorriso?

Desde quando começámos a deixar-nos para depois, até não mais importar o que queríamos partilhar?

 

Digo-te que as coisas não estão a correr bem. Reconheço que me tenhas ouvido, pois franziste a testa, mas não me escutaste pois continuas no mesmo caminho e a minha frase apenas chegou a ti como uma pedra da qual facilmente te desviaste... Não compreendeste: NÃO SOU MAIS FELIZ AO TEU LADO!!!

Como quem encontra um tronco grosso de uma árvore que impede a passagem, paraste e apenas disseste: “Mas porquê? Está tudo tão bem! Lá estás tu a ver só o lado mau da vida! Nós somos felizes!”

 

Pois... E como sempre, a vida vai continuando como queres... Não sei mais o que dizer para que compreendas o que me vai na alma... Penso que agora as palavras já não chegarão... Tenho que recorrer à acção...

Eu tentei que me ouvisses... Que me compreendesses... O que posso mais eu dizer para que me ouças?

 

Ana Lua

 
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19.6.09


 



Ao chegar à redacção disseram-me que aquela senhora esperava por mim.

Tinha aproximadamente 60 anos, muito bem arranjada, mas o que me chamou a atenção foi o ar triste com que me olhava.

Perguntou se tinha sido eu o autor da peça sobre o rapaz que se tinha suicidado. Respondi que sim, com um orgulho contido, imaginando que deveria ser uma parente, que me vinha agradecer o modo como eu tinha (re)tratado a vida do jovem.

Entregou-me um diário e ao mesmo tempo que as lágrimas lhe escorriam pela cara, disse “por favor leia o resultado da sua peça…”

Abri o pequeno livro e na última página podia ler-se o seguinte:

 

Peguei no jornal, como faço todos os dias. E lá estava, em grande destaque, o suicídio daquele jovem, que já ontem tinha visto na TV.

Contava a história, com todos os pormenores. Quando, como, onde e porquê que ele tinha feito aquilo. Tratavam-no com respeito. Falavam dele como se fosse a melhor pessoa do mundo, de quem nunca se suspeitou que fosse capaz de tomar uma atitude tão radical.

Confesso que as lágrimas me vieram aos olhos. Também gostava que, no dia que eu morrer, falassem assim de mim.

A ideia da morte já me persegue há muito tempo e ver que afinal de contas pode não ser um acto de covardia, mas sim um acto de coragem, fez-me suscitar de novo a vontade.

Sinto que não estou sozinho e que afinal não ficarei assim tão mal visto se acabar com a minha vida. É reconfortante ver que há pessoas que sentem o mesmo que eu e que depois de fazerem o que acham que devem, o que sentem que têm que fazer, são tratadas com respeito.

Na vida que levo ninguém me respeita, todos me catalogam, todos me viram a cara…

Se eu tinha qualquer tipo de dúvidas, posso dizer que foram dissipadas com este exemplo. E ainda fiquei a saber que há mortes que doem menos que outras. Isso era uma coisa que me assustava. Sinto que a notícia me deu uma força que eu achava que não tinha.

Está resolvido, até já escolhi a data e o local!

 


Percebi então o efeito perverso da minha peça. Como se escreve sobre um suicídio? Como suportar esta culpa? A quem pedir ajuda?


 

Filipa Pouzada

 

Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 00:17  Ver comentários (3) Comentar

16.6.09


 


A comunicação é a própria essência do ser humano. É através dela que os seres humanos trocam - ou não - as suas mensagens, afectando reciprocamente as suas vidas. O processo interpessoal da comunicação envolve formas verbais e não verbais de informação e ideias. Não se refere somente ao conteúdo mas também aos sentimentos e emoções que as pessoas podem transmitir numa mensagem.

A comunicação oral envolve diferentes formas de expressão: o tom de voz, a aceleração ou serenidade na colocação da voz, os seus diversos significados (linguagens verbais e não verbais) e são vários os aspectos que a constituem, sendo um deles, a mensagem que se pretende transmitir. Seja ela objectiva e explícita ou, pelo contrário, subjectiva e passível de ambiguidade.

 

Comunicar eficazmente pressupõe, sobretudo, saber falar e saber escutar. Por parte do emissor deve existir uma transmissão clara da mensagem, conhecimento do conteúdo a transmitir e domínio dos códigos utilizados (o idioma, por exemplo). No entanto, o emissor está em avaliação continua do receptor, devendo este ser o mais desprovido possível de elações e julgamentos de valor para que a mensagem transmitida tenha o mesmo significado de quando foi proferida e não seja adulterada, quer no seu contexto, quer no seu conteúdo. Saber escutar não significa aceitar tudo, nem ser passivo. A recepção, sendo activa, indica as mudanças de estratégia ao longo do processo. Da mesma forma que o emissor emite indicadores, os mesmos expressam a motivação do receptor e o seu interesse em que a comunicação se estabeleça com sucesso.

