O suicídio ocorre, com maior frequência, à noite?
O suicídio é muitas vezes uma solução patológica para um angustiante problema que a pessoa considera intransponível.
Sabemos que ao risco de suicídio estão frequentemente associadas múltiplas doenças psíquicas ou psiquiátricas. Cerca de 15% dos que o cometem sofrem de depressão, em que a desmotivação de vida é insuportável e torna-se imbatível o não querer viver. A pessoa perdeu toda a capacidade energética e a vida não tem o mínimo sentido ou interesse. Sente-se sempre e invariavelmente, desesperadamente incompreendida e só, mesmo rodeada de gente, desfasada e desencontrada de si mesma, inadaptada e profundamente frustrada e desiludida. “Uma vida sem vida”, dizia alguém.
É este estado de espírito que pode levar ao refúgio e à procura da escuridão da noite, para se identificar com o seu sentimento mais profundo. Por outro lado, pode perturbar os que têm dificuldade em gerir esses momentos frios, sós e escuros. A noite pode ser também facilitadora face à vergonha que a sociedade ainda impõe a quem tem este tipo de pensamentos.
Sabe-se que a temperatura ambiente afecta o conforto e, portanto, o estado psíquico do Homem – o humor e o comportamento – condicionando um vasto conjunto de acções mecânicas sobre as funções cerebrais. Do mesmo modo as diferenças de duração do dia e da noite contribuem também para afectar o bem-estar psíquico dos indivíduos.
Não poderemos, apesar disso, estabelecer uma relação entre o acto suicida e o momento do dia, por não encontrarmos estudos que o fundamentem. Reparamos, contudo, que não raras vezes as noticias destes acontecimentos referem a noite como tendo sido o momento em que esse acto foi pensado, planeado e nalgumas vezes cometido.
Na verificação dos dados de uma consulta da especialidade, verificou-se que as “tentativas de suicídio são um fenómeno predominantemente da tarde e da noite, em acto impulsivo em casa, após discussão no contexto de um conflito pré-existente, mais frequentemente com o parceiro”.
Porém, tem-se verificado que, apesar de todas as condicionantes de risco, de ordem pessoal, psicológica, psicopatológica e social, se a pessoa encontrar alguém com quem tenha oportunidade de falar (por exemplo: um serviço de apoio emocional como os apresentados na coluna direita deste blog), num gritante desabafo dum sufoco insustentável, que o escute, compreenda e a ajude a ver a sua própria vida com carinho é, por vezes, suficiente para evitar o acto.
Ana Santos