7.7.09


 


Os afectos nascem de experiências de relacionamento com pessoas, na sua maioria, mas também com animais, lugares ou mesmo com algo menos corpóreo, idealizado. Estes relacionamentos trabalhados no sentido de os reforçar criam elos de ligação, aproximam-nos e deixamos que se aproximem de nós. Deixamo-nos afectar.

 

As emoções são reacções a factos ou acontecimentos, presentes ou futuros. São estados que nos alteram por curtíssimos períodos de tempo. Não nos mantemos permanentemente num estado de espanto ou medo, de alegria ou ódio.

As emoções lêem-se nas alterações fisiológicas. Os músculos faciais, a expressão do olhar, os movimentos corporais, traduzem emoções de fácil leitura para todos nós. Percebemos o desprezo, o espanto, o medo, a alegria, o tédio, com tanta facilidade que rapidamente nos condicionamos. Influenciam e determinam formas de relacionamentos que, desejavelmente serão bons relacionamentos, mas poderão ter na origem emoções negativas tais como: o ódio, a inveja, o despeito, entre outros.

 

Os sentimentos não são consequências imediatas de experiências vividas ou de reacções a acontecimentos, eles estão em nós, andam connosco, deitam-se e levantam-se connosco. Estão e são o nosso íntimo, caracterizam-nos.

 

Por defesa, julgamentos, vergonha, ou outras razões que, por pouco que se percebam, condicionam o comportamento do ser humano. Trava-se o ímpeto de viver experiências, relacionamentos ou sentimentos, ficando a essência humana escondida e a salvo, numa capa de aparente indiferença.

Os homens não choravam em público porque o senso comum ditava que, homem que é homem não chora. Assumimos os nossos sentimentos mas ressalvamos que não somos lamechas, como se ficássemos diminuídos por declararmos os sentimentos.

 

Contava-nos há dias a escritora Alice Vieira que a neta lhe explicou que, LOL significa rir. Rir mesmo, dá muito trabalho, então inventou-se uma onomatopeia e um smile que simbolize o riso.

O choro também tem representação, o deleite e todas as outras emoções também têm a sua expressão simbolizada.

Não precisamos portanto, de ter trabalho a vivê-las, basta que alguma coisa as represente.

Presumo que o rir muito sejam muitos lol, qualquer coisa como: lolololololololololololol, e que a gargalhada seja: LOLOLOLOLOLOLOLOL.

 

Mas porque à nossa natureza não devemos fugir e devemos dar-lhe a importância que ela tem - e é muita, os inventores inventaram mais: estenderam os sinais representativos de emoções às máquinas.

Nas últimas décadas os EUA têm trabalhado na robótica para conseguir dotar os robots de expressões, que se assemelhem a expressões humanas. Recentemente o Japão anunciou ao mundo a criação do Kobian, robot que consegue simular sete estados de alma.

O deleite, a tristeza, a surpresa e o desgosto, são quatro dessas emoções que finge ter e o projecto do Kobian continua a desenvolver-se com o objectivo de ser integrado no campo da enfermagem, para interagir com os pacientes.

Se, por um lado, o ser humano parece caminhar para um mundo inexpressivo, “coisificado”, o mesmo ser humano desenvolve a tecnologia, tentando dotar máquinas de características que são, legados naturais do Homem.

Espero que esta caminhada se interrompa antes que uns, os primitivos sentimentais esbracejem a tentar sobreviver no meio dos outros, os desprovidos de sentimentos com que Aldous Huxley nos surpreendeu no “Admirável Mundo Novo”.

 

Cidália Carvalho

 
Link deste ArtigoPor Mil Razões..., às 09:03  Comentar

De Aníbal V a 23 de Julho de 2009 às 09:20
Muito interessante esta reflexão sobre o Homem e mais um dos seus muitos paradoxos.
Passamos a vida às voltas, ou em investimentos contraditórios - sinal de desnorte, manifestação de quem anda perdido?
O Homem moderno, essencialmente urbano, gasta boa parte da sua energia a esconder, a disfarçar, a apagar os seus sentimentos, quantas vezes por trás de pesadíssimas máscaras.
Por outro lado, o Homem não pára de querer imitar Deus e criar algum novo "ser" à sua imagem e semelhança, sentimentos e emoções incluídas.
Pelo menos revela a consciência de que são os sentimentos e as emoções que o distinguem. Pena que não saiba bem o que fazer com esses atributos únicos.
Obrigado Cidália por trazer este tema para nossa reflexão.

Pesquisar
 
Destaque

 

Porque às vezes é bom falar.

Equipa

> Alexandra Vaz

> Cidália Carvalho

> Ermelinda Macedo

> Fernando Couto

> Inês Ramos

> Jorge Saraiva

> José Azevedo

> Maria João Enes

> Marisa Fernandes

> Rui Duarte

> Sara Silva

> Sónia Abrantes

> Teresa Teixeira

Julho 2009
D
S
T
Q
Q
S
S

1
2
3
4

5
6
7
8
9
10
11

13
15
16
18

19
20
22
23
25

26
27
29
30


Arquivo
2019:

 J F M A M J J A S O N D


2018:

 J F M A M J J A S O N D


2017:

 J F M A M J J A S O N D


2016:

 J F M A M J J A S O N D


2015:

 J F M A M J J A S O N D


2014:

 J F M A M J J A S O N D


2013:

 J F M A M J J A S O N D


2012:

 J F M A M J J A S O N D


2011:

 J F M A M J J A S O N D


2010:

 J F M A M J J A S O N D


2009:

 J F M A M J J A S O N D


2008:

 J F M A M J J A S O N D


Comentários recentes
Entendi a exposição, conforme foi abordada mas, cr...
Muito obrigada por ter respondido ao meu comentári...
Obrigado Teresa por me ler e muito obrigado por se...
Apesar de compreender o seu ponto de vista, como p...
Muito agradecemos o seu comentário e as suas propo...
Presenças
Ligações