No processo comunicacional, a partir do momento em que a mensagem deixa de estar na posse do emissor, até que chega ao receptor, muitos são os factores que podem tornar-se barreiras à comunicação. O meio envolvente, as condições dos canais que funcionam como veículos da mensagem podem ser portadoras de ruído, dificultando ou impedindo a interpretação e compreensão da mensagem.

A interpretação pode ser um enorme obstáculo à comunicação. Podemos interpretar algo de forma diferente de quem o emitiu, assim como podemos ser interpretados de uma forma indesejada. O preconceito, por exemplo, funciona como ruído neste processo. As atitudes e reacções, aparentemente iguais, podem ser lidas de modo transversal, dependendo das circunstâncias e das pessoas envolvidas. Quantos mais receptores existirem, maior será a diferença notada. É necessário estabelecer regras, reunindo-se assim o mínimo de condições para que as pessoas se possam escutar e exprimir.

 

A comunicação deve ter como principio a aceitação do outro enquanto ser distinto e diferente, permitindo-nos colocar no seu lugar ao longo do processo. E, mesmo assim, nunca apreenderemos a totalidade da intenção e expressão do outro, uma vez que qualquer palavra ou acto dependerá de uma interpretação. Nossa ou de outra pessoa.

 

Isabel Ferreira e Alexandra Vaz

 

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12.6.09


 



Utiliza-se frequentemente o dicionário para decifrar o significado de uma palavra. Cada palavra poderá ter vários significados, dependendo de como e de onde aparece.

Existem os substantivos, os adjectivos, os verbos, ao dispor de cada um para proporcionar o entendimento e a compreensão possíveis.

Mas é com dificuldade que algumas palavras são explicadas através de outras palavras, em especial quando estas estão vazias de vivências, de desejos concretizados, de sonhos desfeitos, de risos espontâneos, de choros compulsivos.

As palavras serão úteis quando, de uma forma universal, assumem o formato das nossas intenções; são traiçoeiras quando, empregues aleatoriamente, apenas têm o intuito de nada transmitir.

As palavras, como chaves, têm o poder activar em nós sentimentos. Há palavras que nos fazem explodir de alegria; outras há que nos corroem de raiva. Há palavras que nos tranquilizam, que nos dão segurança; outras há que nos inquietam, que nos levam à loucura. Por palavras conseguimos expressar os nossos sentimentos, as nossas emoções, as nossas necessidades e desejos.

 

Para uns, ser bonito quer dizer ser possuidor de uma beleza imaculada, partilhada com os anjos celestiais; para outros, ser bonito é ser possuidor dum interior sem tradução ou equivalência em adjectivos.

Ser egoísta é uma característica que se adquiriu para facilitar a sobrevivência, podem entender uns, enquanto para os restantes ser egoísta é agir de acordo a satisfazer as suas próprias necessidades, dando-lhes prioridade em relação às dos demais.

Para uns tantos e sem grande ponderação, desilusão significa o resultado de uma ilusão sem fundamento; porém, haverá pessoas para quem a desilusão significa dor por ter acreditado na beleza de alguém.

Como resposta à procura dum sinónimo da palavra “amor”, muitos utilizarão um vasto leque de outras palavras, fazendo assim uma pequena lista de vocábulos semelhantes; outros… outros nem sabem o que é um sinónimo, mas poderão descrever o amor de tal forma que o entendimento irá para lá da compreensão racional.

Assiste-se com leviandade à utilização de palavras com significados tão poderosos que poderão criar as maiores expectativas ou conduzir às maiores desilusões.

 

Tantas palavras constituem já este texto e, como o fio dum novelo, umas vão-se enrolando nas outras e, como um puzzle, umas vão-se encaixando nas outras.

 

Susana Cabral

 
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8.6.09


 


Toda a nossa vivência gravita em tons comunicacionais. Qualquer que seja a sua forma, deveria permitir-nos encontrar um mundo de possibilidades. Desde o relacionamento com o nosso mais íntimo fio condutor, até ao contacto mais complexo com o outro. Essa dualidade de comunicação (com o próprio e com os outros) deveria funcionar em sintonia. Mas por vezes assim não o é. Por vezes não comunicamos eficazmente connosco, ou fazemo-lo de forma enganosa caindo no sofrimento psíquico do não encontro e não reconhecimento de nós próprios.

O mesmo se passa quando comunicamos com os outros. Não numa dimensão interna, claro, mas o tecido do que nos constitui como significantes para os outros é sempre toldado pelo que exprimimos. Todos nós somos vítimas do que falamos, do que vestimos, de como nos mexemos, das escolhas que fazemos e de todos aqueles aparentes nadas que nos fazem comunicar. Para a pessoa com atraso mental comunicar é tão fundamental como para qualquer outra. É o veículo primário da sua identidade, dos seus desejos e necessidades. Contudo, ao contrário do que sucede com uma pessoa sem atraso mental, a expressão destas necessidades reveste-se de um carácter de dependência de terceiros muito mais relevante, conforme o seu grau.

 

De relembrar aqui que hoje em dia para se intervir com esta população, a ênfase do diagnóstico incide não no seu QI mas sim na extensão dos apoios que a pessoa necessita. Assim, uma pessoa com menor necessidade de apoios terá menor necessidade de os comunicar, enquanto o inverso também é directamente proporcional. E aqui reside um problema: geralmente, as pessoas com as maiores necessidades de apoio, são também as que apresentam os maiores deficits comunicacionais. Como então quebrar esta barreira? Nas situações em que a pessoa não possui linguagem verbal temos hoje em dia um conjunto de técnicas de comunicação alternativa e aumentativa, cada uma adaptada a cada caso específico. Estas técnicas podem revestir-se da maior simplicidade, como um conjunto de símbolos / pictogramas ordenados numa capa, ou de forma mais complexa como um software informático aplicado num PDA. Claro que a eficácia de utilização destas ferramentas depende sempre da vontade da pessoa com limitações comunicacionais.

 

Contudo, muitas vezes a comunicação não é eficaz apenas pela falta de meios ou de motivação da pessoa com atraso mental. Toda a gente reconhece que a comunicação é bilateral. Assim, o foco da incomunicação pode não depender de um interlocutor (pessoa com atraso mental) mas sim do seu suposto receptor. E aqui torna-se angustiante a sensação de impotência que consome alguém que quer ser ouvido, em primeiro lugar, e mais importante ainda, ser entendido. O que encontro no meu dia-a-dia enquanto técnico numa instituição de apoio a esta população é um mundo de escuta mas não de entendimento. Nós, cuidadores, muitas vezes caímos no erro inconsciente de atender apenas às necessidades que nos são evidentes, tais como uma muda de fraldas, um copo de água, uma folha de papel, etc.. Tal facto, embora sendo um gesto técnico correcto, inibe talvez o que de mais importante poderia acontecer entre dois indivíduos: a compreensão mútua, através de qualquer meio disponível, do que constitui cada um de nós como indivíduos únicos e diferenciados. Não existem fórmulas para tal. A minha sugestão é a seguinte: comuniquem com todas as pessoas de forma igual. Não em relação ao conteúdo, formulação, extensão, etc., mas sim empregando em cada “conversa” toda a vossa dedicação e empenho para que sejam compreendidos, aceites e reconhecidos e através deste gesto compreenderem, aceitarem e reconhecerem o outro… como únicos, mas iguais.

 

Rui Duarte

(psicólogo, convidado do MiL RAZõES...)

 
Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 22:39  Ver comentários (1) Comentar

4.6.09

 


 


Miticamente, a música nasceu com o apoio das musas, nas cordas da harpa de Apolo.

Para Pitágoras, a música foi forjada numa ferraria: os sons arrancados aos martelos de diferentes pesos terão, segundo o filósofo, formado a primeira escala. Há quem defenda que a música existiu sempre, sendo sempre, desde que existe o ar para propagar o som emitido. Penso que é impossível datar o seu aparecimento e origem, mas tenho como certo que a história da música está ligada à história do Homem. O Homem, andando, tocando alguns objectos descobriu que produzia sons que, mais ou menos intensos, mais ou menos agudos ou graves, podiam ser agradáveis. Descobria a sonoridade e nunca mais se separaria dela. E usa-a!

 

Em tempos idos, as declarações de guerra entre grupos, tribos ou povos, eram feitas com cantos acompanhados de expressivas manifestações corporais: pinturas e danças.

Hoje, através da música elevam-se sentimentos de amor à pátria. Todos os países e cada um por si têm o seu Hino Nacional.

 

A linguagem musical tem sido, por eleição principalmente dos mais jovens, um meio de contestar, de enaltecer, de afirmar atitudes, comportamentos e modos de vida.

A geração de 60 marcou um período na História com o movimento hippy: em grupos, desprendidos de bens materiais, com formas de vida simples mas sempre acompanhados de uma guitarra, tocavam e cantavam a paz e o amor.

Sendo expressivo, esse movimento está longe de ser o único: os negros jamaicanos inventaram o Reggae para denunciar uma sociedade de desigualdades e preconceitos; os textos melodiosamente ditos são a forma encontrada pelos rappers para contestarem o sistema; os clássicos encurtaram a distância entre o homem e os anjos celestiais.

 

A música é a expressão máxima da cultura dos povos; através dela chegam-nos tradições, sentimentos e regras. Cada um assimila e vive a música de acordo com a sua sensibilidade e identidade. Pode não se gostar do Fado mas qualquer português, em qualquer parte do mundo, identifica-o e enquadra-o numa determinada realidade - a nossa realidade. O mesmo fenómeno verifica-se com os africanos e as suas Mornas, quentes e dengosas, a sussurrar saudades, com os cowboys americanos galgando pradarias ao som do country, com os andinos vencendo montanhas com a ajuda da flauta.

 

O efeito da música é tão potente que se recorre a ela como forma de terapia. No filme Laranja Mecânica, do genial Kubrick, Alex só encontrava alguma paz quando ouvia música de Beethoven, por isso, quando uma das suas vítimas cola imagens de violência à música para o torturar, ele não aguenta e atira-se de uma janela.

Especialistas incentivam as mulheres grávidas a cantar para os seus bebés, como forma de comunicar com eles e baixar a ansiedade das futuras mães.

Estudos recentes revelam que os bebés prematuros melhoram o seu desenvolvimento com recurso à música. Também através da música, o ritmo alucinante das crianças pode ser controlado.

 

A música permite também comunicar connosco mesmos. As melodias recordam-nos experiências passadas, lembram-nos pessoas e trazem-nos aromas que marcaram fases da nossa vida. Se nos deixamos invadir e nos abandonamos, iniciamos viagens interiores que tanto podem terminar numa ténue recordação de tempos distantes, como num sonho fascinante.

 

Cidália Carvalho

 
Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 22:19  Ver comentários (3) Comentar

2.6.09


 

De uma forma anormal e sem que o despertador tivesse sequer a possibilidade de dar os bons dias, vejo a minha filha a levantar-se rapidamente e vestir a roupa que cuidadosamente escolheu na noite anterior. Pena que esta, e para a sua infelicidade, já não lhe sirva há muitos verões. Hoje é o seu dia, o Dia Mundial da Criança, e tinha de estar a preceito. Foi com alguma dificuldade que a vi a reescolher e remexer as gavetas à procura daquele conjunto, ou daquele vestido que estivesse à altura do dia.

No caminho para a escola, o rádio anuncia, pela milésima vez, que hoje é o grande e esperado dia. Solta semelhante grito que quase me faz bater no carro da frente, simplesmente para anunciar, também pela milésima vez: “Vês mamã, hoje é o Dia Mundial da Criança… e sabes o que isso significa?!!!” Referia-se obviamente à prenda que terei de lhe dar por ela ser criança. Uma boneca para ela e um carrinho para ele!!! E pronto, ficará assim celebrado o dia.

Mas será que fica mesmo? Pelo menos, para as minhas crianças fica; são sem dúvida, no meu ponto de vista, umas felizardas na sociedade e no mundo actual.

 

O Dia Mundial da Criança… parece irónico ter de haver um dia em que o Mundo inteiro celebra e se recorda das crianças, dos seus direitos… os direitos que nunca, mas nunca, deveriam ter de ser relembrados.

Festejamos um dia em que enchemos as crianças de atenções, de guloseimas e por um dia (talvez) deixamos a nossas crianças ser aquilo que elas de facto são: crianças travessas e barulhentas. Por um dia não lhes é incutido o ritmo desenfreado que cada vez mais lhes exigimos: o de ter de ir para a escola, para as aulas de inglês, ter de complementar a informática, frequentar a natação dia sim, dia não... e esquecer, por mais um dia, a brincadeira.

Queremos que as nossas crianças sejam as melhores e as mais bem preparadas para enfrentarem as adversidades da vida. E o nosso querer sobrepõe-se às suas inocentes vontades. Fechamos as nossas crianças em redomas “esterilizadas”, em teorias psicológicas e supervisionamos tudo com muito cuidado. Pena que acabemos por esquecer o fundamental: deixar as crianças serem crianças, sujarem-se, caírem, enfurecerem-nos por deixar a casa cheia de bolinhas reprodutoras, por gostarem e quererem berrar por tudo e por nada.

Se queremos celebrar o Dia Mundial da Criança, devemo-lo fazer diariamente, tendo sempre em atenção o que é uma criança e nunca esquecer do que elas realmente precisam.

 

Susana Cabral

 
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Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 20:53  Ver comentários (1) Comentar

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